Por: Maria Aparecida Diniz Bressani - Psicóloga
mariab9@uol.com.br
Jung diz que todo relacionamento é 50% de
responsabilidade para cada uma das partes.
Um relacionamento, na verdade, é resultado do que as partes colocam nele. Cada
pessoa contribui com sua porção para a evolução da relação e ajuda a
determinar para que direção esta irá evoluir. Da mesma forma, todas as
pessoas que estão se sentindo sós estão à procura de alguém para se
relacionar, pois esta é condição essencial do ser humano.
No consultório, o que percebo é que as pessoas que trazem suas queixas sobre
seus respectivos e frustrados relacionamentos sempre tratam de uma mesma dinâmica,
ou seja, parece que escolhem sempre o mesmo tipo de pessoa - embora os
comportamentos possam até diferir muito - porque acabam por estabelecer um
mesmo tipo de relacionamento, como se houvesse um script já pronto. No momento
em que estabelecem suas relações, sempre com altas expectativas de que aquele
relacionamento seja diferente - afinal aquela pessoa é "diferente" de
todas as outras com quem já se relacionaram - acabam por decepcionar-se por
viver um déjà vu.
Nos scripts, a tônica frustrante pode variar para cada um. A tônica pode ser a
falta de respeito; para outros pode haver atração física, mas falta admiração
e até educação entre as partes ou por uma das partes; em outros casos, existe
manipulação ou traição; há scripts onde a dinâmica é inferiorizar o outro
ou confundi-lo, desestabilizando a sua auto-estima e a sua autoconfiança.
Quando uma pessoa se vê entrando e saindo de relacionamentos onde sua queixa
quase sempre se resume numa única questão (como se realmente houvesse um
script prévio), deve parar e ater-se ao que acontece e ao porquê de sempre
atrair um mesmo tipo de pessoa, pois mesmo que lhe pareça ser diferente no
princípio (superficialmente), numa observação mais profunda, não o é.
Na psicologia junguiana entendemos que há um script interno de como viver a
vida que determina as escolhas pessoais, como também tem o script interno de
como "funciona" uma relação. Este script é a base da própria
personalidade. Por isso, é importante que uma pessoa que passa por várias relações
ou vive uma longa relação frustrante faça uma auto-análise honesta para
poder constatar o que de fato acontece. Afinal, tudo o que acontece consigo lhe
diz respeito, pois tem sua participação e contribuição. E é preciso
entender; o que acontece consigo é para resolver e não para ficar sofrendo
indefinidamente.
No começo os relacionamentos podem começar animados, apaixonados e cheios de
promessas de felicidade, mas com o passar do tempo começa a ocorrer um
acomodamento - como que em camadas - vai havendo uma espécie de ajuste da dinâmica
de personalidade de cada um e a relação - como resultado - encontra sua própria
dinâmica, que pode gerar satisfação ou insatisfação para as pessoas
envolvidas.
Numa relação tem que haver basicamente admiração, gentileza, educação,
respeito e atração física e intelectual - mútuas. O resultado será
companheirismo, amizade, excitação sexual e intelectual e satisfação - mútuas.
Quando falta algum desses ingredientes básicos fica sempre a sensação de
frustração e, conseqüentemente, gera sentimento de tristeza, decepção ou
menosprezo pelo outro, levando ao movimento de rompimento do relacionamento ou a
tentar modificá-lo. Se é escolhida a segunda opção, a partir daí começa
uma guerra e não mais uma relação amorosa (proposta inicial). E qual será o
resultado? A resposta: Sofrimento.
Tem pessoas que mantém relações seguidas ou vivem anos em guerra com o outro
acreditando que esse outro poderá mudar, mas na verdade, o desejo é que
conseguirá ter o poder de mudar o outro para aquilo que espera e deseja para a
sua própria satisfação.
E quando a relação acaba - para sua surpresa - muitas vezes não entende o que
aconteceu. Esse é um dos scripts - uma das formas de manipulação. Aqui é
perceber que ninguém tem o poder de mudar ninguém, que cada um é o que é e
que a mudança ocorre - quando e se ocorrer - devido à necessidade interna e,
nunca, por pressão externa.
Antes de tentar modificar alguém ou sofrer numa relação frustrante é
importante entender que cada pessoa tem sua personalidade própria e que todos
temos nossos "códigos" sobre o que é amor, sobre o que é a vida e
sobre o que é relacionamento.
E, embora muitas pessoas usem as mesmas palavras para expressar suas
necessidades sobre o amor, sobre a vida e sobre relacionamentos, não significa
que seus "códigos" sobre estas questões sejam semelhantes. E a
grande armadilha é que ao ouvir as mesmas palavras as decodificam a partir de
seu próprio "código" pessoal e acreditam que encontraram quem
procuravam, pois "querem" a mesma coisa de um relacionamento. O
conflito aparece quando o comportamento do outro não se encaixa com a
expectativa, fruto daquela decodificação; a primeira sensação é de susto e
depois, de medo.
A auto-responsabilidade é entender que as relações são compostas de, no mínimo,
duas pessoas; por isso, estão em jogo dois corações, duas perspectivas e
expectativas sobre o relacionamento proposto (crenças e valores) e dois
quereres.
É entender que adaptação e concessão são necessárias, mais que isso é
anulação. E quando há anulação de uma das partes ambos estão sozinhos e não
estão compartilhando uma relação.
É a famosa solidão a dois!
É entender que a premissa básica para estabelecer companheirismo numa relação
é a aceitação um do outro. E para aceitar o outro como o outro é precisa,
primeiramente, aceitar-se a si próprio.
É, principalmente, entender que ninguém - a não ser nós próprios - temos o
poder de nos fazer feliz!
MARIA
APARECIDA DINIZ BRESSA
Psicolóloga
e psicoterapeuta junguiana
mariab9@uol.com.br