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Sou
Pavio Curto
Por: Sirley Santos M. Bittú
O QUE É MATURIDADE EMOCIONAL?
O pavio curto é aquele que facilmente “explode” o famoso “tolerância zero”. A
pessoa que age como um pavio curto na vida, é na verdade comparável a uma
“criança mimada grande”, que nega-se a aceitar seus próprios limites e os
limites dos outros faltando com o respeito a si e aos demais.
Em nosso aprendizado de relacionamentos, absorvemos nossa cultura e através dela
aprendemos a reagir. Enquanto bebês, precisamos da sensação de onipotência
oferecida por nossa mãe ou cuidadores. Essa sensação é resultante de termos o
que precisamos, no momento que precisamos. O bebê tem fome e recebe o alimento ,
tem frio e é acolhido, tudo isso num ritmo que o faz “pensar” que tudo faz parte
dele, tanto a fome como o alimento. Mundo interno e externo ainda estão confusos
e misturados, é a fase em que o bebê ainda não possui a noção do que é dele e do
que não é. Essa sensação primária de onipotência é extremamente importante e
ajuda o bebê em seu desenvolvimento e na formação de sua identidade emocional.
O esperado é que gradativamente o bebê passe a perceber esses limites ao passo
que comece a vivenciar algumas pequenas frustrações, como por exemplo, ter de
esperar pelo leite. Este delicado e complexo caminho do desenvolvimento humano
foi estudado em minúcias por vários especialistas em comportamento e
desenvolvimento emocional como D. WINNICOTT, SPITZ, e outros; o objetivo não é
traze-lo por completo neste artigo, apenas utilizar alguns aspectos como base de
raciocínio.
Durante nosso desenvolvimento caminhamos dessa sensação de
Onipotência/Impotência para a percepção clara de nossos limites e
potencialidades que poderíamos chamar de poder pessoal, ou simplesmente de
maturidade emocional. Na vida adulta nos descobrimos interdependentes com o
meio, precisamos nos relacionar para sobreviver, precisamos do outro e o outro
de nós. A maturidade emocional se faz quando percebemos esta difícil e delicada
inter-relação, pois para nos relacionarmos precisamos conhecer nossos limites e
os limites do outro. A sociedade impõe regras inerentes à sua cultura e o ser
humano impõe regras inerentes à sua saúde emocional.
Estamos todo o tempo nos relacionando em diferentes papéis sociais, quanto maior
nossa clareza sobre nossos potenciais, limites e responsabilidades, maior nossa
capacidade para perceber o outro como ele é, pois nos tornamos capazes de trocar
de papel, nos colocarmos no lugar do outro, entendendo melhor suas motivações e
atitudes. Ganhamos a possibilidade de tornar a vida mais “ensolarada”, e menos
“nublada” por nossas desconfianças , medos e conclusões equivocadas. Vamos dar
um exemplo: se estamos nos sentindo carentes afetivamente teremos a tendência a
olhar o mundo como povoado por seres egoístas e pouco afetivos. Não conseguimos
ver aquilo em que não acreditamos, se acreditamos que não poderemos receber
afeto, realmente não receberemos, simplesmente pelo fato de que não estaremos
abertos a perceber o que já temos, apenas o que nos falta.
Existem muitas pessoas que vivem se lamentando de suas amarguras e
ressentimentos com o mundo, cobrando algo que a muito elas não oferecem... amor,
atenção, carinho e respeito. O pavio curto é na verdade alguém que tem
dificuldade em aceitar seus limites e frustrações, não consegue lidar com eles,
portanto grita primeiro numa desesperada tentativa de evitar a frustração. A
fantasia associada é a mesma que o bebê tem, ou seja, de que não conseguirá
sobreviver à dificuldade e que não tem recursos internos que o ampare. A nossa
capacidade de tolerar frustração é a base da maturidade emocional principalmente
porque nos dá a habilidade necessária para distinguir fantasia de realidade. O
ser humano é falível, porém, cheio de potenciais que precisam ser descobertos
para serem estimulados e aproveitados.
A energia de vida humana é o que nos move, o que nos impulsiona para saborear a
vida, quando acreditamos que o mundo nos deve algo, que ele é “mau”, uma das
saídas emocionais que algumas pessoas encontram é agredir o mundo, usando esta
energia para este fim. O mundo não é bom ou mau, ele é as duas coisas, como o
ser humano. O “pavio curto” agride o mundo numa desesperada tentativa de se
defender, como se ele estivesse antecipando o ataque que acredita que receberá.
Se você já está esmurrando a mesa, ao passo que vai lendo este artigo, não se
preocupe, ser “pavio curto” é uma dificuldade emocional e não uma doença,
portanto a busca de autoconhecimento e de superação de seus limites é possível e
está a seu alcance. Não podemos esquecer que você, que se considera uma pessoa
de temperamento explosivo, pode aprender a utilizar essa sua energia à seu
favor. Existem outros aspectos também relacionados a esta característica
emocional, como a dificuldade de perdoar e de ser humilde para reconhecer seus
erros e suas dificuldades.
No processo psicoterapêutico buscamos desenvolver a autoconsciência ou seja, a
capacidade de observar a si mesmo e descobrir o que sente, o que pensa e o que
percebe aprendendo as diferenças sobre essas coisas e descobrindo novas formas
de reagir, tornando-se mais “dono de si”.
A arte de fazer escolhas ou nossa capacidade de tomar decisões está relacionada
à noção de ter de perder algo para ganhar algo e relaciona-se com nossa
capacidade de avaliar os reflexos de nossos atos, assumindo a responsabilidade
pela conseqüência de nossas ações.
A maturidade emocional implica também na compreensão de que a onipotência é
apenas uma ilusão criada por nossa mente inicialmente primária, para nos ajudar
a sobreviver à nossa fragilidade emocional.
Precisamos desenvolver nossa capacidade de rir de nós mesmos, num movimento de
aceitação tanto de nossas características boas como das “não tão boas”, para que
possamos ter a humildade de tentar superá-las.
Negar nossas dificuldades é negar o humano que existe em nós.
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