Por: Maria Aparecida Diniz Bressani - Psicóloga
mariab9@uol.com.br
Quando conhecemos alguém nos apresentamos: sou fulano de
tal, gosto disso, não gosto disso, penso assim e assado, faço isto e aquilo. E
a pessoa, idem.
O que estamos fazendo neste primeiro momento e, depois,
no transcorrer da relação? Apresentamos quem somos, quais são nossos valores
e crenças e o que aspiramos para o nosso futuro e a pessoa também se coloca.
Conforme acontece o conhecimento mútuo, vamos percebendo que temos valores e
projetos comuns e também algumas diferenças, mas que no final, as afinidades
são mais fortes e dominam o todo. E acabamos por sentir forte admiração e/ou
nos apaixonamos. Vamos resolvendo, gradativamente – o tempo aqui não importa,
cada um tem o seu ritmo – estabelecer uma relação mais estreita. Se for
homem e mulher, por exemplo, por fim casam-se.
O que precisamos entender é que além da atração
natural que sentimos, também tem estes outros fatores (diferenças e
afinidades) que pesamos, conscientemente ou não.
Todo relacionamento visa suprir determinadas expectativas
de todos nós. E a maior de todas é ser feliz e viver em harmonia com alguém,
mas quando este relacionamento entra numa crise é preciso recapitular o que
fomos buscar ali, nesta relação e quanto conseguimos satisfazer de nossas
necessidades. Precisamos entender qual caminho tomou esta relação que, de
repente, chegou numa crise em que se encontra neste momento.
Todo e qualquer relacionamento tem seus altos e baixos.
Às vezes, tem momentos em que estamos mais envolvidos e, às vezes, em outros
momentos, é o outro que o está. Mas o principal fator que leva as pessoas a
ficarem juntas e superar estes altos e baixos é o QUERER – todos os
envolvidos na relação – seja no casamento, namoro, sociedade, amizade... –
todos têm que, necessariamente, querer. Como bem fala aquele ditado: “quando
um não quer, dois não brigam”.
Para se querer a manutenção de uma relação é
necessário não apenas amor (ou admiração) – por incrível que pareça –,
é preciso ponderar sobre a relação propriamente dita e sobre a pessoa ou
pessoas – dependendo do caso – envolvidas.
Uma crise num relacionamento vem, muitas vezes – e
dependendo do grau da crise –, para que possamos avaliar não só a relação,
mas toda a nossa vida e as escolhas que fizemos do decorrer da mesma. Nada na
nossa vida é segmentado. Embora possamos separar as diversas situações em que
vivemos em “seções”, tudo se encaixa com tudo, fazendo o todo que chamamos
de “minha vida”.
Então precisamos, primeiramente, querer manter a
relação. Mas como eu posso querer manter uma relação que, neste momento, faz
com que eu não me sinta importante e/ou amado pela pessoa, ou que não me sinta
devidamente amparado em meus projetos. Em suma, que neste momento me faz sofrer?
Num momento de crise devemos então, mais do que nunca,
recapitular o que vivemos dentro desta relação – todas as felicidades e
frustrações aí vivenciadas – e pesar os prós e os contras da possibilidade
ou não da manutenção da dita cuja.
Ao se fazer esta recapitulação é necessário assumir a
responsabilidade sobre a nossa parte do que foi vivido conjuntamente, seja do
bom ou do ruim.
É muito importante nesta análise dividir “didaticamente”
a situação em três instâncias: eu, o outro e a relação: Como eu me
desenvolvi como pessoa neste tempo que vivi esta relação e qual foi a minha
contribuição para o desenvolvimento da mesma? Como o outro se desenvolveu como
pessoa neste tempo que viveu este relacionamento e qual foi contribuição dele
para o desenvolvimento da mesma? E, por último, mas não menos importante, como
a relação, propriamente dita, se desenvolveu enquanto vocês estiveram juntos
e como esta relação contribuiu para o crescimento de ambos enquanto
indivíduos?
Quais eram minhas crenças e necessidades quando do
início deste relacionamento? Quais eram as crenças e necessidades do outro
quando do início este relacionamento? O relacionamento se desenvolveu em que
direção: das minhas crenças e necessidades ou das do outro? Por que?
Esta avaliação é importante, não para se ter
argumentos um contra o outro, mas para que possamos ter claro quais eram nossas
expectativas nesta relação – atualmente em crise – e se elas foram
supridas ou não, para ambos.
Toda expectativa acontece em cima das nossas
necessidades, crenças e valores. Devemos ter claro quais as regras que queremos
determinar e quais as regras determinadas pelo parceiro para que neste “jogo”,
chamado relacionamento, tenhamos o que fomos procurar e tentar perceber se o
nosso(a) parceiro(a) tem o veio procurar.
Precisamos ter claro que relacionamento é a
possibilidade de trocar afeto e crescer como indivíduos, e também, onde
podemos contribuir para o crescimento do outro.
E nós, como indivíduos, crescemos – querendo ou não!
Só que às vezes cada um cresce em direções, setores e em ritmos diferentes e
antes, se havia entendimento e projetos comuns, parece que, de repente, cada um
está falando uma língua diferente. Aspiramos coisas que o(a) parceiro(a)
parece não estar mais interessado(a) ou, ao contrário, o(a) parceiro(a) parece
querer coisas que nem imaginávamos que pudesse desejar. Começa a parecer-nos
um(a) estranho(a)! E a culpa não é de ninguém: é bom isto ficar bem claro!
E neste momento estabelece-se claramente a crise!
Além de ser necessário se fazer uma recapitulação da
relação, precisamos abrir mão do orgulho e do egoísmo, tanto para se ficar
numa relação e mantê-la como para se cair fora dela.
Eis o paradoxo! Às vezes não abrimos mão de uma
relação só por orgulho ou egoísmo, e às vezes caímos fora também pelos
mesmo motivos.
Permitir ao parceiro que tenha planos individuais ou
algum hobby pessoal onde não estamos incluídos é necessário e saudável para
a própria relação – como também nós devemos ter algo pessoal que não o
inclua. Sentir-se preterido pode indicar algum distúrbio emocional ou carência
que deve ser suprida. E ai, movidos por tais dificuldades, tornamo-nos egoístas
ou sentimo-nos feridos em nosso orgulho. Então, depois de se colocar em
disponibilidade para a relação (querer), fazer uma retrospectiva da mesma
(crescimento de ambos e o rumo que tomaram), abrir mão do egoísmo e do orgulho
e, por fim, antever honestamente quais as perspectivas possíveis que tem esta
relação. Ai sim, poderemos superar, ou não, a crise que se desenvolveu e
instalou.
E eu digo que a realidade é bem mais simples do que os
fantasmas que nos atormentam (que são todos os nossos medos!), principalmente
quando somos movidos em prol da nossa felicidade e de se estabelecer uma
relação verdadeiramente amorosa.
MARIA
APARECIDA DINIZ BRESSANI
Psicolóloga
e psicoterapeuta junguiana
mariab9@uol.com.br