Intuição - Enxergar nas Entrelinhas

Por: Ariana Pereira - arianapereira@gmail.com

Matéria publicada na Revista Bem-Estar, numero 162 - Abril de 2010.

A intuição é uma ferramenta a mais de auxílio na hora de tomar decisões, sejam elas importantes ou corriqueiras . Há os que a possuem mais desenvolvida e outros que pouco sentem a influência dessa ajuda. Mesmo

porque a existência ou não deste “sentido” é discutida nos mais variados campos: do meio acadêmico aos espirituais.

Escritor e espiritualista, Ricardo Chioro afirma que, apesar de estar relacionada ao esoterismo, à ioga e outras filosofias, a intuição não se limita ao campo espiritual e religioso. Aliada ao raciocínio e à reflexão, a intuição pode levar ao autoconhecimento.

“A intuição é importante e útil. Ela ajuda no nosso autoconhecimento, pode nos tranquilizar quando achamos que algo de ruim aconteceu e se trata de um medo infundado, pode nos levar a dar conselhos corretos e bons, direcionar em caminhos melhores na vida, fugir de perigos e de algo que não vai dar certo, entre outros”, enumera Chioro.

Ainda que diversas situações cotidianas precisem ser pensadas, contar apenas com o raciocínio pode levar ao engano. Bem como a intuição pura não é infalível. Quando a voz interior fala mais alto, no entanto, é aconselhável que não seja ignorada. Isso porque, de acordo com o espiritualista, o sentimento vem da essência do ser humano e está conectado ao universo. “O problema é saber acessar a intuição pelo sentimento, sem nos enganar pelo que é conveniente ou pelo que fomos educados a acreditar, o que poderia provocar falsas emoções. Um exemplo é o caso de alguém que é muito gentil e amável e você acha que se trata de uma boa pessoa, quando na verdade ela pode ter feito isso por interesse”, alerta.

Alguns sinais físicos, pequenos detalhes no rosto ou postura do outro podem ser identificados e mandar sinais para o cérebro alertando sobre intenções não tão claras ou, ao contrário, mostrar a boa conduta dessa pessoa. Por isso, fica muito difícil diferenciar a verdadeira intuição do mero preconceito. Para tanto, o espiritualista Ricardo Chioro assegura que quanto mais sentimental for a pessoa, mais estará sensível aos sinais emitidos pelo próximo. Por outro lado, quanto mais mental, mais facilmente se deixará enganar simplesmente pelo preconceito. “De acordo com Jung, na sua teoria de tipos psicológicos, ou a pessoa é sentimento ou ela é mental, os dois são dois tipos opostos. O sentimento é espiritualidade e o mental é materialidade.”

O gestalt terapeuta Hugo Ramón Barbosa Oddone acredita que todas as

pessoas são dotadas de intuição e deveriam confiar mais dela no cotidiano.

Em entrevista à revista Bem-Estar, o terapeuta aborda aspectos relativos à intuição humana que podem ser positivos se bem conhecidos e aplicados.

 

Bem-Estar - A intuição em relação às pessoas e aos sentimentos realmente existe?

Hugo Ramón Barbosa Oddone – A intuição é uma coisa mágica, é algo relacionado a comportamentos determinados pelo cérebro direito. Intuição é a resultante de todas as experiências de vida da pessoa, tem a ver com a singularidade dela, a capacidade que a pessoa tem de viver intensamente todos os sistemas da sua vida, a cada momento. É valorizar essa singularidade. Valorizando esta singularidade, saber-se única e especial, desenvolve-se uma espécie de magnetismo, um carisma especial que atrai pessoas e, ao mesmo tempo, um tipo de sabedoria que não precisa de demonstrações. Intuição é isso, é saber que se sabe, e pronto! Intuir é ter fé. Fé na essencialidade, na comunhão espiritual universal. Somos todos feitos da

mesma essência. Viver essa fé cotidianamente, acreditando nos pequenos e grandes mistérios da vida, é assim que se desenvolve a intuição.

 

Bem-Estar  - Qual é a  importância desse sexto sentido para a vida humana?

Oddone - Em geral, no nosso dia a dia, todos precisaríamos confiar mais no sexto sentido. Para tomar decisões na vida, é sempre muito bom conhecer bastante sobre a questão. Para quem confia na intuição, essa questão torna-se relativa. E para acreditar na relevância da intuição na vida das pessoas, precisamos entender que existe algo a mais entre o céu e a terra do que o simples conhecimento. A intuição é um saber que transcende o aspecto cognitivo da realidade. E isso é algo com o qual não estamos acostumados. Nosso dia a dia está sempre muito marcado pela correria, pelo imediatismo e pela superficialidade. Por meio da intuição, pode-se recuperar a verdadeira visão, que é muito maior e mais profunda do que estamos acostumados a enxergar. É uma visão que está amarrada ao todo e ao universo. Se aceitássemos essa verdade e vivêssemos uma vida pautada pela intuição, seríamos imensamente mais seguros, mais leais à vida, mais felizes. Feliz ou infelizmente, existem os Tomés da vida, que fecham seus olhos à prova clara da intuição, exigindo “tocar” ou contatar para acreditar. Essas pessoas acabam

fazendo com que desenvolvamos comportamentos mais racionais e  explicativos e menos intuitivos, chegando às vezes a desacreditar das nossas intuições - com o consequente arrependimento posterior.

 

Bem-Estar - Há  situações em que a intuição funciona mais do que a razão?

Oddone - Existem inúmeras situações em que a razão já não oferece a certeza que costuma tranquilizar nossos relacionamentos. Nessas horas, ou você fica em confusão total ou então se refugia num tipo de autismo. Ambos  comportamentos de fuga de uma realidade adversa. A atitude saudável parece ser permitir-se confiar na intuição. Nestes casos, a intuição devolve esperança, a luz no fim do túnel, a saída certa, a transcendência necessária para crescer,

muitas vezes abandonando lugares aos quais estávamos nos acomodando, embora a vida nos cobrasse outros caminhos e novos desafios.

 

Bem-Estar - Qual a diferença entre intuição e previsão? E quais as semelhanças?

Oddone - Previsão é ser a mesma pessoa e agir conforme um determinado padrão, cujo formato foi congelado. Intuir é algo que sempre está sendo mudado, é reconhecer-se novo e velho ao mesmo tempo, pois só a experiência permite a intuição. A única semelhança que pode levar a confusões desastrosas é que ambos iluminam o caminho do futuro, imediato ou mediato.

 

Bem-Estar - O cérebro pode detectar sinais na postura ou tom de voz que denunciam o outro, fazendo com que ocorra uma antipatia natural?

Oddone - Infelizmente, pode acontecer essa confusão. Porque a visão restrita

que duas pessoas têm de si mesmas pode levar também a enganos. Na verdade, o que acontece é que temos terminações nervosas que detectam uma série de comportamentos que nunca teremos condições de decifrar totalmente. Nesse sentido, estamos no território da intuição e navegar é preciso.

 

Bem-Estar - Como identificar o que é intuição e o que é mero preconceito?

Oddone - Não tem como saber. É preciso vivenciar a intuição para confirmar sua força, seu poder de conferência. O preconceito não resiste a uma boa informação.