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Por: Waldemar Magaldi Filho
Pecado, do grego hamartia, é um verbo que significa errar o alvo. Isso não
significa meramente um erro intelectual de juízo, mas não conseguir atingir o
objetivo existencial. Os sete pecados capitais, teologicamente são advindos da
perspectiva do cristianismo, ou seja, é a expressão da perda do destino ou do
sentido existencial, comprometido com um processo evolutivo, na busca de
realização da alma, que pode ser entendida como salvação e cura de todos os
males. Com isso, ao pensarmos nos sete pecados capitais: avareza, gula, inveja,
ira, luxúria, orgulho e preguiça, chegaremos à conclusão de que todos esses sete
pecados desviam os indivíduos das trocas e da verdadeira felicidade.
Os sete pecados capitais nos dão um tipo de classificação dos vícios que eram
abominados na época dos primeiros ensinamentos do cristianismo e que atualmente,
por conta do capitalismo avançado, estão cada vez mais presentes no cotidiano da
humanidade. O intuito dos antigos cristãos era educar e proteger seus
seguidores, no sentido de ajudar os crentes na compreensão e auto-controle das
suas pulsões e instintos básicos. É importante ressaltar que não existe registro
oficial dos sete pecados capitais na bíblia, apesar de estarem presentes na
tradição oral do cristianismo. Para mim, devemos entendê-los como doenças
biopsicossociais com repercussões em todos os níveis e quadrantes da vida. Neste
contexto é que surgem os estudos de psicossomática e dos comportamentos
sociopáticos e psicopáticos.
Então, cada pecado representa uma tendência equivocada que um
fiel poderia ter diante do medo, da angústia e das incertezas da vida. (Essa
questão está bem aprofundada no meu livro: “Dinheiro, Saúde e Sagrado”). Assim
como, os vícios, as dependências os abusos e as compulsões também abrangem os
sete pecados, muito estudados no curso de especialização intitulado:
“Dependências, Abusos e Compulsões” ministrado na FACIS.
Como vida é expressão de trocas e relações entre as demandas instintivas,
psíquicas, sociais e espirituais, somos constantemente mobilizados por
necessidades, desejos e demandas de todo tipo e forma. Por outro lado carregamos
uma bagagem genética, racial, familiar, cultural e transcendental que também
nos influencia provocando mais desconforto, angústia e incertezas quanto ao
nosso destino e significado existencial. Com isso, heroicamente, os seres
humanos precisam fazer suas jornadas caminhando entre necessidades, destinos,
livre arbítrio e limitações pessoais e coletivas que, de acordo com a situação,
podem desembocar em pecados ou virtudes. Pois ambos estão potencialmente
presentes nas atitudes humanas. Além de serem tão relativos quanto os conceitos
de bem, mal, certo e errado.
Todas as pessoas possuem, em seus dinamismos psíquicos, tendências de atuação em
todos esses sete pecados. Principalmente na atualidade onde vivemos numa
sociedade que está brutalizando as dimensões anímicas e espirituais dos seres
humanos. Basta observarmos o comportamento da maioria das pessoas que vão ao
Shopping para comprar o que não precisam, com o dinheiro que ainda não possuem,
para impressionar quem não conhecem! Essa atitude, além de estar na contra mão
das questões ambientais e de auto-sustentabilidade, tem conotações de inveja,
luxúria, avareza e vaidade.
Só o autoconhecimento poderá fazer com que essas tendências sombrias fiquem
menos autônomas e que as virtudes possam entrar em equilíbrio harmonioso com os
pecados. Pois, no íntimo de cada ser humano tanto as virtudes quanto os pecados
estão potencialmente presentes. Tudo é uma questão de consciência e
autoconhecimento.
Atualmente, o capitalismo, e sua pior prática que é a do lobismo, estimulam a
avareza, a gula, não só de alimentos, mas de conhecimento, informações, acúmulo,
entre outras atitudes que possam dar a ilusão do poder. Além disso, o
desperdício, a luxúria do luxo e vaidade estão muito presentes também. Basta
refletirmos que estamos vivendo em uma sociedade onde 30% da população mundial é
subnutrida e outros 30% é obesa! Qual a lógica disso?
A questão da vergonha e da culpa é muito pessoal e dependerá da formação ética e
espiritual de cada indivíduo, do momento de vida em que ele se encontra. Então,
não podemos criar uma classificação entre os sete pecados. Creio que eles se
interpenetram e a prática de um acaba, direta ou indiretamente, desembocando na
prática dos outros. Dependendo das condições de vida, dos medos, da angústia e
das dificuldades do dia a dia, a prática de um pode ficar mais facilitada do que
a prática de outros pecados.
Por meio do autoconhecimento, de contínuas reflexões sobre o sentido, o
significado da vida, e a compreensão dos desejos, pulsões e atitudes que estão
nos motivando é que poderemos harmonizar os pecados com as virtudes. Por isso,
o melhor modo de não sermos dominados pelos pecados é não perdermos o alvo, a
meta existencial que deveria ser o sacro-ofício de servir ao invés de apenas
servir-se da natureza e da vida. E como todos os seres humanos possuem tanto os
pecados quanto as virtudes, devemos ter tolerância com quem está sendo possuído
por eles e criar condições para despertar as virtudes, em nós e nos outros. À
medida em as pessoas se tornam menos egoístas e mais amorosas, naturalmente as
virtudes vão surgindo no lugar dos pecados. É isso o que Jung propõe com
integração da sombra. É por essa mesma razão que Jesus, na passagem com a
prostituta diz: “quem nunca errou que atire a primeira pedra”, e nem Ele atirou!
Pecados x Virtudes
Orgulho, Arrogância X Respeito, Modéstia, Humildade;
Inveja x Caridade, Honestidade;
Ira x Paciência, Serenidade;
Preguiça, Melancolia x Diligência;
Avareza, Ganância x Compaixão, Generosidade, Desprendimento;
Gula x Temperança, Moderação;
Luxúria x Simplicidade, Amor
WALDEMAR MAGALDI FILHO (wmagaldi@gmail.com) é psicólogo, especialista em
Psicologia Junguiana, Psicossomática e Homeopatia. Autor do livro: “DINHEIRO,
SAÚDE E SAGRADO – interfaces culturais, econômicas e religiosas à luz da
psicologia analítica”. Mestre e doutor em Ciências da Religião, que atuou tanto
no meio corporativo de empresas multinacionais quanto no comércio varejista.
Atualmente, atende clientes em seu consultório, apresenta palestras em empresas,
coordena e ministra aulas nos cursos de Psicologia Junguiana; Psicossomática e
Dependências, Abusos e compulsões da FACIS - Faculdade de Ciências da Saúde de
São Paulo. |
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