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Karl
Marx
Por: Carlos Antonio Fragoso
Guimarães
"Uma
das mais estranhas ironias da História é não haver
limites para os erros de interpretação e as deturpações
das teorias, mesmo numa época de acesso irrestrito às fontes;
não há exemplo mais drástico desse fenômeno
do que o acontecido com a teoria de Karl Marx nos últimos decênios.
São constantes as referências a Marx e ao marxismo na imprensa,
nos discursos de políticos, em livros e artigos escritos por 'respeitáveis'
cientistas sociais e filósofos; no entanto, com poucas excessões,
parece que os jornalistas e políticos (especialmente no Brasil)
sequer viram de relance uma única linha que seja escrita por Marx
(...). Aparentemente sentem-se a salvo em seu papel de peritos no assunto,
visto como ninguém com poder e status no campo da pesquisa social
contesta suas afirmações ignaras."
Erich Fromm, Psicanalista.
"Marx não é (...) o filósofo da tecnologia.
Também não é, como pensam muitos, o filósofo
(do estudo) da alienação. Antes de mais nada, Marx é
o sociólogo e o economista do regime capitalista. Marx tinha uma
teoria sobre este regime, sobre a influência que este exerce sobre
os homens e sobre o seu vir-a-ser. Sociólogo e economista do que
chamava de capitalismo e das suas transformações, não
tinha (e não podia realemente ter) uma idéia precisa do que
seria o regime socialista, e (antecipando seu tempo de ciência mecanicista-determinsta)
não se cansava de respetir que o homem não podia conhecer
o futuro antecipadamente. Não tem fundamento, portanto, perguntar
se Marx foi leninista, stalinista, trotzkista, partidário de Gorbatchev
ou de Mao. Karl Marx teve a sorte, ou a infelicidade, de ter vivido a mais
de um século. Não deu respostas às questões
desse tipo, que formulamos hoje. Podemos até fazer estas questões
e procurar respondê-las por ele, mas as respostas serão sempre
nossas, não dele. (...). Perguntar o que teria pensado Marx significa
querer saber, realmente, o que um outro Marx, um Marx do século
XX, talvez, teria pensado no lugar do verdadeiro Karl Marx. A resposta
contudo, apesar de ser possível, é aleatória e de
pouco interesse."
Raymond Aron, Cientista Social.
"A mudança do eixo econômico do Atlântico
para o Pacífico, a tendência crescente do monopólio
(em nítido contraste com a pregação de que o capitalismo
precisa mesmo é de competição), a desigualdade mundial,
o declínio da alta cultura (agora simplificada e de domínio
global), a formação de um mercado sem fronteiras, toda essa
realidade já se prenunciava nos escritos de Marx."
Carlos Haag, Analista econômico do periódico Valor Econômico
"(...) Sem medo de erro, pode-se afirmar de imediato que, depois
de Marx, é impossível o retorno à ciência social
pré-marxista. Marx deu à humanidade olhos novos para que
ela pudesse ver de modo diferente o mundo e a história dos homens.
A influência do fator econômico sobre os fatos humanos não
é invenção de sonhador."
Giovanne Reale e Dario Antiseri, Filósofos e Historiadores.
Como fica claro nos pensamentos, acima transcritos, de alguns
dentre tantos famosos pensadores de nosso século que compreenderam
o impacto da obra de Karl Marx, a filosofia e a ciência deste alemão
universal, ao mesmo tempo que representa um dos mais agudos gritos contra
o processo de coisificação, mecanização e alienação
do homem pelo homem, contra sua perda de humanidade e sua transformação
em objeto explorado, foi igualmente submetida a distorções,
vilipêndios e manipulações - intencionais ou não
- por parte dos pró-marxistas e dos não-marxistas, cada um
tentando utilizar-se de Marx de acordo com sua própria e mesquinha
visão de mundo. Talvez somente uns poucos, como o gênio Charlie
Chaplin em seu filme Tempos Modernos, tenham tido um melhor insight sobre
a mensagem de Marx do que muitos dos auto-intitulados marxistas militantes
ou dos antimarxistas.
Esta página, é claro, não tem a prentensão
de expor Marx tal qual ele é... Para isso seriam necessários
muitos megabytes de informação e um conhecimento tão
ou muito mais enciclopédico e imparcial do que teria tido o próprio
Karl Marx. Nem pretende demonstrar nada. Visa apenas apresentar resumidamente
o homem Marx, a originalidade e o humanismo de sua obra e o seu inconteste
impacto em todo o século XX, em acordo com autores mundialmente
reconhecidos como estudiosos íntegros do pensamento marxiano, como
Erich
Fromm, por exemplo. Porém, mais do que tudo, esta página
representa a minha leitura de Karl Marx a partir do próprio Karl
Marx, especialmente o jovem Marx dos Manuscritos Econômicos-Filosóficos
de 1844.
O Homem Marx
Karl Heinrich Marx nasceu na Alemanha, em 15 de maio de 1818, na pequena
cidade de Treves, filho de um advogado de origem judáica, Heinrich
Marx, e de uma dona-de -casa, Henriette Pressburg.
O jovem Karl, sob o incentivo intelectual do pai, realizou os seus estudos
básicos em Treves seguindo, posteriormente, para Bonn, cidade natal
do grande compositor Ludwig van Beethoven, para estudar Direito. Karl,
como a maioria dos jovens de todos os tempos, preferiu mergulhar no clima
boêmio da cidade, imersa nos ideais do romantismo idealista de Schelling,
Goethe e outros, que a se dedicar seriamente aos estudos das Leis. Por
isso seu pai o transferiu para uma universidade mais disciplinada em Berlim,
em 1836.
Ainda neste ano, o romântico Marx se apaixona e noiva secretamente
com uma das mais belas mulheres de Treves, e tão jovem e idealista
quanto ele: Jenny von Westphalen, cujo irmão, Ferdnand, seria ministro
do Interior da Prússsia posteriormente. Marx casou-se com ela, finalmente,
em 1843.
Em Berlim, Karl seguiu com destaque os cursos disciplinares e frequentou
o "Doktor-Club", círculo de jovens e brilhantes intelectuais hegelianos.
Lá eles discutiam a filosofia de Hegel e outros filósofos
românticos. Em 1841, Karl laureou-se em filosofia.
Depois de formado, Karl tentou seguir a carreira acadêmica na
universidade de Bonn com a ajuda de seu amigo, o teólogo Bruno Bauer.
Mas este era considerado um teólogo progressista e ousado demais,
e foi logo afastado da universidade, frustrando os anseios de Marx. Sem
poder seguir seu sonho, Marx se dedica ao jornalismo, sendo o redator da
"Gazeta Renana", órgão de concentração dos
intelectuais da região. Logo Marx seria promovido a redator-chefe.
Porém, como quase sempre ocorre, a força intelectual do jornal
acabou por incomodar muitos 'poderosos' (o jornal não era governista
nem mercantilista como boa parte da mídia popularesca do Brasil)
e, após inflamar os ânimos da burguesia latifundiária
tradicionalista de parte da Prússia, foi oficialmente interditado
em janeiro de 1843.
Nesse mesmo período, a imensa produção intelectual
de Marx estava em pleno vapor, mesmo que, no global de sua obra, estivesse
ainda em seu início. Estudioso de Feuerbach, Marx escreve em 1843
a Crítica do direito público de Hegel, da qual a introdução
foi publicada em Paris no ano sguinte por Ruge, nos "Anais Franco-Alemães",
do qual Marx seria, a convite de Ruge, co-diretor. Na cidade Luz, Marx
entrou em contato e foi bem recebido por vários grandes intelectuais
como Proudhon, Blanc, Heine, Denizard Rivail, George Sand, Bakunin e, sobretudo,
o seu grande amigo e colaborador de toda a vida, Friedrich Engels. Porém,
mais uma vez, a ousadia e o impacto dos "Anais" acabaram por decretar o
seu próprio fim, tendo sido publicado apenas um volume.
Marx, porém, com a ajuda de amigos da cidade alemã de
Colônia, prosseguiu sua incansável pesquisa em filosofia e
economia política. Foi nesta época que ele escreveu talvez
a sua obra mais importantes antes de O Capital e, em muitos pontos, mais
transparente e acessível ao pensamento de Marx que sua obra irmã
posterior: Os Manuscritos Econômico-Filosóficos. Karl também
contribuia com artigos políticos para o jornal dos artesães
alemães, o Vorwärts. Como este jornal tinha uma linha crítica-socialista
e os artigos de Marx eram muito brilhantes, e como o jornal era lido por
várias outras pessoas além dos artesãos a quem se
dirigia, especialmente estudantes, a colaboração de Marx
acabou por inflamar mais uma vez os ânimos farisáicos do poderosos
de todos os tempos, e Karl foi expulso da França em janeiro de 1845.
Passando a residir na Bélgica, Karl e Engels passam a aprofundar
ainda mais seus estudos, com o apoio terno de Jenny. Em janeiro de 1848,
Marx e Engels redigem o famoso e ainda altamente atual - em sua visão
crítica do capitalismo - Manifesto Comunista, a pedido dos membros
da "Liga Comunista" de Bruxelas. Com os movimentos sociais de 1848 na França,
Marx volta a Colônia, na Alemanhã, onde tentar novamente o
jornalismo. Posteriormente, depois de lhe ser negada permanência
em Paris, Marx vai para Londres, em 1849, onde permancerá até
sua morte.
Na capital do Reino Unido, Marx passa por toda sorte de dificuldades,
mas com a ajuda de Engels e de seus artigos para vários jornais,
Karl consegue se dedicar e aprofundar-se nos estudos de economia política,
sociologia e história de tal modo que seu conhecimento e argumentação
impressionam a todos os que o conhecem. Desta são as sementes que
mais tarde iriam eclodir em O Capital, cujo primeiro volume, redigido por
Marx, veio à luz em 1867, sendo os outros dois compilados por Engels
a partir das notas originais e publicados após a morte de Karl,
em 1883.
Dedicado quase que obsessivamente na atividade de organização
política do movimento operário, Marx funda em Londres, em
1864, a "Associação Internacional dos Trabalhadores".
No período posterior, Marx se dedica febrilmente ao trabalho.
Em 1881 morreu sua terna e doce companheira e grande incentivadora, Jenny.
Semi-solitário, mas muito ativo, Marx finalmente expira em 14 de
março de 1883.
Originalidade e Importância da Obra de Karl
Marx
Marx foi um grande homem e um gênio quer da Filosofia, quer da
Sociologia, quer da Economia Política, e disso poucos ousam questionar,
embora muitos - em especial os críticos que nunca o estudaram -
costumem apontar suas "falácias". O grande problema surge quando
o seu legado passa a ser 'apropriado' pelos seus seguidores e admiradores,
ou mesmo - e principalmente - pelos seus inimigos (muitos e muito versados
na obra do mestre), que é exatamente o mesmo problema no legado
de outros grandes grandes homens, como Sócrates ou Cristo, em especial
quando tentam institucionalizar sua herança. Ainda hoje, mais de
um bilhão de seres humanos vivem e são educados naquilo que
se chama erroneamente de marxismo (China, Cuba). Porém, há
décadas que se sabe que este marxismo não é a proposta social de Karl
Marx, e tal qual ele se apresenta, há pouco de Marx e muito de outros,
ou seja, está altamente contaminado. Este "marxismo" é uma
vertente interpretativa do pensamento de Marx e dificilmente seria aceita
por ele, mas, infelizmente, se tranformou numa ideologia rígida
dos chamados países comunistas e foi, também, apropriada
e altamente cristalizada tal como hoje se apresenta, calculadamente, pelos
ditos capitalistas, sendo usada como arma para manter, por ambos os blocos,
seu poder. De qualquer forma, não há que se negar que mesmo
nestes países as conquistas sociais foram inúmeras. Dentre
os bilhões de habitantes da China, ninguém passa fome, e
em Cuba, apesar de um embargo econômico criminoso da superpotência dominante de mais de 40 anos
contra a ilha indefesa, todos têm direito à educação,
moradia e um dos melhores sistemas médicos do mundo. De qualquer
modo, o poder intelectual de Marx abriu os olhos do ocidente para verdades
terríveis de um modo de produção que explora e aliena
o ser humano (para uma maior e melhor comprensão histórica da mecânica capitalista, veja-se o texto
"Capitalismo, O Sepulcro Caiado"). De fato, tal foi a força e alcance de sua mensagem,
que uns o usaram para obter o poder a qualquer custo, e outros, assustados
com seu afiado bisturi, calculadamente deturparam suas idéias, inclusive
falando as mais absurdas bobagens. Só um imbecil ( e como os há,
em especial quando servem de base para divulgar idéias propícias
ao capitalismo ) poderia responsabilizar Marx por desmandos de governos
ditos "comunistas", do mesmo modo que só um imbecil poderia responsabilizar
Jesus Cristo pela Inquisição ou pelo mercantilismo alienador
de algumas seitas evangélicas. Por sinal, não faltaram televangelistas e radioevangelistas
que chegassem a comparar Marx ao próprio Diabo, e incentivaram bastante
as intervenções do imperialismo em vários
países, usando e abusando da máquina de guerra para dizimar
populações inteiras (em especial as que tenham escolhido a via socialista) e garantir os interesses comerciais, numa prática bastante sutil e bem própria do "amai-vos uns aos outros".
Como bem observa Francis Wheen:
A história do século XX é um
legado de Marx. Vários ícones e monstros da era moderna se
apresentam como seus herdeiros. Mas, se ele os reconheceria como tais,
já é outra história. Mesmo durante a sua vida, as
momices de pretensos discípulos costumava levá-lo ao desespero.
Ao tomar conhecimento de que um novo partido francês se dizia marxista,
ele respondeu que, neste caso, "Eu, pelo menos, não sou marxista".
Não obstante, menos de cem anos depois de sua morte, metade da população
mundial era dominada por governos que professavam ter no marxismo seu credo
norteador. As idéias de Marx transformaram o estudo da economia,
da história, da geografia, da sociologia, da filosofia e da literatura.
Desde Jesus Cristo, nenhum pobretão obscuro havia inspirado tanta
devoção global - ou sido tão calamitosamente mal interpretado.
Não podendo abarcar toda o alcance e extensão da obra
de Marx, que é um dos pais da Sociologia e presença obrigatória
nos cursos de História e Filosofia, podemos começar dizendo
que o pensamento de Marx é, fudamentalmente, uma tentativa de compreensão
da sociedade capitalista, onde uma minoria (os capitalistas) dita as regras
para o viver e o pensar de uma maioria (os trabalhadores). Marx se dedica
analisar as contradições entre estas duas classes. A distância
imensa e o desequilíbrio entre os que detêm os instrumentos
para a produção, como máquinas e equipamentos vários,
e a terra (meios de produção) e os que nada têm a não
ser sua força de trabalho (os assalariados, empregados e operários),
constituindo duas classes básicas e cada vez mais polarizadas no
sistema capitalista, é o que salta aos olhos nos primeiros estudos
de Marx. A tensão entre estas duas classes, que a cada dia parece
aumentar - mesmo que tacitamente - agora pode se mostrar em sua frieza
já que não parece mais existir a ameaça socialista,
desde o fim (há décadas buscada e aspirada pelas potências do Lucro) da União Soviética - e tal fim é amplamente
propagado pelos meios de comunicação responsáveis
pela divulgação da ideologia (visão de mundo) mais
favorável ao capitalismo, e este pode agir como bem quiser, sem
que haja o contrapeso 'marxista' para equilibrar seus exageros.
O conflito humano resultante das desigualdades econômicas intrínsecas
a estas duas classes são, para Marx, o ponto chave das sociedades
industriais modernas, juntamente com o modo, a forma ideológica
de manipular as idéias para que o grande povo não perceba
o vínculo entre poder econômico e poder político e
sua influência na qualidade de vida de todos (alienação
política e cultural).
Cabe aqui uma reflexção do Psicólogo e Direitor da UNESCO para a Educação para a Paz, Dr. Pierre Weil:
NEOCAPITALISMO OU NEOFEUDALISMO?
Vivemos numa época muito curiosa e até intrigante. Algo está a nos deixar perplexos: À medida que se desenvolve o neo-capitalismo, a pobreza e a miséria aumenta. Isto se dá não somente nos países pobres, mas também nos, do primeiro mundo.
As causas são bastante conhecidas desde os estudos de Marx. Há porém fatores mais recentes que vem ainda mais piorar o quadro: a explosão populacional, a automação, a informática, o "enxugamento" dos programas de racionalização do trabalho, estão "jogar" milhões de seres humanos para a rua aumentando estupidamente o número de excluídos do processo sócio-econômico.
Com isto estamos voltando progressivamente à uma situação bastante parecida com a da época feudal, na qual tinha os senhores feudais com a sua corte e súditos que viviam numa situação financeira ótima ou razoável conforme o caso, e de outro lado a maioria do povo que padecia na miséria. O resultado era uma situação permanente de assaltos, violência, roubos, o que obrigava a classe dominante a se trancar dentro de castelos, cercados por um sistema de defesa constituído por um cinturão de água, e colossais muros. Para entrar, a famosa ponte levadiça.
Parece que estamos voltando para uma situação bastante parecida. Enquanto aumenta a pobreza e a miséria, através sobretudo do desemprego, aumentam os assaltos e, paralelamente as medidas de proteção; a única diferença com a época medieval, é que os sistemas de defesas foram modernizados. Em vez das altas paredes, temos as grades metálicas pontiagudas; no lugar da ponte elevadiça, temos o portão eletrônico; as torres de observação, foram substituídas por câmaras de televisão e os vigias que davam o alarme são agora representados por sistemas eletrônicos de alarme.
A história se repete, mas com diferenças referente à época. Os meios primitivos da era medieval foram substituídos por processos etnológicos sofisticados. Mas a situação e a sintomatologia são assustadoramente parecidos. Não será um dos sinais de alarme de que precisamos mudar de sistema econômico?
Pierre Weil
"A história de toda a sociedade humana,
até nossos dias, é a história do conflito entre classes, especialmente de uma minoria que explora uma imensa maioria.
Entre o homem livre e o escravo, patrício e plebeu, barão
e servo, mestre de ofício e companheiro, numa palavra, opressores
e oprimidos se encontram sempre em conflito, ora disfarçada, ora
abertamente, e que termina sempre por uma transformação revolucionária
de toda a sociedade, ou então pela ruína das diversas classes
em luta".
  Ora, hoje a exploração unilateral das grandes multinacionais tem um braço armado na maior potência mundial dos dias de hoje, e uma ideologia mecanicista e intelectualista que constroi artificialmente toda uma visão de mundo adequada à exploração natural e humana leveda às últimas conseqüências. Como "neoliberalismo" e "globalização" são duas palavras fabricadas para maquiar a velha exploração, usura e roubo, vejamos o que sobre isso nos diz o jornalista Sebastião Nery:
Agiotas globalizados
Eles são satânicos. Alugam, compram, corrompem a imprensa, economistas, analistas, assessores e consultores, inventam e impõem palavras novas para tentar disfarçar velhos crimes deles contra a humanidade. Colonialismo virou imperialismo, depois mundialização e afinal globalização. Desde a Bíblia, agiotagem era usura. Virou banca, investimento financeiro, agora é rentismo. Está todos os dias nos colunistas venais. Rentista é o agiota com a fatiota de patriota para enganar a patota idiota.
Portanto, para Marx, o que vemos constantemente na história humana
é uma luta entre setores opostos, classes antagônicas, que,
em seu processo de interação, buscam uma solução
para as tensões econômicas resultantes de suas diferenças.
E a sociedade atual capitalista, a sociedade da globalização
econômica, não é diferente, ou é até
ainda mais explicitamente antagônica do que a de outros tempos.
Na verdade, a imensa maioria da população mundial depende
de uma ridícula minoria para sobreviver. Esta detêm os meios de produção, ou
seja, dos meios físicos necessários à produção (terra, maquinários,
ferramentas, máquinas, instalações, etc.) que são inacessíveis ao
homem/mulher comum, que não tem outra coisa para "vender" a não ser
sua própria força de trabalho, que é considerada pelo capitalismo mais uma
mercadoria, e cada vez menos valorizada.
Fala Marx em seus "Manuscritos Econômico-Filosóficos":
"Os salários tem parte de seu valor
determinado pelo conflito entre o capitalista e o trabalhador. Neste, o
capitalista sempre vence, impreterivelmente. Ele, afinal, pode viver mais tempo
sem o trabalhador do que este sem aquele". Ora, desta forma, a
pessoa do trabalhador passa a ser tratada como uma mercadoria ambulante - ou
até menos que isso, já que a mercadoria "morta" não faz exigências por
melhores condições de vida, e ainda pode ser vendida passivamente por um
preço muito acima do que foi gasto em sua produção, dando bastante lucro. Ainda hoje, na contabilidade, o pagamento de
salários não é registrado como investimento na produção, mas sim como
"despesa".
Ora, o capital e seu sistema nada mais são que uma busca obsessiva
pela acumulação crescente dos frutos do trabalho alheio (ao operário que
produz algo é negada muitas vezes a possibilidade de poder comprar este mesmo
algo que produz), o que implica que - ao menos na fase de expansão capitalista do século XIX (já que a de finais do século XX ficou
escandalosamente pior com a globalização) - o crescimento econômico de
um país se dá por um crescendo de alienação "quando
uma quantidade cada vez maior dos frutos ou produtos produzidos do
trabalhador lhe são retiradas, quando seu próprio trabalho o confronta
crescentemente como propriedade alheia, e quando seus meios de vida e de
atividade concentram-se cada vez mais nas mãos do patrão capitalista".
Francis Wheen compara tal fato ao modo ocorrente em que "uma galinha inteligente
(se existisse essa criatura improvável) teria a suprema consciência de sua
impotência no auge da sua vida produtiva, ao por uma dúzia de ovos com o suor
e a dores de seu corpo e vê-los surrupiados ainda quentes por quem nem de longe
participa diretamente de sua produção".
Ora, numa nação onde há prosperidade econômica, há também uma
crescente concentração de capital e de poderes ao seu redor junto com uma
competição mais intensa, não só entre capitalistas, como também entre os
trabalhadores, pelo inchamento de oferta de mão-de-obra jovem ávida por salários
num mercado cada mais restrito. Continua Marx: "Os
grandes capitalistas arruínam os pequenos, por absoluta impossibilidade
destes fazerem frente economicamente àqueles, e uma parcela destes pequenos
empresários mergulha na classe trabalhadora comum, a qual, em vista desse
aumento de seus integrantes, sofre uma nova depressão salarial (o aumento do
exército de desempregados é usado como motivação para se reduzir salários
dos operários na ativa) e torna-se ainda mais dependente das decisões do
punhado de grandes capitalista que, em sua busca do maior lucro no menor tempo
possível, dão de cima para baixo todas as condições e exigências aos quais
o trabalhador não tem outra escolha senão a de submeter-se. Como o número de
capitalistas diminui diante dos grandes cartéis e monopólios multinacionais,
praticamente deixa de existir entre eles uma competição pelos trabalhadores,
que em se apresentando em grande número, acaba por constituir-se em um contingente
muito maior que a da oferta de empregos. Ora, sendo cada vez maior o
número de trabalhadores, ano após ano aumenta a competição
entre estes por uma vaga de trabalho, a batalha por um lugar torna-se ainda mais considerável,
ANTINATURAL, DESUMANA E VIOLENTA". Quem não consegue emprego - e as
exigências do deus "mercado"para tanto são sempre crescentes - precisa sobreviver de alguma forma. Quem nada tem, nada tem a perder a não ser
a vida, daí o surto de violência urbana contemporânea - sem esquecer que se
existem traficantes bem equipados, grande parte do dinheiro que eles conseguem
advêm da própria burguesia viciada que os sustenta. Mas quem consegue
trabalho, nem por isso está em uma situação maravilhosa com melhores condições de
dignidade humana. Este processo - que têm a frieza da lógica cartesiana dos
gráficos da economia - aponta que, mesmo entre as economias mais
propícias, e, ainda mais, como no caso do Brasil, nas economias
"capengas", as únicas conseqüências para o infeliz trabalhador
são, além do sentimento de "coisificação" e redução de homem em
apêndice da máquina - um apêndice, de resto, descartável - é
"o excesso de trabalho e a morte prematura, o estresse, o mal-estar, a
redução à condição de máquina, a escravização ao capital". Isto foi
escrito em 1848, mas Marx vai mais além, parecendo estar observando o século
XX do pós-guerra: "Uma vez que o trabalhador é
reduzido a uma máquina, a máquina em si pode confrontá-lo na condição
de concorrente".
O processo, porém, chega a um ponto calamitoso quando os grandes
monopólios produtivos e financeiros extrapolam seus países de origem e buscam
consumidores em outra países, impondo toda uma cultura de consumo pelo consumo
visivelmente suicida, já que esgotam os recursos naturais e humanos do planeta a uma taxa sempre crescente e
irreversível. Fala Marx em O Manifesto Comunista o que todos os ecologistas
dizem hoje em dia: "Pela exploração do mercado
mundial, a alta burguesia imprimiu um caráter cosmopolita à produção e ao
consumo de todos os países". Comenta Francis Wheen que "enquanto importa artigos exóticos, a burguesia impinge seus próprios
produtos, gostos e hábitos a todas as outras pessoas". "Numa
palavra", no dizer de Marx, "ela cria um
mundo à sua própria imagem", sem se perguntar se o
"MUNDO" natural agüenta toda essa imbecilidade. "Para reconhecer
a veracidade disso", comenta Wheen, "basta visitarmos Pequim - a
capital de uma nação declaradamente comunista -, onde o centro da cidade
assemelha-se agora, estranhamente, a uma rua movimentada dos Estados Unidos, com
lojas do McDonald's, da Monsanto, da Kentucky Fried Chicken, da Haagen-Dezs e do Pizza Hunt,
sem falarmos das filiais do Chase Manhattan Bank e do Citibank em que se
depositar os lucros".
Marx previra em vários de seus trabalhos, e em particular em "O
Capital" - um dos livros mais importantes (e paradoxalmente um dos menos lidos na íntegra), e
ainda menos compreendido - e por isso mesmo tão amplamente descartado pelos
"intelectualóides" neoliberais da moda e outros ainda piores - dos
últimos trezentos anos, que o amadurecimento do grande capitalismo de
oligopólios e monopólios internacionais provocaria crises e recessões
econômicas periódicas e sempre mais graves, uma dependência crescente da
tecnologia que aumenta a produção e o desemprego e cujo mal uso causa a maior
parte dos crimes ecológicos atuais, bem como o crescimento anti-natural, qual
imenso Leviatã saturnino a devorar seus "filhos", de empresas
transnacionais poderosas que, qual imensa aranha, projeta suas teias pegajosas
aos quatro cantos do mundo, na sua insaciável e sempre exponencial fome de
novos povos a explorar. E o que tem sido toda a história do século XX,
incluindo duas Guerras Mundiais e centenas de outras menores mas não menos
assassinas (Vietnã, Coréia, Guerra-Fria, "Tempestade no Deserto",
etc.) senão a expressão da fúria por mercados, povos ou áreas com recursos
naturais necessários ao deus "capitalismo"? E a dominação mundial
da McDonald's e da Microsoft? E o desemprego endêmico na hoje ex-potência
econômica que é o Japão? E pior, com a revolução tecnológica que
"deveria" facilitar a vida do homem, o que se tem acrescido é um
número maior de exigências físicas, financeiras e intelectuais que tomam todo
o tempo e forças do homem, tornado as 24 horas do dia muito pouco tempo para o tanto
de exigências que se abatem sobre um trabalhador que tenta, mais que viver,
sobreviver, sacrificando horas valiosas que poderiam ser usufruidas na companhia dos filhos, dos amigos e da auto-instrução, no que a professora, filósofa, editora, conferencista e escritora
brasileira Rose Marie Muraro chama de "a espiral enlouquecida". Mas
há mais de cem anos Marx já tinha plena consciência de para onde caminhava o
capitalismo e seu incentivo no progresso tecnológico, que ao invés do que nos
fazem crer, tem menos a ver com o conforto humano que com a produção de lucros
para os vampiros do capital, como encontramos em O Capital :
"Os meios pelos quais o capitalismo aumenta
a produtividade distorcem o homem comum trabalhador em um fragmento de homem,
rebaixam-no ao nível de apêndice de uma máquina, destroem o conteúdo real de
seu trabalho, transformando-o num tormento cheio de exigências a serem
cumpridas; alienam dele as potencialidades intelectuais do processo de trabalho,
na mesma proporção em que a ciência é incorporada neste como uma força
independente, de pessoas pagas para pensarem pelas demais; deturpam suas
condições de trabalho e o submetem, durante o processo de trabalho, a um
despotismo que é ainda mais odioso por sua mesquinhez; transforma-lhe a vida
em horário de expediente e atiram sua esposa e filhos sob as rodas do carro de
Jagrená do capital (...). A acumulação da riqueza num dos pólos, portanto,
é, ao mesmo tempo, a acumulação da miséria, a tortura do trabalho que
deveria ser um lazer e fonte de satisfação pessoal, a escravidão intelectual
e física, a ignorância, a brutalização e a degradação moral no pólo
oposto".
Mas isso pode se dar com características bizarramente caóticas em um
mesmo país, no qual sua burguesia ajuda a importar valores e estilos do chamado
"Primeiro Mundo" para atrair recursos e capitais externos, piorando a
situação econômica interna.
Senão vejamos: no Brasil existe ou subsiste ainda uma forma bastante
primária de capitalismo no Nordeste. No Sul, existe uma forma mais sofisticada, onde uma burguesia industrial e agrária convive com uma
burguesia insdutrial internacional que impõe modelos de consumo e comportamento. Estes membros formam a força
economicamente privilegiada da nação por deter em suas mãos
os meios técnicos e físicos para a produção
econômica. E para manter indefinidamente seu poder, é necessário
resguardar sempre o domínio destes meios de produção
o que é feito mediante o aperfeiçoamento técnico dos
mesmos, daí a ênfase e o apóio nas chamadas ciências
técnicas: engenharia mecânica e elétrica, computação,
etc. Marx fala que "a burguesia não pode subsistir
sem transformar os instrumentos de produção e, portanto,
as relações de produção (ou seja,
a forma como se dá a relação entre as máquinas
e as pessoas que trabalham com elas), o que implica
na transformação do conjunto das condições
sociais (...). A burguesia criou forças produtivas mais maciças (por
exemplo, as grandes fábricas mecanizadas) e
mais colossais do que as que haviam sido criadas por todas as gerações
do passado, em conjunto (op.cit). Desse jeito, é incentivado
um processo de mecanização e obsolescência, onde instrumentos
que deveriam servir como auxiliares e meios (veja-se o caso dos computadores),
por serem rapidamente descartáveis, se tornam fins em si, realimentando
o processo, matando o emprego e, com este, a dignidade da pessoa humana, que só tem valia se for consumidora.
Surgem assim duas formas básicas de contradição
na sociedade capitalista:
1º. Contradição entre os Meios
Técnicos e as Relações de Produção.
- Os capitalistas, ou seja, os donos daas máquinas, da terra e das
fábricas criam ou incentivam a criação incessante
de meios de produção mais poderosos, por exemplo, novos computadores
que controlam novos robôs, dispensando mão de obra humana
e liberando o patrão de pagar os encargos sociais dos empregados.
Os desempregados, que se aglomeram nas cidades, acabam formando um exércido
de mão-de-obra de reserva que, igualmente, é usado para inibir
os operários e empregados que ainda trabalham e que podem ser facilmente
substituídos pelos que estão desempregados, caso tentem causar
problemas aos patrões. Mas as relações de produção,
ou seja, as relações entre propriedade, trabalho e a distribuição
das rendas não se transformam no mesmo rítimo, ao contrário,
tenta-se sempre deixar aos detentores dos meios de produação
todo os direitos que deveriam ser compartilhado com todos, inclusive a
renda. Por isso a grande Belíndia (mistura entre Bélgica
e Índia) ou o Texas-África que é o Brasil: uma perversa
distribuição de renda que se mantêm às custas
da alienação política da nação, em grande
parte mantida e incentivada pelos meios de comuncação de
massa, como a mídia eletrônica que, em nosso país,
é praticamente controlada pela Rede "Mundo" de Televisão,
surgida na ditadura militar criada com apoio dos EUA em 1964, e sempre governista. Favelas ao lando de grandes
prédios... Indústrias no Sul contra o sistema fundiário
do Norte, etc. (para um estudo do Golpe Militar de 1964,
Clique Aqui).
2º. Contradição entre o Aumento
das Riquezas e a Miséria Crescente da Maioria.- Os que não
detêm os meios de produção, ou seja, a grandiosa maioria
da população, ficam à mercê do que querem os
detentores dos meios de produção. Ora, estes querem sempre
obter mais lucros e garatir seu poder e padrão de vida, sendo assim,
tentam minimizar as despesas com pessoal e manter o controle sobre o pensamento
público. Isso aumenta o desemprego e afunila as maravilhas do mundo
moderno, como educação e saúde, apenas para quem tem
o poder de COMPRÁ-LOS. Empenhados em uma concorrência louca
- que transborda as fábricas e rrecai sobre o modo de vida de todos
e nas relações entre as pessoas -, os capitalistas não
podem deixar de aumentar seus meios de produção e, com isso,
ampliar o número de dependentes proletários e sua miséria (veja a Home Page
Capitalismo: o Sepulcro Caiado).
Como nos fala Raymond Aron, "o caráter
contraditório do capitalismo se manifesta no fato de que o crescimento
dos meios de produção em vez de se traduzir pela elevação
do nível de vida dos trabalhadores leva a um duplo processo de proletarização
(os pequenos agricultores vedem suas terras para procurar empregos
nas cidades) e pauperização
(crescem os miseráveis nas favelas por falta de emprego)"(Aron,
1993, p. 137).
Sendo assim, o capitalismo alienou, isto é, separou, divorciou
o trabalhador comum dos seus meios de produção, pois, por
exemplo, um artesão não poderá competir com uma fábrica.
Só lhe resta vender sua oficina e ir trabalhar nesta fábrica
aceitando as ordens do patrão em troca de um salário pela
venda de sua força de trabalho. A industrialização
de lucro, a propriedade privada e o assalariamento separam o trabalhador
dos meios de produção e do fruto de seu trabalho. Essa é
a base da alienação econômica, fortalecida pela alienação
cultural (os programas de televisão aos domingos e as redes evangélicas pentecostalistas traduzem bem isto),
que ajuda na alienação política.
A alienação política se dá assim: o Estado,
que é administrado pelos políticos eleitos, é mantido
pelos que são eleitos devido não ao debate de idéias
ou presença de competência mas, na maioria das vezes, à
manipulação da propaganda e dos meios de comunicação,
às custas do abuso do poder econômico. Nisso, então,
a Democracia passa a ser uma farsa, pois os direitos não são
iguais entre os candidatos. O Aparentar, o Parecer suplanta o Ser. Basta
ver o modo tendencioso da Rede "Mundo" de televisão nas últimas
três primeiras eleições presidenciais no Brasil para se ter uma
idéia disso (a mesma poderosa organização da mídia
eletrônica ajudou a eleger Collor de Mello e o acompanhava todos
os domingos na sua marotona calculada na Casa da Dinda para, para, posteriormente,
descartá-lo do cenário político quando seus interesses
começaram a ser ameaçados pela mediocridade deste primeiro
Dom Fernando). Assim sendo, os que estão no poder não representam
o povo em si, mas a CLASSE ECONÔMICA DOMINANTE, ou seja, a dos grandes
empresários, banqueiros latifundiários e entidades internacionais.
FHC e ACM são os dois ícones máximos dessa representatividade
elitista (e, agora, por cúmulo do paroxismo esquizfrênico, o próprio "Príncipe Operário", que transformou, ao chegar ao Poder, a esperança de um Partido dos Trabalhadores em um pesadelo dirigido por um Partido de Traidores).
Os programas de comunicação de massa refletem bem essa
ideologia do poder de um determinado grupo. A revista "Observe", por exemplo,
juntamente com a Rede "Mundo" de Televisão fizeram e desfizeram
tudo o que quiseram para enegrecer Lula (no tempo em que ele e o PT ainda eram - ou pareciam ser - os representantes e o partido dos trabalhadores, o que infelizmente mudou, e muito) e engradecer FHC, o doador-mor das riquezas nacionais à ganância internacional. Esquecendo facilmente
que o maior Presidente Norte-Americano, Abrahan Lincoln, era um lenhador
sem estudos, o pobre ex-operário (e atual traidor) Lula foi avacalhado diante do nobre
Doutor Sociólogo... Hipocrisias que trazem os frutos para que delas
usam... Hoje os estudantes universitários são tachados de
mal-educados por estes dois veículos de comunicação
ao protestarem contra o sucatemento com vistas a privatização
das universidades públicas, enquanto FHC é chamado de gentleman
mesmo quando chama o povo brasileiro de capira, os aposentados de vagabundos
(hoje ele não os chama mais assim, é verdade. Ele apenas
age com eles como se realmente o fossem), os sem-terra de maconheiros,
etc... Muito imparcial esses instrumentos de comunicação.
Assim, mutilado e alienado econômica e socialmente, o homem só pode se recuperar sua
condição humana se despertar e se educar. Educação?
No Brasil isso não pode se dar, pois assim muitos iriam despertar
para a sujeira política de nosso sistema, iriam ter uma visão
crítica de mundo, como sonhava Paulo Freire. Assim, é melhor
sucatear a educação pública e as universidades. Só
os que têm dinheiro, e são do lado da burguesia dominate,
ao menos concordantes com sua idelogia, é que podem e devem ser
educados para, assim mesmo, ajudar a manter o sistema. Não é
sem luta que os trabalhadores comuns podem burilar a si mesmos.
E, depois de conscientizado e esclarecido, o homem tem de agir politcamente
para mudar o quadro de desigualdades. Quando isso ocorre, a tão
propalada democracia, especialmente na América Latina, dá
lugar ao apóio da burguesia e dos latifundiários ao Golpe
Militar ou ao Golpe de Estado, para se proteger da ameaça marxista.
Foi assim no Brasil com o infame Golpe de 64, foi assim no Chile, na Argentina....
Fala-se muito das atrocidades dos "comunistas" mas se calam quanto aos
porões das várias ditaduras das repúblicas de bananas
da América Latina. Ainda pior e quase cômicas são as
cruzadas de certos "intelectuais" de direita que, não podendo fazer
frente ao poder intelectual de Marx, reconhecido e admirado no mundo todo,
menos dos Estados Unidos e - por imitação subserviente -
no Brasil, apelam para os maiores absurdos com o aval da mídia comercial, geralemnte aso de grandes conglomerados industriais, para desacreditar os pensadores
de esquerda, mesmo os mais úteis ao país, em especial no
Brasil. Nomes como Roberto Campos ou do auto-intitulado "filósofo"
- e também astrólogo - Olavo de Carvalho (articulista de
um império de telecomunicações que põe e tira
da presidência quem quer, desde que seja de direita, sob o comando
de um nonagenário
Cidadão Kane tupininquim, como diz o excelente documentário da BBC Brazil, Beyond the Citizen Kane) já são
suficientes exemplos de tais "pseudo-pensadores" ou os poucos privilegiados pelo sistema injusto, tipos M. Kadayan e seus aviõezinhos. Para um aprofundamento desta questão veja a entrevist de Noam Chomsky para a jornalista Regina Zappa, intitulada
"Mídia e Poder".
"Mas há um fenômeno que nem Marx nem eu tínahmos
previsto: é que, no fim da década de 1990, depois do
fim da Guerra Fria e da aparente vitória que para os ricos e bem
postos seria a de Deus sobre Satanás, em que um sem-número
de sabichões declarara que havíamos chegado ao que Francis
Fukuyama chamou, presunçosamente, de o Fim da História, e
depois de ter sido descartado pelos liberais da moda, Marx viesse a ser
subitamente saudado como um gênio pelos próprios velhos burgueses
capitalistas maldosos. O primeiro sinal dessa reavaliação
bizarra surgiu em outubro de 1997, quando uma edição especial
do New Yorker rotulou Karl Marx de 'o próximo grande
pensador', um homem que tem muito a nos ensinar sobre a corrupção
política, o monopólio, a alienação, a desigualdade
e os mercados globais. 'Quanto mais tempo passo em Wall Street, mais me
convenço que Marx tinha razão', disse um rico banqueiro de
investimento à revista. ' Estou absolutamente convencido de que
a abordagem de Marx é a melhor maneira de pensar o capitalismo'.
Desde então, economistas e jornalistas de direita começaram
fazer fila para prestar homenagens semelhantes (...)."
Francis Wheen
É essa a mensagem básica de Karl Marx, e a sua grandeza.
O conceito de alienação é, para mim, o mais básico
e brilhante da teoria marxiana do capitalismo. Em muitos pontos, foi sua
bagem humanista e filosófica que levou Marx ao estudo aprofundado
da Economia e da História. Marx tinha o que hoje chamamos de consciência
sistêmica ou ecológica das coisas, mas não desenvolveu
muito - nem poderia com os recursos de seu tempo - um trabalho nesse sentido.
Mas ele viu muito à frente do seu tempo. Ele fez muito para uma
só existencia e isso já basta. Seu trabalho foi levado adiante
em nosso século por nomes como Rosa Luxembrugo, Antonio Gramsci, Pablo Picasso, Frida Kahlo,
Edgar Morin, Jean Paul Sartre, Che Guevara, Mário de Andrade, Antonio
Houaiss, Paulo Freire, Florestan Fernandes, Barbosa Lima Sobrinho, Chico
Buarque de Holanda, Carlos Chagas... E podemos ver que o pensamento marxiano,
no que tem de profundamenteo humanista, está concordo com os trabalhos
progressistas e profundamente e cristão de Leonardo Boff, Dom José
Maria Pires, Dom Hélder Câmara, ou de organizações
como Greenpeace, ONGs várias, entre inúmeros outros nomes
e associações.
"A alienação imputável à propriedade privada
dos meios de produção se manifesta no fato de que o trabalho,
atividade essencialmente humana, que define a humanidade (e criatividade)
do homem, perde suas características humanas, já que passa
a ser, para os assalariados, nada mais que um meio de sobrevivência.
Em vez do trabalho ser a expressão do próprio homem, o trabalho
se vê degradado em instrumento, em meio de viver.
"Os empresários também são alienados, pois a finalidade
das mercadorias de que dispõem não é atender a necessidades
realmente sentidas pelos outros, mas são levados ao mercado para
obter lucro. O empresário se torna escravo de um mercado imprevisível,
sujeito aos azares da concorrência. Explora os assalariados mas nem
por isso ele é humanizado no seu trabalho, pelo contrário,
aliena-se em benefício de um mecanismo anônimo."
Raymond Aron
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