DEPOIS DA TEMPESTADE

 

 

 

 

 

 

A TCI fascina pela simplicidade com que responde a mais dramática das perguntas, resultado da mais dramática das constatações:

 

___ “Sobrevivemos à morte?”

 

     Ao nos propormos começar tudo do zero, a doce certeza de que a vida é um processo contínuo nos reconstroi de modo mais sólido. As vicissitudes nos parecem passageiras e as preocupações pessoais são transferidas para os que nos rodeiam. Ainda é pouco, mas constitui-se num passo à frente. Pois bem, a morte não existe, como eles mesmos nos corrigiram no meio de uma frase. Citávamos death (morte), e eles emendaram “depart” (partida), para evitar o tom definitivo da primeira palavra.

 

     Isso não nos livra da fraqueza humana, nem nos confere a frieza diante do desencarne de um ente querido. O sofrimento também atinge os do Lado de Lá, especialmente quando reflete as angústias do lado de cá... Não raro escutamos entidades chorando e até a ponto de perderem a paciência, demonstração clara de que eles não pretendem passar a eternidade entoando cânticos ou lendo sem parar. Pelo menos, no que nos é dado a escutar, as entidades estão tão ativas quanto nós, e têm personalidades bem definidas.

 

     Ao perguntarmos sobre o assunto cinema, George Cukor respondeu de imediato: “Não quero falar sobre isso.” Mais adiante, expressávamos nossa admiração por John Lennon e o quanto nós achávamos que ele fizera bem pela mente dos jovens, e escutamos um sonoro “Nããããão!” Em ambas as vezes eles nos surpreenderam contrariando nossas expectativas.

 

     A impressão de que eles são incorpóreos, quase irreais, também cai por terra quando os ouvimos respirando, reclamando de dores, tossindo, assoando o nariz e até falando em dinheiro. A tentativa de classificar essas entidades como “sofredores” ou (pior!) “inferiores” é, no mínimo, pretensiosa. O modelo de comportamento que idealizamos para os “bem-aventurados” é tão somente uma ficção baseada nos nossos preconceitos.

 

     OK, a morte não existe... nem aquele SPA enevoado cheio de entidades de jalecos brancos cujo único assunto é examinar os seus erros. Tudo tem o seu tempo, inclusive a auto-análise. Ouvimos risadas, referências à comida (lanches), lazer, música, viagens, toda a sorte de atividades que reservávamos para os humanos, apenas.

 

     O amor permanece, pelo menos em relação à última encarnação. Não temos relatos, através da TCI, de entidades que deixaram o cônjuge na Terra para reencontrarem um amor de alguma outra vida... E nem nos ocorreu perguntar. Há relatos de famílias inteiras que se juntam no além sob o mesmo teto. Se este hábito se estendesse para todas as encarnações não haveria galpão que desse conta... A última encarnação também define os papéis no além. Se João foi o marido de Maria, depois da partida assim permanecem, ainda que, em outra vida, João fosse a filha de Maria, e esta um homem. Estamos apenas constatando o material recebido até aqui, sem fantasiá-lo. Tampouco essas impressões são definitivas, pois estamos espiando um planeta inteiro através de uma fresta! O nosso compromisso é com a verdade, e isso, obrigatoriamente, exclui as nossas opiniões.

 

     Se eles mandam a série de transfotos com um casal de crianças entrando na água, o que podemos concluir? Que há crianças em Marduk. Que há água em Marduk. Que as entidades não perdem o hábito de entrar na água, mesmo depois da “partida”. Que há corpos sólidos e líquidos em Marduk. Que há uma fonte de luz em Marduk. Que há máquinas capazes de registrar o movimento em Marduk. Que alguém sabe operar essas máquinas em Marduk. Que aquelas crianças mantém o pudor por se apresentarem com roupas de banho. Que alguém produz roupas de banho em Marduk, utilizando o processo que conhecemos ou não. Que esse tecelão/costureiro cedeu aquelas roupas de banho às crianças de graça ou em troca de alguma coisa, sugerindo uma estrutura econômica. Que os cabelos daquelas crianças permanecem cortados indefinidamente, ou há a atividade de cabeleireiro em Marduk. Que há diferenciação de sexos em Marduk. Que há um ciclo hídrico em Marduk. Que há gravidade em Marduk...

 

     Acreditamos que M. Hercule Poirot encontraria mais de cem outros itens capazes de definir um cotidiano Al-Di-La, mas esses quatorze pontos exemplificam a riqueza de informações que uma simples seqüência de fotos nos traz.

 

     Muito ainda temos para aprender, e eles nos prometem ir explicando com o passar do tempo. Perguntamos se concordariam em detalhar sobre a vida em Marduk, e uma voz masculina e grave diz: “Concordo!

 

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