Por: Maria Aparecida Diniz Bressani - Psicóloga
mariab9@uol.com.br
Acredito que, como ser humano, somos seres energéticos,
que além dessa massa material que nos dá forma, somos, também, constituídos
de energia. Quando digo energia, me refiro a esta força que, através de
transmutação física, nos dá vida e segue gerando desenvolvimento contínuo,
tanto como indivíduos quanto como seres humanos.
Como seres humanos essa força nos leva desde a luta pela
sobrevivência até a evolução e aprimoramento da espécie. Como isto
acontece? O que temos a nosso favor? Qual a diferença que nos separa dos outros
animais?
O ser humano tem a seu favor a inteligência.
Inteligência, não apenas em quantidade de Q.I. É claro que se procurou
desenvolver um teste que medisse a inteligência das pessoas. Neste caso, os
teste de Q.I. nos dá mais a quantidade do que a qualidade de inteligência,
pois o teste deixa a desejar na avaliação da complexidade do pensamento
humano. A inteligência emocional trata deste aspecto, procura compreender “como”
o ser humano faz suas escolhas racionais associadas às suas motivações
emocionais, “como” nós usamos nossa inteligência a favor do nosso
desenvolvimento e crescimento pessoal.
Então, o grande poder da inteligência que temos a nosso
favor, é a complexidade do pensamento; é conseguir toda a espécie de conexão
da qual somos capazes enquanto seres humanos. É conseguir colocar os instintos
e as emoções sob controle da razão, mas sem sem racionalizar.
Racionalizar seria usar a razão, através de um discurso
muito bem organizado, para explicar o porquê de determinada atitude.
Para que fique mais claro o que significa racionalizar,
faço distinção entre entender e compreender.
Entender quer dizer ter uma idéia clara sobre o porquê.
Entendo e sei explicar porquê tive determinada atitude. Mas o entendimento não
me dá o insight sobre minhas motivações interiores. Eu consigo explicar
minhas “razões” de forma bastante racional e lúcida, sem ser “tocado”
pelas minhas motivações emocionais; consigo até explicá-las, mas não
senti-las – não, pelo menos, no sentido amplo e profundo de todas nossas
possibilidades.
Compreender uma certa atitude é conseguir “alinhavar”
razão e emoção. É ter o insight sobre minhas reais necessidades emocionais
que me levaram a agir de tal maneira. É conseguir entrar em contato com as
minhas emoções que me conduziram à determinada atitude. Consigo, ao mesmo
tempo, explicar e sentir todas as “nuances” (ou pelo menos, a sua maioria)
dos meus sentimentos que me moveram à minha ação; contendo os elementos –
razão e motivações emocionais (muitas vezes inconscientes) – no mesmo “pacote”.
Na verdade, esta distinção é muito mais “técnica”,
pois o nosso “amigo” Aurélio os coloca como sinônimos. Mas, percebo que
compreender é conseguir ir mais “fundo” na percepção de determinada
questão, enquanto que entender seria ter uma visão mais superficial da mesma.
Então, quando falamos em ser humano, falamos de um
animal racional.
Como animal, somos instinto biológico lutando pela
sobrevivência da espécie. Nesta luta há o combate com os outros animais, como
também com o próprio homem, para a preservação da espécie e demarcação de
seu território.
A capacidade de preservar e sustentar a vida é atributo
do instinto; que no seu nível mais animal do ser humano é bestial e
irracional.
O lado racional deste animal, que somos nós, nos
proporciona inteligência, que é a capacidade que o ser humano tem de encontrar
significado para sua vida, que vai além da sobrevivência, ocorrendo através
da Reflexão e da Religiosidade.
Religiosidade, não no sentido de se ter uma religião,
mas na capacidade de se ligar ou re-ligar a uma energia maior, que podemos
chamar de Deus, Cosmos... ou seja, à Capacidade Inteligente que rege o
Universo, e que o mantém em devida harmonia e desenvolvimento constante. E a
Reflexão; eu, como psicoterapeuta, acredito que um dos melhores caminhos é a
psicoterapia.
É esta inteligência que nos permite ampliar e elevar
nossa consciência, a partir do momento em que conseguimos utilizar mais a nossa
capacidade de compreender os porquês das nossas necessidades emocionais - e o
que a nossa razão nos dita - e, conseqüentemente, o resultado final: nossas
escolhas e nossos comportamentos.
É a nossa porção inteligente que nos faz, enquanto
seres humanos, cada vez mais desenvolver tecnologias para que possamos ter
conforto e sofisticação para a nossa raça.
Então, temos essa inteligência que quanto mais
desenvolvida, mais nos permite compreender a vida e todas as situações, a nós
mesmos e aos outros, e ajuda a nos distinguir, enquanto individualidades, nas
relações e nas situações da nossa própria vida.
E quanto mais o ser humano aprimorou sua inteligência
– com aquelas conexões – dando cada vez mais significados para suas coisas
e sua vida – mais ele – ser humano – afastou-se de seus sentimentos.
Usando sua inteligência apenas, cada vez mais de forma racional, fria e
cortante, sem o calor dos sentimentos.
Jung já dizia que onde há Amor não há Poder e onde
há Poder não há Amor.
A inteligência deu ao ser humano o poder de dominar a
Terra e todos os seus habitantes irracionais e outros seres humanos tido como
mais primitivos.
Em toda a história da humanidade vemos o ser humano
subjugando o outro ser humano. E qual foi a arma, realmente potente, que os
dominadores sempre usaram – desde os homens da caverna – para dominar? A
inteligência. O Poder do ser humano é a inteligência. Sempre, utilizada e
aplicada, para subjugar através da imposição das suas verdades e doutrinando
o povo vencido. E aí, parece que o ser humano “esquizofreniza”. Parece não
ter mais senso de identidade preservado. A violência é apenas “o” sintoma.
Em toda situação de violência – que vai desde
seqüestros relâmpagos até o atentado de 11 de setembro – podemos perceber o
descontrole e desequilíbrio energético que o ser humano vive na atualidade.
E parece ser isso que acontece na história da
humanidade. Seja em países diferentes, ou até mesmo dentro do mesmo país –
como no caso do Brasil atualmente – há pessoas vivendo em condição
sub-humana e outras, vivendo como deuses caídos na terra, esquecendo-se que
também são seres humanos. Parece que o desenvolvimento da tecnologia e da
inteligência têm levado, mais e mais, o ser humano a um afastamento cada vez
maior de si – de suas necessidades e motivações emocionais – como se
houvesse um abismo entre sua razão e seus sentimentos.
Vemos a inteligência entendida como sinônimo de Poder,
usada em prol da subjugação do forte contra o fraco. O forte “instrumentalizado”
pela inteligência e pela tecnologia, e o fraco, deficiente de tais recursos.
Esta é a história da humanidade. O que, no princípio desta história, era uma
questão de sobrevivência, tornou-se movimento automático, que perdura até
hoje, como se fôssemos homens da caverna ou bárbaros da idade antiga.
Mas, o que nos traz grande alívio e perspectiva da
salvação para a raça humana é ver os movimentos de “voluntariado”,
lembrando-nos que somos, sim, seres humanos e que todos somos um. Aquele que
está sofrendo na condição sub-humana é um irmão nosso. Encontramos, aí, o
Amor. É o lado saudável do ser humano que quer a cura e reintegração da
unidade.
Então, percebemos um maniqueísmo no desenvolvimento do
ser humano: essa divisão entre poder e amor, como fosse antagônicos, como o
próprio Jung disse.
Então, eu volto a perguntar: O que temos a nosso favor
diante deste cenário?
A resposta continua sendo a mesma: a Inteligência –
só que, agora, com “i” maiúsculo!
A Inteligência com “i” maiúsculo é a capacidade
que nós, seres humanos, temos de nos perceber fazendo parte de um todo maior;
onde não existem vencedores e vencidos; onde se um perde, todos perdemos. (Sabe
aquela história do microcosmo e macrocosmo?!)
É a Inteligência que nos fará romper com este
comportamento “animal”, que acontecia nos primórdios, pela necessidade da
sobrevivência.
Então, temos, também, a Inteligência que tem a
função de nos fazer perceber toda a dinâmica energética, que organiza o
Universo numa integração do seu Todo de forma harmônica e de evolução
contínua, da qual, simplesmente, fazemos parte. É essa Inteligência que nos
fará conseguir integrar Poder e Amor, num “mix” homogêneo.
Mas, como faremos isso?
Quando se fala que cada um tem que fazer a sua parte
(naquela questão do voluntariado, por exemplo), na verdade, é neste sentido
mais profundo, de resgate de si enquanto indivíduo – seu senso de identidade.
Quando, eu salvo a outra pessoa de sua miséria, estou salvando,
verdadeiramente, a raça humana – a mim mesmo.
E, se cada indivíduo – um ser humano – fizer este
trabalho consigo mesmo e oferecer à humanidade, elevaremos a vibração
energética e a consciência da humanidade. Quando aprendemos a usar a
Inteligência (com “i” maiúsculo) no próprio desenvolvimento individual,
aprendemos a responder à vida de forma mais evoluída e madura, eliminando de
nossas vidas os equívocos e maus entendidos; compreendemos, claramente, o
significado das situações em nossas vidas e aprendemos que as situações não
existem para que, simplesmente, soframos, mas, sim, que as encaremos e as
resolvamos, assumindo, assim, total e absoluta responsabilidade sobre nossa
vida.
É para isto que serve a nossa porção Inteligente!
Você a está usando??
MARIA
APARECIDA DINIZ BRESSANI
Psicolóloga
e psicoterapeuta junguiana
mariab9@uol.com.br