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Abraham Harold Maslow e a Psicologia da Auto-Realização

  Por: Alexandre Pedrassoli

Biografia

Maslow foi um pensador supreendentemente original, pois a maioria dos psicólogos antes dele estavam mais preocupados com a doença e com a anormalidade. Maslow queria saber o que constituía a saúde mental positiva. A psicologia humanista, corrente impulsionada por ele, deu origem a diversas diferentes formas de psicoterapia, todas guiadas pela idéia de que as pessoas possuem todos os recursos internos necessários ao crescimento e à cura e o objetivo da terapia é remover os obstáculos para que o indivíduo consiga isso. A mais famosa dessas técnicas foi a terapia centrada na pessoa, desenvolvida por Carl Rogers. Maslow foi também um dos grandes impulsionadores do movimento transpessoal em psicologia.

Abraham Maslow nasceu no dia 1 de abril de 1908, no Brooklyn, NY. Foi o primeiro dos 7 filhos de seus pais, que eram judeus com pouca educação, imigrantes da Rússia. Seus pais, querendo o melhor para seus filhos, foram extremamente exigentes com Maslow em relação ao sucesso acadêmico. Sua infância parece ter sido muito infeliz, de acordo com seus próprios relatos:

Fui um garoto tremendamente infeliz... Minha família era miserável e minha mãe era uma criatura horrível... Cresci dentro de bibliotecas e sem amigos... Com a infância que tive, é de se surpreender que eu não tenha me tornado um psicótico. (Maslow apud Hoffman, 1999, p. 1)

Para satisfazer seus pais, ele primeiro estudou Direito no City College of New York (CCNY). Após 3 semestres, ele se transferiu para o Cornell, e depois retornou ao CCNY. Casou-se com Bertha Goodman em 1928, sua prima em primeiro grau, contra a vontade de seus pais. Abraham e Bertha tiveram duas filhas.

O casal mudou-se para Wisconsin para que ele pudesse cursar a Universidade de Wisconsin. Lá, ele se interessou pela psicologia, e seu desempenho escolar melhorou dramaticamente. Passava o tempo lá trabalhando com Harry Harlow, famoso por seus experimentos com bebês-macacos e comportamento de apego.

Maslow terminou sua graduação em 1930, seu mestrado em 1931 e seu doutorado em 1934, todos em psicologia, todos na Universidade de Wisconsin. Um ano após a graduação, ele retornou a NY para trabalhar com E. L. Thorndike na Universidade de Columbia, onde Maslow passou a interessar-se pelo estudo da sexualidade humana.

Começou a lecionar em tempo integral no Brooklyn College. Durante esse período de sua vida, entrou em contato com muitos intelectuais europeus que estavam migrando para os Estados Unidos, e para o Brooklyn em particular – pessoas como Adler, Fromm, Horney, bem como vários psicólogos freudianos e da Gestalt.

Maslow coordenou o curso de psicologia em Brandeis de 1951 a 1969. Lá conheceu Kurt Goldstein, que concebeu originalmente a idéia de auto-realização em seu famoso livro "O Organismo" (1934). Foi lá também que Maslow iniciou sua cruzada pela psicologia humanista – algo que se tornou muito mais importante para ele do que suas próprias teorias.

Maslow, junto com Anthony Sutich, foram os principais responsáveis pelo lançamento, nos Estados Unidos, da Revista de Psicologia Humanista em 1961, e pela fundação da Association for Humanistic Psychology, em 1962.

Já no fim de sua vida, Maslow incentiva Anthony Sutich a criar a Revista de Psicologia Transpessoal, em 1969. Maslow também incentivou, mas não chegou a ver a fundação da Associação de Psicologia Transpessoal (Association for Transpersonal Psychology), que só ocorreria em 1972.

Ele passou os anos finais de sua vida em semi-reclusão na Califórnia até 8 de junho de 1970, quando morreu de ataque cardíaco após anos de problemas de saúde.

 

Teoria

Uma das muitas coisas interessantes que Maslow descobriu quando pesquisava o comportamento de macacos, logo no início de sua carreira, é que algumas necessidades têm mais prioridade que outras. Por exemplo, se você sente fome e sede, a tendência é tentar resolver a sede primeiro. Afinal, você pode ficar sem comida por semanas, mas apenas sobreviverá por alguns dias se não beber água. Por isso, a sede é uma necessidade "mais forte" que a fome. Do mesmo modo, se você está com muita sede e alguém impede você de respirar, o que é mais importante? A necessidade de respirar, é claro. Por outro lado, sexo é a necessidade mais fraca de todas essas. Sejamos francos, você não vai morrer se ficar sem fazer sexo.

Maslow aproveitou essa idéia e criou sua famosa Hierarquia de Necessidades. Ele definiu cinco níveis de necessidades:

  1. as necessidades fisiológicas (onde se localizam as necessidades de ar, água, comida e sexo que mencionamos);
  2. as necessidades de segurança e estabilidade;
  3. necessidades de amor e pertencimento;
  4. as necessidades de estima;
  5. a necessidade de auto-realização.

 

As necessidades básicas

1. As necessidades fisiológicas. Essas incluem as necessidades que temos de oxigênio, água, proteínas, sais, açúcares, cálcio e outros minerais e vitaminas. Também incluem a necessidade de manutenção do pH do organismo (uma acidez excessiva ou muito baixa pode matar você) e da temperatura (36oC ou próximo disso). Além disso, há necessidade de ter atividades, de descansar, dormir, livrar-se de substâncias tóxicas ou inúteis (CO2, suor, urina, fezes), de evitar dor e de fazer sexo. Uma coleção de necessidades bastante grande!

Maslow acreditava, e a pesquisa confirma, que uma falta de, por exemplo, vitamina C, provocará um desejo por coisas específicas que forneceram vitamina C no passado – por exemplo, suco de laranja.

2. As necessidades de segurança e estabilidade. Quando as necessidades fisiológicas são resolvidas de um modo geral, o segundo nível de necessidades entra em jogo. Você se tornará gradualmente mais interessado em encontrar circunstâncias seguras, de estabilidade e proteção. Você vai desenvolver a necessidade de ter uma estrutura, alguma ordem e alguns limites.

Olhando pelo lado negativo, você vai passar a se preocupar não mais com sua fome e sua sede, mas com seus medos e ansiedades. Esse grupo de necessidades se manifesta no desejo de ter um lar seguro, um emprego, um plano de saúde, um plano de aposentadoria, e assim por diante.

3. As necessidades de amor e pertencimento. Quando se consegue suprir, de modo geral, as necessidade fisiológicas e de segurança, surge um terceiro nível. Você começa a sentir necessidade de ter amigos, um namorado ou namorada, filhos, bons relacionamentos em geral, e mesmo um senso de comunidade. Olhando pelo lado negativo, você se torna gradualmente mais sensível à solidão e às ansiedades sociais.

No nosso dia-a-dia, expressamos essas necessidades em nossos desejos de casar, ter uma família, ser parte de uma comunidade, membro de uma religião, torcedor de um time, etc. Isso também é parte do que procuramos quando escolhemos uma profissão.

4. As necessidades de estima. Em seguida, começamos a desejar um pouco de auto-estima. Maslow percebeu duas versões das necessidades de estima: uma inferior e uma superior. A inferior é o desejo de ter o respeito dos outros, a necessidade de status, fama, glória, reconhecimento, atenção, reputação, apreciação, dignidade e mesmo dominância. A versão superior envolve a necessidade de auto-respeito, incluindo sentimentos como confiança, competência, capacidade de realização, mestria, independência e liberdade. Note que essa é uma forma "superior" porque, diferente do respeito que os outros têm por você, uma vez que você tenha auto-respeito, este é muito mais difícil de perder.

A falta de satisfação dessas necessidades são o que geram a baixa auto-estima e os complexos de inferioridade. Maslow percebeu que Adler tinha encontrado algo importante quando propôs que essas eram as raízes de muitos, senão da maioria, de nossos problemas psicológicos.

Os quatro níveis anteriores são chamados D-Needs (Deficit Needs, necessidades geradas pela falta). Isso significa que, se você não tem o que precisa – ou seja, se você tem um déficit – então você sente a necessidade.

Maslow também fala desses níveis inferiores em termos de homeostase. Homeostase é o princípio pelo qual a temperatura do seu organismo é controlada, buscando sempre o ponto de equilíbrio. Quando o tempo está muito quente, a transpiração faz com que seu corpo esfrie. Quando o tempo está frio, o metabolismo se acelera para aquecer o corpo. Do mesmo modo, quando seu corpo precisa de alguma substância, surge um desejo por algum alimento que contenha aquela substância. Quando você tiver essa substância em quantidade suficiente no corpo, aquela fome específica cessará. O ponto de equilíbrio foi atingido, pelo menos por enquanto. Maslow simplesmente estendeu o princípio da homeostase para as necessidades de segurança, pertencimento e estima. 

Maslow vê esses quatro primeiros níveis como necessidades de sobrevivência. Até mesmo amor e estima são necessários à manutenção da saúde. Ele diz que todos nós temos essas necessidades implantadas geneticamente, como se fossem instintivas. De fato, ele usa o termo "necessidades instintóides" (instintóide significa "como se fosse um instinto").

Em termos de desenvolvimento geral, nós percorremos esses níveis um pouco como se fossem estágios. Quando somos recém-nascidos, nosso foco está no fisiológico. Mas logo começamos a reconhecer nossa necessidade de segurança. Logo depois disso, o bebê se esforça por conseguir atenção e afeição. Um pouco mais tarde, procuramos auto-estima. Veja só, isso tudo nos primeiros anos de vida!

Em situações de estresse, ou quando nossa sobrevivência é ameaçada, pode acontecer de "regredirmos" a um nível inferior de necessidades. Quando sua maravilhosa carreira profissional vai por água abaixo, pode ser que você comece a procurar um pouco de atenção. Se sua família vai embora de repente, vai parecer que amor é tudo que você sempre precisou na vida. Se você vai à falência depois de uma vida longa e feliz, de repente você não consegue pensar em nada além de dinheiro.

Essas coisas podem acontecer também além do nível individual, no nível social. Quando uma sociedade se desorganiza, as pessoas começam a desejar um líder forte que conserte as coisas. Se o país entrar em guerra e bombas começarem a cair, a principal preocupação das pessoas passará a ser a segurança. Se os alimentos pararem de chegar aos mercados, as necessidades se tornarão ainda mais básicas, chegando ao nível fisiológico.

Maslow sugeria que se perguntasse às pessoas sobre sua "filosofia do futuro" – ou seja, como seria a vida ideal ou o mundo ideal para elas. Pelas respostas, pode-se obter informações importantes sobre quais necessidades elas tinham ou não suprido.

Se você teve problemas significativos ao longo do desenvolvimento – um período de muita insegurança ou fome quando criança, ou perda de um membro da família devido a morte ou divórcio, ou ainda negligência ou abuso – pode ser que você se "fixe" naquele grupo de necesssidades pelo resto de sua vida.

Esta é a compreensão de Maslow sobre a neurose. Imagine que você passou por uma situação de guerra quando criança. Agora você pode ter tudo que precisa, mas ainda poderá estar obcecado por guardar dinheiro ou ter um estoque de comida. Ou talvez seus pais se divorciaram quando você era jovem. Agora você tem uma maravilhosa esposa, mas tem um ciúme doentio e um medo de que ela o deixe porque você não é bom o suficiente para ela.

 

Auto-realização

Os quatro níveis na parte de baixo da Pirêmide de Necessidades são os D-Needs (Deficit Needs). Ou seja, se você tem falta em algum desses níveis, você sente a necessidade, e procura supri-la. Mas se você tiver tudo que precisa, o que você sente? Nada?! É isso mesmo! Ou seja, essas necessidades deixam de ser motivadoras. É estranho pensar dessa forma, mas se você supriu todas as necessidades fisiológicas, de segurança, de amor e de estima, então você não sente mais falta de nada! Qual então a motivação para continuar se desenvolvendo?

É por isso que o último nível é um pouco diferente. Maslow usou uma variedade de termos para se referir a este nível. Ele o chamou de B-Needs (Being Needs, ou Necessidades de Ser), ou ainda "motivação para o crescimento", ou ainda "auto-realização". As pessoas que atingem esse nível foram chamadas por Maslow de "auto-realizadoras".

As necessidades desse nível não se referem à busca de equilíbrio ou homeostase. Uma vez que essas necessidades são acionadas, elas continuam a ser sentidas indefinidamente, e não há como atendê-las plenamente. É como se elas se tornassem mais fortes quanto mais você tenta alimentá-las. Elas se referem ao contínuo desejo de desenvolver potencialidades, de "ser tudo que você pode ser". Elas o impelem a se tornar o mais completo "você" que só você pode ser. Daí o termo auto-realização.

 

As pessoas auto-realizadoras

Vamos pensar um pouco na teoria até este ponto. Se você quer ser realmente uma pessoa auto-realizadora, você precisa suprir suas necessidades inferiores, pelo menos até certo nível. Isso faz sentido: se você tem fome, você vai se virar para conseguir comida; se você não se sente seguro, estará constantemente em alerta; se você está isolado e sem amor, você vai tentar satisfazer essa necessidade; se você tem uma baixa auto-estima, vai se tornar defensivo ou tentar compensar de alguma forma. Ou seja, quando suas necessidades inferiores não são satisfeitas, você não consegue se dedicar totalmente ao desenvolvimento de seus potenciais.

Não é surpresa, portanto, com o mundo difícil em que vivemos hoje, que apenas uma pequena porcentagem da população mundial seja, verdadeira e predominantemente, auto-realizadora. Maslow em certo ponto sugeriu que apenas 2% da humanidade são pessoas auto-realizadoras.

Surge então a questão: o que exatamente Maslow chama de auto-realização? Para responder a isso, precisamos dar uma olhada nas pessoas que ele chamava de auto-realizadoras. Felizmente, Maslow fez isso para nós, usando um método qualitativo denominado análise biográfica.

Pra começar, ele selecionou um grupo de pessoas. Algumas eram figuras históricas, outras eram pessoas que ele conhecia. As pessoas escolhidas eram aquelas que Maslow sentia que se encaixavam no padrão de auto-realização. Nesse grupo estavam Abraham Lincoln, Thomas Jefferson, Albert Einstein, Eleanor Roosevelt, Jane Adams, William James, Albert Schweitzer, Benedict Spinoza, Aldous Huxley, e mais 12 pessoas cujos nomes foram mantidos em segredo e que estavam vivas na época em que Maslow conduziu a pesquisa. Ele então estudou suas biografias e escritos, e os atos e palavras daquelas que ele conhecia pessoalmente. A partir dessas fontes, Maslow criou uma lista de qualidades que pareciam características dessas pessoas, em oposição à grande maioria de pobres mortais como nós.

Essas pessoas eram "centradas na realidade" (reality-centered), o que significa que elas conseguiam distinguir o que é falso e enganoso do que é real e genuíno. Elas eram "centradas em problemas" (problem-centered), o que quer dizer que elas tratavam as dificuldades da vida como problemas que precisavam de soluções, não como frustrações pessoais com as quais devessem se irritar e se conformar. Elas tinham uma percepção diferente de meios e fins. Elas sentiam que os fins não necessariamente justificavam os meios, mas que os meios poderiam ser fins em si mesmos e que os meios – a jornada – eram, com muita freqüência, mais importantes que os fins.

Os auto-realizadores também têm um modo diferente de se relacionar com os outros. Primeiramente, eles apreciam a solidão e se sentem confortáveis em estar sozinhos. E eles apreciam relações pessoais profundas com alguns poucos amigos próximos e membros da família, mais do que relações superficiais com muitas pessoas.

Eles apreciam a autonomia, uma relativa independência das necessidades físicas e sociais. E eles resistem à aculturação, ou seja, não são suscetíveis à pressão social de serem "bem ajustados" ou de se adequarem ao padrão – eles são, na verdade, inconformados, no melhor dos sentidos.

Eles têm um senso de humor não hostil – preferem fazer piada de si próprios, ou da condição humana, e nunca fazem humor às custas de alguém. Eles têm uma qualidade que Maslow chamou de aceitação de si-mesmo e dos outros, que significa que eles são mais propensos a aceitar você como você é do que tentar mudá-lo para o modo como eles acham que você deveria ser. Essa mesmo aceitação aplica-se às atitudes deles em relação a si mesmos: se alguma característica pessoal não é prejudicial, eles a aceitam, até mesmo apreciando-a como uma peculiaridade pessoal. Por outro lado, eles são fortemente motivados a mudar características negativas de si próprios que podem ser mudadas. Paralelamente a essa aceitação, possuem espontaneidade e simplicidade: eles preferem ser eles mesmos a serem pretensiosos ou artificiais.

Além disso, eles tinham um senso de humildade e respeito para com os outros – algo que Maslow também chamou de "valores democráticos" – significando que eles eram abertos à diversidade dos indivíduos e à diversidade étnica, considerando-as inclusive um tesouro da humanidade. Eles tinham uma qualidade que Maslow chamou "human kinship", termo que denota um sentimento de fraternidade para com a raça humana. Significa interesse social, compaixão, humanidade. Essa qualidade era acompanhada de um forte senso ético, que tinha uma conotação espiritual, mas raramente ligado a religiões convencionais.

E essas pessoas tinham uma habilidade de ver as coisas, até mesmo as coisas comuns, com admiração. Em paralelo a isso há a capacidade de serem criativas, inventivas e originais.

E finalmente, essas pessoas tendiam a ter mais experiências culminantes (peak experiences) do que as pessoas comuns. Uma experiência culminante é um momento em que você é tirado de si mesmo, que faz você se sentir minúsculo, ou muito grande, em certa medida sentir-se um com a vida, ou com a natureza, ou com Deus. Dá a sensação de ser parte do infinito e do eterno. Essas experiências tendem a deixar marcas profundas na vida da pessoa, mudá-la para melhor, e muitas pessoas procuram essa experiência ativamente. São também chamadas de experiências místicas, e são conhecidas em muitas tradições religiosas e filosóficas.

Maslow obviamente não declara que os auto-realizadores são perfeitos. Há muitas falhas ou imperfeições que ele descobriu ao longo de suas pesquisas. Em primeiro lugar, essas pessoas freqüentemente sofrem de considerável ansiedade e culpa – culpa e ansiedade realistas, e não as versões neuróticas. Alguns deles estavam sempre perdidos em pensamentos ou eram exageradamente bondosos. E finalmente, alguns deles tinham momentos inesperados de crueldade, frieza e perda de humor.

Há duas outras observações sobre os auto-atualizadores: a primeira é que seus valores eram "naturais" e pareciam fluir sem esforço de suas personalidades. Em segundo lugar, eles pareciam transcender muitas das dicotomias que outros aceitavam como inquestionáveis, como por exemplo as diferenças entre espiritual e físico, ou entre egoísmo e o altruísmo, ou entre o masculino e o feminino.

 

Metanecessidades e metapatologias

Outro modo como Maslow abordou o problema de definir o que é a auto-realização foi falando sobre as necessidades especiais, também chamadas de metanecessidades (B-needs), que direcionam a vida dos auto-realizadores. Eis o que eles precisam em suas vidas para serem felizes:

Desejados Indesejados
Verdade Desonestidade
Beleza Feiúra ou vulgaridade
Unidade, completude, transcendência de opostos Arbitrariedade ou escolhas forçadas
Vitalidade Morte ou mecanização da vida
Singularidade Uniformidade
Perfeição e necessidade Descuido, inconsistência ou acidente
Justiça e ordem Injustiça e ausência de leis
Simplicidade Complexidade desnecessária
Riqueza Empobrecimento ambiental
Ausência de esforço Esforço excessivo
Auto-suficiência Dependência
Sentido Ausência de sentido

À primeira vista, pode parecer que todo mundo obviamente precisa disso. Mas pense: se você vive em dificuldades econômicas ou em meio a uma guerra, se você vive numa favela, você se preocupa mais com esses valores, ou em como conseguir comida ou um teto para passar a noite? De fato, Maslow acredita que muito do que está errado no mundo é devido ao fato de muito poucas pessoas estarem interessadas nesses valores – não porque sejam más pessoas, mas porque elas nem sequer conseguiram atender suas necessidades básicas.

Quando o auto-realizador não consegue satisfazer essas necessidades, ele desenvolve metapatologias – uma lista de problemas tão grande quanto a lista de metanecessidades! Vamos resumir dizendo que, quando forçado a viver sem esses valores, o auto-realizador desenvolve depressão, falta de esperança, desgosto, alienação e um certo grau de cinismo.

Maslow esperava que seus esforços em descrever as pessoas auto-realizadoras eventualmente levassem a uma "tabela periódica" dos tipos de qualidades, problemas, patologias e soluções características dos mais altos níveis do potencial humano. Com o tempo, ele dedicou atenção crescente não à sua própria teoria, mas à Psicologia Humanista e ao movimento dos potenciais humanos.

O modelo de hierarquia de necessidades foi desenvolvido entre 1943 e 1954, e sua primeira publicação extensiva ocorreu em 1954, no livro Motivação e Personalidade. Nessa época, o modelo de hierarquia de necessidades era composto de cinco níveis, esses que apresentamos aqui. Mais tarde, em seu livro Introdução à Psicologia do Ser (1962), que acabou por se tornar o mais popular, Maslow já apresentava uma noção mais ampliada das necessidades humanas e já incorporava elementos do que seriam a semente do pensamento transpessoal em Maslow, em especial a noção de transcendência. Estudiosos da obra de Maslow posteriormente refizeram a clássica pirâmide, que passou então a ter oito camadas:

Pirâmide de Necessidades de Maslow

 No fim de sua vida, Maslow inaugurou o que ele chamou de Quarta Força em psicologia. O behaviorismo era a primeira força; A psicanálise freudiana e demais "psicologias profundas" constituíam a segunda; sua própria Psicologia Humanista, incluindo os existencialistas europeus era a terceira força. A Quarta Força é representada pela Psicologia Transpessoal que, buscando inspiração nas filosofias orientais, pesquisa assuntos como meditação, níveis superiores de consciência, e mesmo fenômenos parapsicológicos. Talvez o transpersonalista mais conhecido atualmente seja Ken Wilber, autor de livros como O Projeto Atman e Uma Breve História de Tudo.

Maslow depositava uma esperança otimista nessa nova corrente da psicologia. Vejamos suas próprias palavras, no Prefácio à segunda edição de "Introdução à Psicologia do Ser":

Considero a Psicologia Humanista, ou Terceira Força em Psicologia, apenas transitória, uma preparação para uma Quarta Psicologia ainda "mais elevada", transpessoal, transumana, centrada mais no cosmo do que nas necessidades e interesses humanos, indo além do humanismo, da identidade, da individuação e quejandos. [...] Esses novos avanços podem muito bem oferecer uma satisfação tangível, usável e efetiva do "idealismo frustrado" de muita gente entregue a um profundo desespero, especialmente os jovens. Essas Psicologias comportam a promessa de desenvolvimento de uma filosofia de vida, de um substituto da religião, de um sistema de valores e de um programa de vida cuja falta essas pessoas estão sentindo. Sem o transcendente e o transpessoal ficamos doentes, violentos e niilistas, ou então vazios de esperança e apáticos. Necessitamos de algo "maior do que somos", que seja respeitado por nós próprios e a que nos entreguemos num novo sentido, naturalista, empírico, não-eclesiástico [...]

Maslow não chegou a ver fundada a Associação de Psicologia Transpessoal (Association for Transpersonal Psychology), o que só ocorreu em 1972, dois anos após sua morte.

 

Principais influenciadores

Alfred Adler (1970-1937), médico e psicólogo austríaco

Erich Fromm (1900-1980), psicanalista alemão

Harry Harlow (1905-1981), psicólogo americano

Kurt Goldstein (1878-1965), psiquiatra alemão

Max Wertheimer (1880-1943), psicólogo tcheco

Ruth Benedict (1887-1948), antropóloga americana

 

Linha do Tempo

1908   No dia 1 de abril, nasce Abraham Harold Maslow, no Brooklyn, Nova Iorque (EUA). 
1928   Casa-se, contra a vontade de seus pais, com Bertha Goodman, sua prima em primeiro grau
1930   Forma-se em Psicologia, pela Universidade de Wisconsin
1931   Termina seu mestrado em Psicologia, na Universidade de Wisconsin
1934   Termina seu doutorado em Psicologia, também pela Universidade de Wisconsin
1937-1951   Leciona no Brooklyn College, em Nova Iorque.
1943   Publica o artigo "A Theory of Motivation" (Uma teoria sobre a motivação), que acabaria se tornando famoso por introduzir a primeira noção da Hierarquia de Necessidades.
1951   Torna-se chefe do departamento de Psicologia da Universidade de Brandeis.
1954   Publica o livro "Motivação e Personalidade" (Motivation and Personality)
1961   Maslow ajuda Anthony Sutich a criar a Revista de Psicologia Humanista
1962   Escreve o livro "Introdução à Psicologia do Ser" (Towards a Psychology of Being)
1962   Maslow ajuda Anthony Sutich a fundar a Associação de Psicologia Humanista (Association for Humanistic Psychology).
1968   Maslow é eleito presidente da Associação de Psicologia Americana.
1970   Em 8 de junho, Maslow morre, aos 62 anos, de ataque cardíaco.

 

Livros de Abraham Maslow
(o ano indicado refere-se à primeira edição da obra)

Motivation and Personality. Harper Row, 1954.

Toward a Psychology of Being. (Introdução à Psicologia do Ser). Van Nostrand, 1962.

Religions, Values and Peak-experiences. Ohio State University, 1964.

The Psychology of Science: A Reconnaissance. Harper Row, 1966.

The Farther Reaches of Human Nature. Viking Press, 1971.

Future Visions: The Unpublished Papers of Abraham Maslow. Sage Publications, 1996.

Maslow on Management. (Maslow no Gerenciamento). Wiley, 1998.

The Maslow Business Reader. (O Diário de Negócios de Maslow). Wiley, 2000.

  

Referências Bibliográficas

A SCIENCE ODISSEY: Peoples and Discoveries: Abraham Maslow. Disponível em: <http://www.pbs.org/wgbh/aso/databank/entries/bhmasl.html>. Acesso em: 4 abr. 2008.

BOEREE, C. G. Abraham Maslow. Disponível em: <http://webspace.ship.edu/cgboer/maslow.html>. Acesso em: 4 abr. 2008.

BUTLER-BOWDON, Tom. 50 Psychology Classics: Who We Are, How We Think, What We Do; Insight and Inspiration from 50 Key Books. London: Nicholas Brealey Publishing, 2007.

HOFFMAN, Edward. The right to be a human: a biography of Abraham Maslow. McGraw-Hill, 1999.

HUITT, William G. Maslow's Hierarchy of Needs. Educational Psychology Interactive, Valdosta State University, Valdosta, GA, 2004. Disponível em: <http://chiron.valdosta.edu/whuitt/col/regsys/Maslow.html>. Acesso em: 23 jun. 2008.

MASLOW, A. H. Introdução à Psicologia do Ser. 2.ed. Rio de Janeiro: Eldorado, s/d.

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