Por: Maria Aparecida Diniz Bressani - Psicóloga
mariab9@uol.com.br
O ser humano luta para diferenciar-se e distinguir-se do
todo na busca de sentido e reconhecimento de uma identidade própria (Eu), mas o
paradoxo é que sofre com a sensação de não fazer parte do todo, de não ser
“igual” aos outros e, portanto, muitas vezes sente-se inferior e inadequado.
Como seres humanos somos todos iguais. Carregamos
igualmente a herança genética e psicológica do desenvolvimento filogenético.
Portanto, a possibilidade de expressão desta herança é infinita.
O que nos distingue enquanto indivíduos são as “proporções”
com que expressamos esta herança, por isso cada indivíduo é um e único. Em
conseqüência disso, nossa vida nada mais é do que a expressão de quem somos.
Se você vive uma vida que você considera não ser boa,
veja a sua “cota” de participação nela e perceba o quanto e como você se
posiciona. O quanto você se dá ao direito de expressar o que pensa e o que
sente realmente?
O autoperdão se encaixa aí: na capacidade da
auto-aceitação. Aceitar que a forma de expressar o ser humano que somos não
é certa nem errada e, sim, única.
Autoperdão não tem nada a ver com autocondescência.
Autocondescência tem uma pitada de autopiedade, pois a
pessoa se “perdoa” falando assim: “Ah, mas coitado de mim, eu não podia
fazer diferente. A culpa é do outro”!
Na auto-condescência a “culpa” por não dar certo
determinada situação é do outro. Foi o outro que não facilitou, foi o outro
que não teve boa vontade, foi o outro que exigia demais... e por ai vai no seu
pseudo autoperdão...
Autoperdão é assumir quem você é: nem melhor nem pior
do que ninguém. Não tem julgamento!
Saber que fez o seu melhor naquele momento. Consiste em
falar o que sente e o que pensa, porque é realmente o que sente e o que pensa;
dando-se ao direito de posicionar-se diante das situações da sua própria
vida.
Para que possamos nos compartilhar com o outro e com o
mundo precisamos ter uma noção clara de quem somos (autoconsciência) e quais
são nossas necessidades físicas, intelectuais, espirituais e psicológicas
para que possamos colocar quem somos na forma mais fiel possível e requisitar o
que precisamos do meio ambiente e das pessoas.
Por exemplo, se você for possessivo não adianta fazer o
“tipo” liberal porque a pessoa que estiver consigo agirá livremente e você
não se sentirá feliz, e, normalmente, terá crises de ciúmes
incompreensíveis para o outro, que tem de você uma imagem e um discurso de “O
liberal”.
O contrário também é verdadeiro. Se você é uma
pessoa que precisa de liberdade não adianta buscar relacionamentos que exijam
grande comprometimento porque, com certeza, se sentirá preso e sufocado pelas
exigências óbvias que virão.
Ao perdoar-se, a pessoa pára de exigir de si mesma
aquilo que ainda não está pronta para dar, bem como pára de se culpar por
algumas “bolas fora” que dá.
Pára de se auto-exigir e dar ao outro ou para o mundo o
que “acredita” que estão exigindo. É a libertação da ditadura
auto-imposta que se acredita vir de fora.
O processo do autoperdão começa tirando-se os “deverias”
e os “terias” do seu dicionário e cotidiano. É dizer para você mesmo: “Eu
não tenho que... nada!”, “Eu não devo fazer... nada!”.
Aceitar que têm necessidades físicas, intelectuais e
emocionais distintas das dos outros; e mais, aceitar que tem todo o direito de
satisfazê-las, desde, é lógico, que não interfira nem invada os direitos do
outro.
A ética não se aplica apenas nas relações
interpessoais, mas, também, na relação intrapessoal: se você não respeita
seus limites nem se perdoa por tê-los, você está sendo antiético consigo
mesmo. Como pode haver relacionamentos éticos em sua vida se você não tem
consigo mesmo?
Ser diferente é, muitas vezes, percebido como der
inferior e inadequado e portanto, muitas vezes, as pessoas se envergonham de
quem são.
Por isso usamos máscaras (que Jung chamou de Personas),
que consideramos aceitáveis porque queremos se amados e jogamos no fundo de
nós mesmos nosso verdadeiro Eu.
Essa atitude leva consigo a auto-estima e o autovalor,
pois nunca conseguimos a real satisfação vinda do reconhecimento do outro
sobre o nosso Eu verdadeiro, porque o que conseguimos, no máximo, é um
feedback, positivo ou negativo, sobre o que mostramos, nossa Persona.
Vem daí a eterna sensação da falta de amor.
Essa sensação de falta de amor não é porque não se
tem o amor das pessoas, mas sim porque não se tem auto-amor, pois, por alguma
razão, queremos ser perfeitos e não nos perdoamos por não sê-lo. Por isso,
autoperdão tem a ver com auto-aceitação.
Autoperdão é viver “de bem” consigo mesmo.
MARIA
APARECIDA DINIZ BRESSANI
Psicolóloga
e psicoterapeuta junguiana
mariab9@uol.com.br