Por: Flávio Gikovate
Uma das frases que estamos acostumados a ouvir é: ‘Eu
amo a meu modo’. É claro que isso é dito em conseqüência das queixas e
insatisfações do companheiro, que se sente pouco atendido em suas pretensões
de carinho e atenção. Será mesmo que existem vários modos de amar? Ou será
que a hipótese é usada, de má-fé, para encobrir a falta da capacidade de
amar?
Há pessoas que gostam – e necessitam – de relações
afetivas próximas e intensas, ao passo que outras preferem relações mais
frouxas. Quando duas pessoas com expectativas amorosas diferentes se unem, é
claro que aquela que espera um relacionamento mais intenso fica insatisfeita,
mesmo quando o parceiro se dedica a ela da forma mais leal e honesta. Acho que
talvez seja mais adequado pensar em diferentes graus de intensidade amorosa em
vez de pensar em diferentes formas de amar.
Sim, porque esta última forma de raciocinar abre as
portas para muitos tipos de comportamento claramente egoístas, em que se podem
usar palavras de natureza amorosa sem que elas venham acompanhadas de
comportamentos compatíveis. Dizer ‘eu te amo’ não custa nenhum tipo de
esforço ou sacrifício. Se expressões desse tipo não vêm acompanhadas de
atitudes próprias desta emoção, elas são pura demagogia.
Funciona mais ou menos assim: o demagogo diz que ama a
seu modo e que isto não significa ter atitudes de dedicação e agrado em
relação ao seu par. Por outro lado, ele espera do parceiro a renúncia e a
generosidade próprias do modo de amar do outro. O processo envolve, pois, dois
pesos e duas medidas, uma vez que as pessoas que amam a seu modo nunca se
relacionam intimamente com outras pessoas que amam do mesmo modo que elas,
preferindo pessoas que amam de um modo mais convencional.
Temos todas as razões do mundo para desconfiar das
palavras, especialmente daquelas que não vêm acompanhadas de atitudes
coerentes com elas. Acho melhor encontrarmos uma só forma de descrever o amor e
definitivamente só considerarmos como capazes de amar aqueles que se comportam
de acordo com o descrito. Ou seja, penso que a melhor forma de conceituar o amor
seja considerar que aquele que ama se sente muito bem em agradar e paparicar a
pessoa amada.
Uns farão sacrifícios maiores para isso do que outros,
mas todos aqueles que amam de verdade sentem-se felizes interiormente quando
são capazes de proporcionar alegria e felicidade ao amado. Amar é, então,
gostar de agradar a pessoa amada, ficar feliz com sua felicidade, querer ver a
pessoa prosperar. É fazer todo o possível para que estas coisas se realizem.
Agradar a pessoa amada significa fazer as coisas que a
deixam satisfeita e, principalmente, que a fazem sentir-se amada. E o que agrada
a outra pessoa não é obrigatoriamente o que nós achamos que vai agradar. É
importante observar quem se ama, conhecer seus gostos e vontades. Não tem
cabimento um homem dar uma jóia de presente a uma mulher que não gosta de
jóias! Às vezes vale mais uma flor do que um anel de brilhantes.
Quando não existe esse tipo de troca num relacionamento,
penso que não deveríamos usar a palavra amor para descrever o elo que une duas
pessoas. Não é raro que um dos indivíduos seja do tipo que sempre gosta de
paparicar o parceiro, ao passo que o outro é displicente, só gosta de receber
agrados, ‘ama a seu modo’. Nesse caso, o que agrada ama, mas não está
sendo amado, está sendo explorado. É co-autor de uma história de amor
unilateral.
Não posso esconder as reservas que tenho em relação a
esses tipos de relacionamento. Eles não fazem parte das verdadeiras histórias
de amor, que são sempre trocas ricas e gratificantes para ambos os envolvidos.
As verdadeiras histórias de amor acontecem quando duas pessoas amam do mesmo
modo, e o sentimento provoca sempre uma enorme vontade de cuidar do amado.
Instituto de Psicoterapia em São Paulo: http://www.flaviogikovate.com.br/