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Ciúme
e Desconfiança sob o Ponto de Vista Psicológico
Por: Luís Vasconcellos
O “Inseguro/desconfiado” e suas
projeções negativas sobre o Outro
É fundamental notar que a desconfiança
esteja sempre à procura de um motivo real onde se instalar e, de fato, nem
precisa ser tão real assim: basta ser plausível e pronto! Ela se
instala!!!
Muito me tem sido perguntado quanto a esta “contaminação nociva” tão comum
nos relacionamentos.
Primeiro, se faz imperativo ressaltar que, esta “fantasia de segurança”
que DEPENDE do outro para se tornar efetiva, não é segurança real, pois
depende do Outro para existir.
De fato, em realidade, para o “desconfiado/inseguro” típico, não importa o
que o Outro faça para evita-la, pois a Insegurança estará sempre presente,
à espera de um motivo, já que ela não depende de um motivo real, pois
emana do EU.
Vice-versa, poderíamos dizer que a “Confiança” e a “Segurança” são
qualidades energéticas, ou seja, são algo que a gente ENTREGA, pois emana
do EU para os Outros, ou então não existe, de modo algum.
É necessário ressaltar o aspecto “radiante” ou “energético” da confiança,
do amor e da fé. Trata-se de um fenômeno energético, que tem a direção do
EU para fora do EU e é projetada sobre o mundo e os outros. Aquele estado,
comumente também chamado de “confiança” e que depende do Outro (ou do que
o Outro faça!) para existir ou para se manter, em verdade, não merece este
nome, pois não é confiança coisa nenhuma.
Se eu confio, não vigio, se confio não me faço um “negociante” da
confiança ou da desconfiança do outro, não me torno um GUARDA restritivo e
muito zeloso de suas “posses adquiridas”, não me torno um “segurança”,
sempre pronto a cercar e garantir, sempre pronto a proibir e a cercear a
liberdade do outro.
Se EU, em nome de minha Insegurança exijo “provas” diuturnas de que o
Outro nada tenha feito para merece-la, então, de fato, de dentro de minha
Insegurança, o Outro é CULPADO, a menos que PROVE O CONTRÁRIO, pois a
realidade única que eu permito é a da minha DESCONFIANÇA e o Outro, na
verdade, não é levado em conta, e sim, desconsiderado e desrespeitado em
sua Individualidade, poder de escolha e liberdade. Aí está a raiz
psicológica da Democracia aplicada ao campo dos relacionamentos
interpessoais.
Para o “Inseguro e Desconfiado”, o Outro, de fato, nem existe como
dimensão psicológica. Ainda que sua existência física e sua presença não
possam ser negadas, para o “desconfiado/inseguro” a percepção psicológica
da existência real do Outro ainda não aconteceu, pois a partir de sua
imaturidade ele(a) não se relaciona com o Outro e, sim, com o espelho de
si mesmo, através de julgamentos, explicações convenientes, condenações,
preconceitos, pré-julgamentos de todo tipo, assunções de valor moral e,
principalmente, uma imensidão de “carimbos moralistas sobre a testa
alheia” com conotações negativas:
Você me trai! Você não é confiável! ......... E assim por diante..........
É particularmente revoltante conferir que o “desconfiado/inseguro” (homem
ou mulher) não se altera mesmo diante dos mais infundados motivos. O fato
é que ele(a) é insensível ao Outro. O fato é que ele(a) não vê na
realidade nada além do que ele mesmo cria, nada além daquilo que ele, de
forma doentia, quer ver no Outro (sempre o pior, sempre o mais negro,
sempre o mais terrível).
Ele só vê no outro o espelho de seu íntimo, nada mais, pois nunca tem a
visão real da outra pessoa já que sua guerra é com os seus sentimentos
negativos e com a projeção indiscriminada e inconsciente destes
sentimentos sobre o Outro. Sua guerra é com a dependência estrita e
estreita que ele nutre, todos os dias, com relação a estes sentimentos
negativos e depressivos.
É como se ele(a) (“desconfiado/inseguro”) dissesse, o tempo todo, para o
Outro:
“Por favor, não me faça isso!!!! Não me traia!!! Não me abandone!!! Não me
rejeite, nem me passe pra trás!!! Eu sofreria tanto se isto me acontecesse
que acho que seria capaz de perder a cabeça e fazer uma loucura”!
Quando, de fato, já é uma loucura fazer o que faz, do jeito que faz...
Excetuando-se os casos em que o “desconfiado/inseguro” se depare com
alguém realmente indigno de confiança e traidor, todas as outras
possibilidades, que ele teve, de confiar, serão inapelavelmente
desperdiçadas, pois ele não pode se dar ao luxo de confiar: é correr
riscos demasiados... é “dar a arma pro bandido”!!! é demonstrar
ingenuidade!!!
Sua imaturidade e sua baixa auto-estima não se remediam em absoluto por
esforços de guardar e proteger possessivamente ao Outro; nem se apequena
diante de um companheiro(a) que não lhe dê motivos e que se esforce, sabe
Deus quanto, para não lhe causar este tipo específico de sofrimento.
Ele vive em uma fantasia negativa e suas projeções inconscientes sobre a
“Realidade” mascaram tanto o que ele vive que, não demora, ele pode já não
distinguir o “imaginado por ele” do real. Sua única chance é procurar
ajuda especializada para vencer seus muros de autodefesa e parar, então,
de atravancar sua vida de relação (especialmente a conjugal) com seu medo
da repetição de um passado possivelmente conflitivo e até traumático.
O testemunho do Outro vale muito pouco, nestas horas negras, pois a
desconfiança não permite entrega, não baixa a guarda e o temor engole, em
seus subterrâneos mais profundos, todo e qualquer sentimento positivo que
se podia nutrir na “cena de ciúme e traição” que o “desconfiado/inseguro”
constrói.
Ele se parece com um diretor de cinema que sempre vê o mesmo filme, a
mesma cena... e, de fato, não importa se ela é ou não real, pois, mesmo
que não o seja, ainda assim parece possível (e plausível) aos seus olhos
(tornados míopes pelos “filtros impiedosos de seus sentimentos
negativos”)...
O “desconfiado/inseguro” tem de reconhecer que está (por assim dizer)
”possuído” por sentimentos negativos e que, em função deste fato, vive
“dando voltinhas” sem abordar, de frente, a questão. Se ele(a) não é mais
capaz de exercer sua escolha ou sua liberdade nesta questão, justifica-se
a necessidade da ajuda especializada.
Uma coisa é certa: Ninguém sofre mais com o ciúme e a insegurança, do que
o próprio “ciumento/inseguro”. Trata-se de um grande desperdício de
energia e de vida!
Quem sofre tanto com este problema faria por bem ocupar-se mais (atentar)
para “aquilo” que ele(a) ENTREGA no relacionamento, e menos, com “aquilo”
que ele(a) RECEBE.
Há uma grande responsabilidade envolvida naquilo que ENTREGAMOS nas
relações com os Outro, pois existem “cargas letais” para um relacionamento
legítimo e o Ciúme e a Insegurança são, sem dúvida, dois tipos de
“influências” muito nocivas.
Assumir a responsabilidade pelo que “ENTREGAMOS” nos faz retomar o foco em
nós mesmos (e naquilo que emana do EU), assim como nos faz parar de
criticar tanto ao Outro, como se ele fosse o nosso “obstáculo de plantão”
na jornada/caminhada na direção da felicidade e da plenitude.
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