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Por
uma Psicologia com Filosofia
Por: Carlos Eduardo Lopes
Esse assunto, de modo geral, consiste na interface entre filosofia e
psicologia, o que tenho feito, desde a graduação, até o doutorado, em
behaviorismo radical e, ultimamente, na psicologia da Gestalt. Também por
conta dessa interface, tenho grande interesse em história da psicologia de
modo geral.
Considerando que dentre os leitores dessa coluna deve haver pessoas com um
espírito mais científico (em sua vertente positivista) – e que, por esse
motivo, pode julgar esse interesse pela filosofia, uma espécie de capricho
pessoal –, sinto-me obrigado a redigir uma breve justificativa.
Eu poderia citar aqui um conjunto de motivos, quase que infindável, para
tentar convencê-los de que o psicólogo precisa de uma formação filosófica
mínima. No entanto, preferi escolher apenas dois, que considero,
pessoalmente, os principais.
O primeiro motivo diz respeito à consistência da obra psicológica. Um
projeto psicológico tem maior chance de possuir coerência interna, quando
há uma preocupação filosófica subjacente. Acho que isso ocorre em dois
níveis: quando se escreve, e quando se interpreta uma obra. Quando se faz
psicologia, ou seja, quando se registra e transmite um conhecimento
considerado psicológico, possuindo uma preocupação filosófica subjacente,
as chances de se cometer confusões conceituais são menores. Isso porque a
filosofia funciona, nesse caso, como uma espécie de fio condutor que
delimita um campo de estudo, bem como os caminhos a serem percorridos
dentro desse campo.
A mesma coisa pode ser dita em relação à interpretação de uma obra
psicológica qualquer. Com o auxílio de um conhecimento filosófico mínimo,
não apenas compreendemos melhor certos conceitos – pois esses, geralmente,
possuem uma grande herança filosófica –, como também estamos mais
habilitados a identificar as confusões conceituais cometidas pelo autor.
O segundo motivo que deve ser considerado como justificativa para a
promoção da interface entre psicologia e filosofia, diz respeito à
formação do caráter do psicólogo. Isso porque ao estudarmos filosofia,
perceberemos que o conhecimento psicológico tem uma herança, ou história,
inegável e, portanto, tudo aquilo que um psicólogo escreve atualmente não
é, de modo algum, totalmente original. Não há uma geração espontânea do
conhecimento em psicologia (como muitos parecem acreditar). Por melhor que
seja o autor ou a linha teórica que nos interessemos, sempre encontraremos
um diálogo fértil com a filosofia.
Nesse sentido, poderíamos dizer (parafraseando Kant), que a filosofia pode
ajudar-nos a “despertar de nosso sono dogmático”, ou ainda, que uma
formação filosófica mínima pode tornar os psicólogos mais humildes.
Para finalizar, quero me defender antecipadamente. Em momento algum estou
afirmando, aqui, que a psicologia deve ser subjugada à filosofia. Pelo
contrário, o que defendo é que deveria existir uma parceria, e porque não
dizer cumplicidade, entre as duas disciplinas. Para exemplificar esse
ponto de vista, posso citar, aqui, um grande professor meu, que (inspirado
na relação kantiana entre sensibilidade e entendimento) sempre me dizia
que “a psicologia sem a filosofia é cega, assim como a filosofia sem a
psicologia é vazia”.
Psicologia e Filosofia: Carlos Eduardo Lopes é graduado em Psicologia pela
Universidade Federal de São Carlos. Doutor em Filosofia pela mesma
Universidade. O tema desenvolvido em sua tese é “Subjetividade e
Behaviorismo Radical”. Possui ainda outros trabalhos, tais como: Teoria da
Percepção no Behaviorismo Radical e Behaviorismo Radical como Filosofia da
Mente (artigos publicados em periódicos especializados). Professor adjunto
na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (campus de Paranaíba).
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