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O
que Faço com essa minha Timidez
Por: Sirley Santos M. Bittú
A definição de timidez mais conhecida é a que se refere ao tímido
como aquele que tem temor, receoso, acanhado, covarde. Pessoa que tem vergonha,
sensitiva, pessoa que com tudo se melindra ou de grande suscetibilidade, aquele
que facilmente se ofende. A definição de temor também é descrita em alguns
dicionários como ato ou efeito de temer – susto, sentimento de reverencia ou
respeito.
Prefiro dizer simplesmente, tímido é aquele que tem medo. Na infância o
comportamento em relação ao medo é explicado e entendido pela capacidade da
criança em discriminar fantasia de realidade. Ao passo que esta capacidade vai
sendo aprimorada em sua relação no mundo, o medo naturalmente vai se adaptando
ao que é esperado, ou seja, passa a ser um parâmetro de auto proteção.
As pessoas mais tímidas tendem a supervalorizar os possíveis riscos, assim o
novo e o desconhecido torna-se assustador. O tímido está sempre muito preocupado
em passar uma boa imagem para as pessoas, torna-se extremamente exigente consigo
mesmo, apresentando por isso mais dificuldade de se relacionar, paquerar,
namorar, expressar o que sente e o que pensa sobre as coisas.
A inibição geralmente é resultado do medo de falhar e com isso se sentir
ridículo e incapaz. A timidez está diretamente relacionada ao amplo sentimento
de competência. A nossa auto imagem é a percepção daquilo que acreditamos ser,
e, quando ela é negativa, encontramo-nos numa prisão interna que nos leva a
distorcer a realidade e por conseqüência nos retraímos.
O ser humano tem uma demanda de amor, necessita ser amado para se desenvolver,
precisa sentir-se visto, percebido e aceito. Existem muitos estudos que relatam,
que a falta de amor ou o desamor, principalmente nos primeiros anos de vida,
interferem no desenvolvimento e na maturidade emocional do ser humano. O nosso
sentimento de segurança e de auto confiança se configura ainda nesta fase,
através das vivências de afeto e de confirmação pelas quais passamos.
Costumo dizer que nós passamos por dois úteros, um físico e um psicológico.
Ambos nos geram para o mundo. O psicológico é formado por nossa matriz social,
ou seja por nossa família, pelas pessoas com quem nos relacionamos e com as
quais aprendemos e entendemos como devemos nos comportar. A educação é a via
desse processo. E através dela aprendemos quem somos, o que somos e como somos.
Nossa individualidade vai sendo lapidada pela visão de mundo de nossos pais,
suas crenças, seus mitos e suas verdades.
São desses entendimentos que se desenvolve nossa AUTO-ESTIMA. A auto-estima é o
resultado do afeto que aprendemos a dar a nós mesmos através do respeito e da
aceitação daquilo que pensamos, sentimos e somos. Através dela conquistamos
nossos espaços e percebemo-nos merecedores de felicidade. É o resultado do amor
que recebemos, não o amor gratuito mas aquele que ensina a retribuir, que ensina
a noção de respeito ao outro e a si mesmo. Na primeira infância necessitamos da
aprovação externa, e a reação das pessoas aos nossos atos também constitui fonte
formadora da nossa auto-imagem e pode modificar ou influenciar nosso
autoconceito que carregaremos durante a vida.
Este autoconceito, esta percepção de si, dos próprios potenciais, de limites, e
principalmente de seus desejos, estará sendo estimulado durante toda a nossa
vida, através das diversas relações que estabelecemos. Isto significa que a
nossa família influencia a forma de nos percebermos, mas não a determina. A
maturidade psicológica pode ser medida também pela nossa capacidade de nos
auto-alimentarmos emocionalmente, passando então da necessidade de confirmação
para apenas o desejo de sermos aceitos.
Isto não significa que somos como argila, moldados apenas pelas experiências
externas. Nascemos com características físicas e com algumas psicológicas,
herdadas. Trazemos conosco em nosso nascimento um potencial de saúde mas que
precisa dessas provisões externas para se desenvolver.
Resumindo, a auto-estima é a capacidade do ser humano de sentir-se bem em
relação a si próprio, o bastante para aceitar a rejeição não como uma afronta
pessoal, mas como parte inevitável da vida. O indivíduo com auto-estima tem a
capacidade de deixar a rejeição para trás e prosseguir. Aqueles que se aceitam
agem livremente, permitindo a si mesmos atuar próximo ou no máximo de seu
potencial. Expressar-se é contar sobre si, relacionar-se, assumir que se faz
parte do mundo.
O TÍMIDO tem sua AUTO-ESTIMA baixa, frágil, ele sempre acha que todos estão
olhando para ele, que o mundo roda em torno de sua atuação. Está preocupado em
como os outros vão avaliar suas atitudes e comportamentos e com isso não tem
coragem de assumir seus próprios desejos.
A timidez torna as pessoas propensas a interpretarem os acontecimentos de uma
maneira ameaçadora, com isso sua autonomia torna-se prejudicada, precisando de
algo ou alguém para sentir-se seguro e tranqüilo.
Em nossa atuação no mundo trabalhamos sempre em duas áreas a da ilusão
(fantasia, crenças) e a da realidade (mundo objetivo). Nossas escolhas e formas
de entender e de sermos no mundo nascem destes focos de atenção. Se temos uma
boa noção sobre quem somos e do que somos capazes, ou seja, de nossos potenciais
e de nossas possibilidades, atuamos no mundo de forma mais autônoma e segura. O
conhecimento de si mesmo, aliado à auto-estima são os fatores determinantes para
mudar sua forma de se relacionar com o mundo.
A timidez incomoda cada vez mais. Em nossa sociedade competitiva aquele que não
ousa, aquele que teme ser visto, ser percebido ou questionado em suas opiniões,
tem mais dificuldade em se relacionar, conquistar seu espaço profissional e com
isso alcançar o sucesso esperado pela sociedade e muitas vezes por si próprio.
Torna-se invariavelmente comum, receber em meu consultório pessoas que buscam se
livrar desse sofrimento. Desde jovens que não conseguem se expor em sala de
aula, apesar de saberem a matéria, ou mesmo não conseguem fazer amizade ou
pertencer a um grupo, ou arriscar uma paquera, sentindo-se excluídos e
rejeitados.
Ou quando adultos, muitas vezes já profissionais, que sentem dificuldade de
expressar seus conhecimentos, liderar grupos, agir com autoridade, estabelecer
limites. Os tímidos sofrem e perdem oportunidades profissionais, relacionamentos
pessoais, vivências, experiências, porque não se lançam no mundo. A sociedade
prefere aquele que saiba defender suas idéias e seus pontos de vista.
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