|
Do
que se Trata o Perdão
Por: Sirley Santos M. Bittú
Ao se falar em perdão, é comum nos remetermos quase de imediato a
uma leitura religiosa, ou seja, o perdão sendo visto como unilateral, entendido
como algo que doamos a alguém, um ato de desprendimento, generosidade e bondade
com o outro, mas é mais do que isso...
Quando estamos magoados e feridos, os sentimentos mais presentes são a tristeza,
a decepção e a raiva. Neste momento é difícil se pensar em perdão. Primeiramente
há o momento de viver a própria dor, senti-la para depois resolve-la. Muitos
tentam pular essa fase inevitável e como conseqüência apenas prorrogam seu
próprio sofrimento.
A raiva é o mais primário dos sentimentos, pois é gerada pela frustração e pelo
sentimento de impotência. Dela nasce o desejo de vingança como uma tentativa de
diminuir a própria dor, mas a vingança é um sentimento traiçoeiro, pois se alia
a seu “adversário” no momento em que sua vida passa a ser apenas um instrumento
com o objetivo de atingir ou prejudicar aquele que lhe feriu. Facilmente a
vingança torna-se seu senhor e você seu escravo. Trata-se de um ciclo vicioso e
aparentemente sem fim.
Também não podemos esquecer que algumas pessoas são muito mais susceptíveis a
mágoas e melindres que outras, possuem limiares diferentes, variando de acordo
com sua personalidade, capacidade de percepção, capacidade de tolerar
frustrações, entendimento de mundo, sensibilidade, ou seja, de acordo com sua
saúde emocional. Uma mesma vivência é sentida , percebida e compreendida de
forma diferente até mesmo entre irmãos, que supostamente foram criados sob as
mesmas variáveis, o que dirá entre pessoas que possuem “crivos” diferentes.
Desde o nascimento, somos seres carentes de relacionamentos, o ser humano
precisa se relacionar para se desenvolver emocionalmente. A família é o berço do
desenvolvimento emocional, costumo dizer que é nosso útero social, pois é
através dela que recebemos essa carga de crenças, entendimentos e leituras sobre
o mundo. Nossas relações passam pelo crivo dessas crenças, pela forma de
entender o mundo que nos cerca e de nos perceber enquanto pessoas, nossos
direitos e responsabilidades.
Estamos sempre construindo e reconstruindo nossas idéias, num ciclo dinâmico,
que pode ser saudável ou não. É claro que essas crenças trazem todos os
preconceitos e dificuldades relacionais de nossos ancestrais, afinal ninguém
pode dar aquilo que não tem.
Cabe a nós em nossa jornada acessar nossas fontes de saúde que são nossa
criatividade e espontaneidade. Elas nos ajudarão a tentar o novo, a perdoar,a
reconstruir, a olhar de outra forma a mesma questão, e a nos fortalecer, nos
impulsionando para novos movimentos e experiências.
Relacionar-se é fácil quando encontramos pessoas que pensam e percebem o mundo
como nós, ou seja se utilizam do mesmo fóco para avaliar os acontecimentos, mas
a grande questão é quando nos deparamos com pessoas que possuem outros
parâmetros e valores, neste caso, para que a relação seja possível, é necessária
uma carga a mais de respeito ao outro a suas idéias e a seu ponto de vista e
obviamente de respeito pessoal.
Num processo psicoterapêutico nossa leitura é feita a partir de um entendimento
relacional, como sabemos, toda ação gera uma reação. Quando tomamos consciência
de nossa parcela de responsabilidade naquilo que nos acomete, temos a
possibilidade de nos tornarmos senhores de nossas vidas, mais autênticos e não
mais escravos, cegos e perdidos diante dos acontecimentos. Não nos tornamos
vítimas nem tão pouco vilões, apenas humanos conscientes dos reflexos de nossas
atitudes. A raiva não é negada ou sublimada ela é canalizada para movimentos
positivos que podem trazer crescimento e desenvolvimento pessoal, ela é
transformada em energia positiva provedora de mudança e transformação.
ENTÃO O QUE É PERDOAR? Perdoar é realmente um ato de amor mas, não apenas
amor ao outro, mas também ,amor a si próprio. É assumir a responsabilidade sobre
os próprios atos e desejos, é perceber-se na dimensão do humano e como tal
entender a sua significância. Perdoar é amadurecer emocionalmente é aprender que
somos falíveis e imperfeitos, tal qual o outro com quem nos relacionamos e essa
é a genialidade do ser humano. Não existem os certos e os errados, existe o
olhar a partir de um ponto de vista e cada um tem o seu, portanto não existe A
verdade, existem verdades á partir de realidades diferentes. O parâmetro é o
respeito, o sentimento de cidadania, a ética e o amor.
Voltar para
Diversos -
Voltar para Pagina Inicial
|