Pecado, do grego hamartia, é um verbo que significa errar o alvo. Isso não
significa meramente um erro intelectual de juízo, mas não conseguir atingir
o objetivo existencial. Os sete pecados capitais, teologicamente são
advindos da perspectiva do cristianismo, ou seja, é a expressão da perda do
destino ou do sentido existencial, comprometido com um processo evolutivo,
na busca de realização da alma, que pode ser entendida como salvação e cura
de todos os males. Com isso, ao pensarmos nos sete pecados capitais:
avareza, gula, inveja, ira, luxúria, orgulho e preguiça, chegaremos à
conclusão de que todos esses sete pecados desviam os indivíduos das trocas e
da verdadeira felicidade.
Os sete pecados capitais nos dão um tipo de classificação dos vícios que
eram abominados na época dos primeiros ensinamentos do cristianismo e que
atualmente, por conta do capitalismo avançado, estão cada vez mais presentes
no cotidiano da humanidade. O intuito dos antigos cristãos era educar e
proteger seus seguidores, no sentido de ajudar os crentes na compreensão e
auto-controle das suas pulsões e instintos básicos. É importante ressaltar
que não existe registro oficial dos sete pecados capitais na bíblia, apesar
de estarem presentes na tradição oral do cristianismo. Para mim, devemos
entendê-los como doenças biopsicossociais com repercussões em todos os
níveis e quadrantes da vida. Neste contexto é que surgem os estudos de
psicossomática e dos comportamentos sociopáticos e psicopáticos.
Então, cada pecado representa
uma tendência equivocada que um fiel poderia ter diante do medo, da angústia
e das incertezas da vida. (Essa questão está bem aprofundada no meu livro:
“Dinheiro, Saúde e Sagrado”). Assim como, os vícios, as dependências os
abusos e as compulsões também abrangem os sete pecados, muito estudados no
curso de especialização intitulado: “Dependências, Abusos e Compulsões”
ministrado na FACIS.
Como vida é expressão de trocas e relações entre as demandas instintivas,
psíquicas, sociais e espirituais, somos constantemente mobilizados por
necessidades, desejos e demandas de todo tipo e forma. Por outro lado
carregamos uma bagagem genética, racial, familiar, cultural e transcendental
que também nos influencia provocando mais desconforto, angústia e
incertezas quanto ao nosso destino e significado existencial. Com isso,
heroicamente, os seres humanos precisam fazer suas jornadas caminhando entre
necessidades, destinos, livre arbítrio e limitações pessoais e coletivas
que, de acordo com a situação, podem desembocar em pecados ou virtudes. Pois
ambos estão potencialmente presentes nas atitudes humanas. Além de serem tão
relativos quanto os conceitos de bem, mal, certo e errado.
Todas as pessoas possuem, em seus dinamismos psíquicos, tendências de
atuação em todos esses sete pecados. Principalmente na atualidade onde
vivemos numa sociedade que está brutalizando as dimensões anímicas e
espirituais dos seres humanos. Basta observarmos o comportamento da maioria
das pessoas que vão ao Shopping para comprar o que não precisam, com o
dinheiro que ainda não possuem, para impressionar quem não conhecem! Essa
atitude, além de estar na contra mão das questões ambientais e de
auto-sustentabilidade, tem conotações de inveja, luxúria, avareza e vaidade.
Só o autoconhecimento poderá fazer com que essas tendências sombrias fiquem
menos autônomas e que as virtudes possam entrar em equilíbrio harmonioso com
os pecados. Pois, no íntimo de cada ser humano tanto as virtudes quanto os
pecados estão potencialmente presentes. Tudo é uma questão de consciência e
autoconhecimento.
Atualmente, o capitalismo, e sua pior prática que é a do lobismo, estimulam
a avareza, a gula, não só de alimentos, mas de conhecimento, informações,
acúmulo, entre outras atitudes que possam dar a ilusão do poder. Além disso,
o desperdício, a luxúria do luxo e vaidade estão muito presentes também.
Basta refletirmos que estamos vivendo em uma sociedade onde 30% da população
mundial é subnutrida e outros 30% é obesa! Qual a lógica disso?
A questão da vergonha e da culpa é muito pessoal e dependerá da formação
ética e espiritual de cada indivíduo, do momento de vida em que ele se
encontra. Então, não podemos criar uma classificação entre os sete pecados.
Creio que eles se interpenetram e a prática de um acaba, direta ou
indiretamente, desembocando na prática dos outros. Dependendo das condições
de vida, dos medos, da angústia e das dificuldades do dia a dia, a prática
de um pode ficar mais facilitada do que a prática de outros pecados.
Por meio do autoconhecimento, de contínuas reflexões sobre o sentido, o
significado da vida, e a compreensão dos desejos, pulsões e atitudes que
estão nos motivando é que poderemos harmonizar os pecados com as virtudes.
Por isso, o melhor modo de não sermos dominados pelos pecados é não
perdermos o alvo, a meta existencial que deveria ser o sacro-ofício de
servir ao invés de apenas servir-se da natureza e da vida. E como todos os
seres humanos possuem tanto os pecados quanto as virtudes, devemos ter
tolerância com quem está sendo possuído por eles e criar condições para
despertar as virtudes, em nós e nos outros. À medida em as pessoas se tornam
menos egoístas e mais amorosas, naturalmente as virtudes vão surgindo no
lugar dos pecados. É isso o que Jung propõe com integração da sombra. É por
essa mesma razão que Jesus, na passagem com a prostituta diz: “quem nunca
errou que atire a primeira pedra”, e nem Ele atirou!
Pecados x Virtudes
Orgulho, Arrogância X Respeito, Modéstia, Humildade;
Inveja x Caridade, Honestidade;
Ira x Paciência, Serenidade;
Preguiça, Melancolia x Diligência;
Avareza, Ganância x Compaixão, Generosidade, Desprendimento;
Gula x Temperança, Moderação;
Luxúria x Simplicidade, Amor
WALDEMAR MAGALDI FILHO (wmagaldi@gmail.com) é psicólogo,
especialista em Psicologia Junguiana, Psicossomática e Homeopatia. Autor do
livro: “DINHEIRO, SAÚDE E SAGRADO – interfaces culturais, econômicas e
religiosas à luz da psicologia analítica”. Mestre e doutor em Ciências da
Religião, que atuou tanto no meio corporativo de empresas multinacionais
quanto no comércio varejista. Atualmente, atende clientes em seu
consultório, apresenta palestras em empresas, coordena e ministra aulas nos
cursos de Psicologia Junguiana; Psicossomática e Dependências, Abusos e
compulsões da FACIS - Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo.