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Sexualidade de Cada Um
Por: Sirley Santos M. Bittú
Vamos fazer um rápido exercício: Pense por um instante nas formas
de expressar carinho, amor, desejo, excitação, que você já presenciou. Deixe as
cenas brotarem de sua memória, sua família seus pais, você mesmo, como
acontecia? Seus pais se beijavam na sua frente? Trocavam carícias, andavam de
mãos dadas, lado a lado ou um na frente outro atrás? Conversavam sobre sexo,
amor, carinho com você? Censuravam filmes, horários de TV? Reagiam com vergonha
ou com naturalidade às suas perguntas? Estavam presentes...
Agora lembre-se de como você lidava com tudo isso, você era tímido, ousado,
curioso? Tinha medo de fazer perguntas ou não?...contentava-se com qualquer
resposta? Conversava com amigos(as) sobre suas dúvidas? Por último, tente
detectar a influência de tudo isso em sua sexualidade hoje.
Entendo que trata-se de uma tarefa ampla para ser feita num breve instante, e
obviamente não coloquei aqui todas as variáveis que deveríamos considerar, mas é
apenas o início de um exercício que poderá ajudá-lo a compreender a influência
de nossas experiências em nosso comportamento, principalmente na expressão de
nossos sentimentos.
Hoje a expressão de sua sexualidade com alta chance é o resultado dessa difícil
e complexa equação: tudo que recebeu de informação - conceitos e preconceitos,
mitos e verdades - somados à sua forma particular de decodificar aquilo que
recebeu: seu ”óculos”.
A escolha sexual passa por um processo físico, emocional e social. Como podemos
perceber, recebemos modelos de comportamento em nossa educação e nascemos com
características particulares. Aprendemos a nos vestir, a nos movimentar de forma
“adequada”, ou esperada socialmente, a escolher o que comer, a torcer por um
time, ou um esporte, a gostar de TV ou não. Tudo isso de forma explícita ou nem
tanto, dependendo do grau de consciência dos educadores que cada um de nós teve.
Da mesma forma aprendemos a “lidar” com nossa sexualidade.
Nossos envolvimentos amorosos passam por nossas buscas, insatisfações,
fantasias, crenças, medos, certezas e entendimentos de mundo. O ser humano
naturalmente busca se envolver afetivamente e amorosamente. A demanda do ser
humano é uma demanda de amor, o prazer, o carinho, fazem parte desta esfera. O
tipo de parceiro(a) que escolhemos está relacionado a esses modelos que
recebemos durante nosso desenvolvimento, às pessoas que conhecemos, e histórias
que acompanhamos.
As formas que buscamos para obter prazer relacionam-se a nossas fantasias,
desejos, e às possibilidades de realizá-los. O ser humano é um complexo formado
por razão, emoção e espiritualidade. O desejo é livre, podemos desejar muitas
coisas, mas a execução desses desejos passa pelo crivo da nossa razão e
espiritualidade. O que quero dizer é que desejar é expressão do humano que
existe em nós, mas executar o desejo é expressão de nossa saúde interna, de
nossa capacidade de adequação, ou habilidade para viver socialmente, e de nosso
entendimento de mundo.
Durante o desenvolvimento pessoal temos a difícil tarefa de aprender a respeitar
nossos valores, a sermos espontâneos em nossos desejos e criativos, procurando o
caminho para superar nossas limitações. Difícil também é detectar nossos
desejos. Os desejos enquanto substância humana são a expressão de nossa
individualidade.
Ainda temos muitos preconceitos mesmo nos dias de hoje. A homossexualidade por
exemplo ainda é alvo de ataques e desrespeito. A liberdade de escolher e de ser
o que se deseja ainda está longe de ser conquistada, ainda há de se crescer
muito e amadurecer nosso modo de nos relacionar com aqueles que pensam, sentem e
percebem o mundo de maneira particular e diferente de nós.
A virgindade hoje em dia tornou-se um tabu ao “contrário”, entre os jovens. O
“crime” agora é ser virgem e não mais não ser como 40 ou 50 anos atrás; apenas
se inverteu a posição, portanto o preconceito ainda impera absoluto.
A virgindade não é apenas uma questão de “transar” ou não, mas está diretamente
relacionada à noção de respeito próprio, capacidade para cuidar de si e
responsabilidade. O jovem estará preparado quando a relação sexual não for uma
obrigatoriedade ou apenas mais uma afronta.
É comum escutar frases do tipo ...”todas as minhas amigas da minha idade já
transaram”... ou, “quando alguém me pergunta, eu vou logo dizendo que é claro
que já tive a minha experiência”... ou, “sou chamada de ‘vacilona’ porque não
quis transar ainda”...
Este é um importante aprendizado emocional: assumir nossas escolhas e “bancar”
suas conseqüências.
A noção de respeito e individualidade ainda é muito confusa socialmente. No
Brasil a sexualidade é algo explorado e produto da mídia, somos o país das
mulatas e dos biquínis. As crianças são estimuladas através das roupas,
acessórios, TV, músicas e até algumas danças, a voltarem sua atenção para a
sexualidade, algumas vezes perdendo com isso seu espaço de serem crianças,
simplesmente porque a sexualidade faz parte do mundo do jovem/adulto e não da
infância.
Comerciais de TV aludem à sexualidade, mulheres são associadas a cervejas ou ao
prazer provocado por elas. A mídia é a expressão do imaginário humano,
refletindo idéias, valores, desejos e fantasias da atualidade. A mulher como
objeto sexual ainda vende, mas o homem também passou a ser produto de consumo.
Estamos numa época de reformulação de valores, idéias e crenças. O ser humano
está sempre em evolução e transformação. Nossos entendimentos de bom e mau,
certo e errado modificam-se de acordo com o prisma que escolhemos para
decodificar a vida.
A sexualidade deve ser olhada e aceita como algo natural que faz parte do
desenvolvimento, das descobertas, das experiências pessoais e principalmente da
expressão da vida. Para vivenciar a própria sexualidade sem culpas ou
sofrimentos é necessário respeito próprio e enfrentamento dos próprios medos,
conseguidos apenas através da ampla consciência de quem somos e da noção de
nossas possibilidades e responsabilidades.
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