KARDEC, O TRANSCOMUNICADOR |
A quem pertence a exclusividade da comunicação com os desencarnados?
Esse artigo não pretende por uma pá de cal em tão delicado assunto mas, se
pudermos acender um fósforo nessa escuridão, já terá valido a pena...
Em tese, espiritualistas todos nós somos, pois o ser humano é um médium
em menor ou maior grau. Desde a Antigüidade nossos ancestrais dedicavam parte
do seu tempo para a adoração dos deuses (leia-se "entidades"),
fossem eles ou não astronautas. Os xamãs existem em todas as tradições, e
mesmo na Bíblia, desde o livro Gênese até os apócrifos, os relatos de
comunicações com entes não materiais se multiplicam, em quase todos os capítulos.
E o Cristianismo é a religião com mais adeptos no mundo.
Os judeus acreditam na vida pós-morte; a Cabala é um dos livros mais
esclarecidos sobre o extra-corpo, mas recomenda que eles devem ser deixados em
paz. Ainda assim, o Torá admite que alguns iluminados foram inspirados por
alguma inteligência exterior. Finalmente, todas as religiões e seitas, desde
que pretendem guiar os adeptos, e forçadas pela única certeza da vida (a morte
física), têm de aprofundar o polêmico assunto da alma e a sua comunicação
com os que ficam. Todas admitem a sobrevivência (ou nem precisariam existir...)
mas discordam sobre a capacidade do vivo de se comunicar com um ex-vivo. Em
outras palavras, a "coisa" existia, mas era tabu, com punições para
os transgressores, que iam das fogueiras aos hospícios.
Os tempos mudaram, pelo menos no que se refere aos castigos. Hoje em dia
o anátema se realiza com o ridículo. O Discovery Channel, no seu pífio
Mysterious Forces Beyond, tenta acalmar o kistch público americano, concluindo
sempre com uma dúvida-quase-certeza de que nada foi provado até aqui...
"Os magníficos médiuns e as suas aparições voadoras" são tratados
com o mesmo tom folclórico dos efeitos visuais de George Lucas, bonitos de ver,
mas só existem nas cabeças dos seus criadores. Quem já viu os debates idiotas
abrilhantados pelo Padre Quevedo nas nossas TVs sabe do que estamos falando.
Doutor Fritz está cansado de fazer operações de todos os tipos a vivo e em
cores, mas cada vez que essas assumidades são chamadas para uma discussão
sobre a "validade" desses fenômenos, o mesmo rosário de
mediocridades volta do túmulo. Como o Vampiro da Noite.
Mas a Internet não tem nenhum dono de rabo preso com os católicos nem
com a Igreja Universal, ninguém está à cata de votos nem de vender livros,
revistas, santinhos, bênçãos papais ou que-tais. Podemos expor livremente
nossas idéias! Procura o site quem está interessado, e pode expor a sua reação
no e-mail. Se o Padre Landell tivesse uma page no seu tempo, não teria quem o
fizesse calar... livre como acontece agora. Os nossos primeiros artigos foram
lidos e considerados pelo Além, e tivemos a felicidade de obter o sinal verde
para outros temas.
Esse trata de uma discussão nascida no meio da religião, a que mais
profundamente, mais metodicamente, mais libertamente estudou o canal de comunicação
entre as dimensões. Falamos do Espiritismo, naturalmente. E isso inclui o seu
codificador, Allan Kardec.
Estamos em Janeiro de 1855, e o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail,
incentivador das teorias educacionais do seu mentor, o pedagogo suíço doutor
Pestalozzi, renomado autor de vários livros, figura de projeção na França
conturbada do auto-imperador Napoleão lll, aceita ver o fenômeno das mesas que
se moviam por si. Messieur Rivail não saiu impressionado da sessão, apesar de
que as tais mesas andassem à solta como quadrúpedes de madeira. O mesmerismo
era moda, o próprio imperador era um adepto das reuniões que antecediam a série
Poltergeist. Com uma lucidez surpreendente para a época, ele concluiu que o que
vira não deveria ser atribuído exclusivamente aos "fantasmas", mas
que o homem teria algum tipo de força magnética capaz de produzir o fenômeno
e outros mais. Até aí, tudo bem, ainda que a Discovery (no tal programa, sobre
fenômenos físicos), cento e vinte anos depois, empine o nariz para a
telecinese.
Mas em Maio do mesmo ano, Kardec é levado para um outro tipo de mesa,
esta respondendo a perguntas. "Ah, aí temos algo bem diferente. Mesas que
falam?" Que coragem! Um cientista que foi ver o sobrenatural de perto! O código
seria muito simples, alguma coisa como uma batida para sim, duas para não. Nada
de andar ao léu, era uma mesa com cérebro de pau ou a realidade da sobrevivência.
Era só escolher e ele optou pela segunda hipótese. Em Agosto, Allan Kardec se
iniciou na comunicação interplanar através de duas jovens, e a sua vasta
pesquisa, base da religião (a nosso ver) que possui as melhores respostas,
seguia o seu curso. O método é o que se vê nos centros espíritas, perguntas
à entidade usando o médium como (desculpe a redundância) meio.
Veio o século do progresso e, com ele, as novidades. Entre elas, o
telefone, o rádio, o fonógrafo e os aviões de carreira.
Por que os espíritos, que já teriam utilizado todos os meios possíveis
para chegar aos homens, não procurassem fazer uso da técnica? Eles já tinham
tentado Eva pela boca de uma cobra, ou demonstrado a preferência pelo sacrifício
animal ao invés da queima de ervas no affair Caim versus Abel (Gênese, de
novo), falado com Moisés através de um arbusto em chamas, com Jesus na forma
de um pombo, ou pelas estrelas, entranhas de animais, linhas das mãos, búzios,
varinhas, baralhos, bolas de cristal... Os cientistas do princípio do século
sentiram "no ar" que os novos aparelhos logo serviriam de ponte entre
os dois planos, e diversas patentes foram pedidas por celebridades como Thomas
Edison...
O "telefone humano" tem nos dado as mais importantes comunicações
com o Al-Di-La, oferecendo respostas para as mais dolorosas perguntas, como
"se só se tem uma vida, por que então nascem crianças deformadas ?; por
que morrem ainda bebês?" Um mistério que só a Deus pertence, admitem
certos teólogos, ameaçando com o fogo eterno os curiosos desprovidos da fé
cega.
Chico Xavier, Célia Silva e tantos outros missionários (impossível
enumerá-los!!!) nos deram e continuam dando páginas de ouro em pó. Mas fechar
os olhos para o que está acontecendo com a velocidade da Informática é, no mínimo,
uma atitude bastante preconceituosa. Se fosse nos tempos de Kardec, ele que começou
"transcomunicando" em certo sentido, nada lhe escaparia!
Hei, segura os cavalos, o que foi dito aí em cima? Mas não eram as
mesas comunicantes efeitos poltergeist? Eram, nos olhos de hoje. Dentro de cento
e vinte anos, dirão o mesmo do efeito das vozes ou mesmo das transfotos
coloridas. E do que ainda há por vir. Guardadas as devidas proporções, aquele
Maio de 1855 pode entrar para uma Enciclopédia da Transcomunicação a ser
editada.
Vamos abrir corações e mentes, moçada! Todos os meios são válidos,
todas as muletas permitidas. Agora que a vida após o desencarne está mais do
que provada (de modo bem científico, para nós), vamos arregaçar as mangas e
ligar as antenas.
"Alo, aqui é Marduk. Em que
posso servi-lo?"