Por: Maria Aparecida Bressani - mariab9@uol.com.br
Os relacionamentos humanos estão em crise. Crise porque
está acontecendo grande transformação na forma de se desempenhar os papéis
sociais, sejam papéis como pais, sejam como homem e mulher e todos os outros.
Crise porque nesta transformação de papéis não se sabe claramente o que pode
ou não pode, o que é certo ou o que é errado fazer ou exigir numa relação.
Mas, a pior de todas as crises é a crise moral e ética em que vivemos.
A coisa está tão séria que vemos explodir as
denúncias de corrupção na política, a impunidade descabida correndo solta,
vemos a violência desenfreada na sociedade humana a ponto dessa violência se
infiltrar nos lares, perdendo-se todos os parâmetros. E em todas as situações
sobra para nós, pobres mortais, somente a impotência!
Está certo que a informações estão chegando mais
rapidamente para nós, mas o que eu vejo são as crises dos papéis sociais
gerando a crise moral e ética na sociedade (que já estava frágil), trazendo
assim, cada vez mais em maior proporção, a violência para dentro dos lares e
em todos os ambientes habitados pelos humanos.
As relações humanas têm como pacto principal o Amor.
Seja este Amor filial, fraternal, parental ou carnal. É o amor que aproxima as
pessoas. A aceitação e a admiração são expressões deste Amor. Quando nos
sentimos aceitos e admirados por alguém, nos sentimos amados e quando ainda por
cima isso é recíproco, mais do que nunca queremos manter esta relação.
O grande problema é que só amor (o que já não é
pouco numa relação) não basta, porque em nome deste amor que é dado, muitas
vezes são exigidas coisas que não são do direito e nem legitimadas pelo Amor.
Percebemos as invasões dos espaços do outro em nome do Amor, sentimos o
desrespeito em nome deste Amor. Portanto, além de Amor, uma relação não
sobrevive sem o Respeito. É fundamental respeitar a individualidade do outro,
bem como nos respeitar; respeitar nossa individualidade na relação com o
outro.
Outro ingrediente imprescindível em qualquer relação
é a Confiança. Sem confiança não investimos, nos envolvemos e não nos
entregamos em nada. Sem confiança a relação fica estabelecida na
superficialidade, sem nunca saber, realmente, com quem estamos e quem está
conosco não sabe, de verdade, quem somos.
Mas, para que haja respeito e confiança numa relação
é absolutamente fundamental que haja Educação. E o que é Educação?
Eu chamo de se ter Educação quando a pessoa ter um
mínimo de consciência de seus limites – direitos e deveres - enquanto
indivíduo, em toda e qualquer situação de vida – ou seja, noções básicas
de ética!
Hoje é justamente pela deficiência de parâmetros
claros e definidos de tais limites, que as pessoas estão muito mais
autocentradas em suas próprias necessidades. Não estão conseguindo pensar no
outro, nas necessidades do outro e, conseqüentemente, não confiam que o outro
genuinamente possa fazê-lo também.
Estão todos vivendo pelo “princípio do prazer”,
como diria Freud; porque lidar com a realidade realmente não é fácil.
As pessoas querem ter tudo, mas não querem dar nada.
Pararam na fase dos três anos de idade: querem viver e experimentar tudo o que
a vida se lhes apresenta, mas não querem assumir nenhum compromisso e
responsabilidade sobre isso, como qualquer adulto saudável faria. Isto é
princípio do prazer. Viver o bem bom da vida sem qualquer comprometimento de
sua parte.
Está faltando – coletivamente – maturidade para
viver a vida realisticamente. Falta o desenvolvimento de valores morais e
éticos na relação com a vida e, conseqüentemente, na relação com as
pessoas.
A vida e as relações humanas são feitas de direitos e
deveres, mas se não existe um certo grau de desenvolvimento de valores éticos
e morais – que eu chamo de educação (porque é na educação recebida que se
formam tais valores) – acaba por estabelecer-se contatos e relacionamentos
pautados apenas nos “meus direitos” e totalmente inconsciente dos “meus
deveres” – como qualquer criança de três anos de idade!
Por isto é importante desenvolver a consciência de onde
termina você e onde começa o outro.
Mas quais são a suas necessidades e quais são as
necessidades do outro dentro das relações?
Ter “noção” de ética e moral é o princípio sine
qua non para se estabelecer qualquer relação.
Eu entendo por Ética como conduta de vida, onde sempre
precisa estar presente um pensamento básico: “Tudo que me faz mal, que me
incomoda, que me deixa infeliz provavelmente poderá também afetar o outro e
fazer-lhe mal, incomodá-lo e deixa-lo infeliz”.
Um exemplo claro é: se eu tenho um relacionamento fixo
com alguém e se me sinto atraído por outro alguém (o que é absolutamente
natural que aconteça!), como devo proceder? Devo exercer minha atração e me
envolver em paralelo com esta outra pessoa?
Caso eu o faça, dentro dos parâmetros éticos –
baseado no pacto de confiança e respeito dentro da relação (o que lhe seria
próprio) – estaria traindo a confiança do parceiro fixo.
Se fosse o contrário: se meu parceiro fixo atuasse sua
atração em paralelo à sua relação comigo, como eu me sentiria?
O problema é que a maioria das pessoas não faz este
tipo de exercício ético: se colocar no lugar do outro.
E é isto que eu chamo de conduta ética: é saber que o
que me atinge como indivíduo e ser humano poderá atingir também o outro, como
indivíduo e ser humano.
Independentemente do que a convenção social determina
como modelo de atuação para os papéis que representamos (não podemos nos
esquecer que a sociedade é formada por cada um de nós – portanto, nós é
que verdadeiramente determinamos os modelos dos papéis sociais a desempenhar),
jamais devemos nos esquecer de que a base para a relação indivíduo/indivíduo
é a ética e a moral, que tem como princípio básico o respeito e a
confiança. Caso contrário, o que teremos é uma banalização da vida e,
conseqüentemente, das relações que se tornam cada vez mais descartáveis.
Todos se tornam descartáveis porque falta amor e respeito pela vida, bem como
falta confiança de que a vida proverá.
É importante que cada um de nós faça a sua parte para
sair da impotência na qual socialmente entramos com a crise que se instalou:
resgatar finalmente o Amor e a Ética, em princípio na nossa própria vida e
depois estender este “resgate” em todas as nossas relações. Precisamos
entender que, realmente, depende única e exclusivamente de cada indivíduo
expressar Amor e Ética na própria vida, nas relações pessoais e na sociedade
humana de modo geral.
Maria Aparecida Bressani - mariab9@uol.com.br