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I CHING COMO ELE É O I Ching é a matriz da civilização chinesa, raiz do taoísmo e do confucionismo. No ocidente, é conhecido enquanto oráculo e tratado de filosófico. Mas o Tratado das Mutações, como também é chamado, é a base de um vasto conhecimento que inclui matemática, alquimia, ciência, artes, medicina, meditação e cosmogonia. entrevista a Oscar Maron jornalista, professor e consultor de I Ching Após lançar seu novo livro “I Ching, A Alquimia dos Números”, Mestre Wu Jyh Cherng fala sobre a real compreensão dos conceitos e conhecimentos do I Ching e questiona a mais popular tradução desse tratado no ocidente: “-Richard Wilhelm errou!” Como se iniciaram seus estudos de I Ching? Através do I Ching podemos alcançar a “visão antecipada” dos
sábios taoístas? Caso não haja esse estudo, então você tem a segunda ferramenta, que é a própria consulta oracular. Somos a favor da incorporação do oráculo na vida cotidiana: a resposta contém uma análise muito clara da medida a ser tomada e possíveis acontecimentos, o que ajuda na assimilação de tudo que havia sido estudado teoricamente sobre I Ching. A incorporação do ensinamento puro através da consulta oracular faz com que você absorva a teoria dentro de você. Muitas vezes uma pessoa lê um I Ching com textos filosóficos e espirituais, mas não consegue incorporar este ensinamento no dia-a-dia porque não sabe como. Sabendo usar o I Ching, você recorre à consulta oracular a cada acontecimento que não pode ser resolvido com a lógica e bom senso. E, depois de repetidos exercícios e pratica oracular, é possível chegar ao ponto em que você nem precisa mais consultar: basta olhar para uma situação que a resposta já vem espontaneamente porque todo ensinamento já foi incorporado. Portanto, o oráculo não somente serve para responder e resolver uma situação do momento, como serve também de mecanismo de incorporação da sabedoria. No Ocidente, muitas pessoas acham que o I Ching, como
conjunto de conhecimento, se resume ao livro clássico “I Ching”? O I Ching é uma tradição, um ensinamento, um conjunto de conhecimentos. É como se existisse a matemática e um livro chamado “A Matemática”. O livro e a matemática em si não podem ser confundidos. O livro faz parte do universo da matemática, que inclui outras obras, é claro. Assim, existe o I Ching, e o livro “I Ching”. O livro faz parte do vasto conhecimento do I Ching. Confúcio, embora um grande filósofo e educador, nunca deixou de estudar, sempre teve a humildade de aprender e sempre considerou o I Ching (não apenas o livro, do qual ele foi um dos autores) como um conjunto de ensinamentos. Diante da dimensão do I Ching, um oceano de conhecimentos, ele lamentava não ter mais tempo para ir fundo no resto de seus ensinamentos. O I Ching, como conhecimentos macro, é taoísta. Mas, por ter a participação de Confúcio, é também visto como uma obra confucionista – essa distinção é papo acadêmico. Na tradição taoísta nada se cria, tudo se revela. Não existem grandes criadores de ensinamentos, existem sim as grandes revelações relacionadas com o passado infinito. O I Ching é uma grande revelação. Nada se cria, tudo se revela. O princípio do Universo está diante de nossos olhos, mas é preciso ter a capacidade de enxergar. Ao enxergar, não o inventamos, ele sempre esteve lá. Por que há uma diferença radical entre o método de consulta
oracular do I Ching aceito e divulgado no Ocidente, que é o método do
livro do Richard Wilhelm, e o método ensinado no seu livro? Só que a história real é diferente daquela que ele conta. O tal mestre, citado por Wilhelm como importantíssimo na época, para os estudiosos da arte taoísta e do I Ching, é desconhecido e ninguém sabe quem era. Não há referências a ele, além daquelas feitas por Wilhelm. Esse mestre o ajudou na compreensão da parte filosófica do I Ching, mas não passou a essência do oráculo. Sem tirar o mérito do trabalho, a verdade é que ele não teve acesso a todos os ensinamentos. Também não era um bom tradutor do chinês. Os tradutores contemporâneos – americanos, britânicos, franceses – são melhores porque hoje o ocidental é bem-vindo, a China não tem mais ódio do Ocidente, existem menos barreiras culturais e o domínio da língua, dos dois lados, é melhor. Em conseqüência disso, as traduções contemporâneas são mais precisas, tanto no aspecto cultural e teor informativo como no uso da própria linguagem. O trabalho do Wilhelm foi pioneiro, mas arcaico. Thomas Cleary (grande tradutor de clássicos taoístas e budistas), por exemplo, contestou a tradução do “Segredo da Flor de Ouro” do próprio Wilhelm. Retraduziu esse texto e ironicamente falou que Carl G. Jung (que comentou o texto traduzido por Wilhelm) desenvolveu parte do seu estudo de psicologia baseado no Wilhelm e, se Jung tivesse acesso à tradução correta do “Segredo da Flor de Ouro”, provavelmente vários conceitos que desenvolveu teriam sido diferentes. Indiretamente ele falou que o Dr. Jung desenvolveu uma teoria em cima do erro de tradução. Os seguidores de Wilhelm o idolatram, mas ele era um tradutor mediano. Hoje na China existem jovens ocidentais com 15, 17 anos falando chinês fluentemente, que em breve estarão na área acadêmica com muita força. Wilhelm viveu numa época difícil. Por que o mestre dele passou um método de interpretação
oracular errado? O Wilhelm recomenda que um hexagrama com apenas uma
linha móvel se transforme em outro, levando o leitor a ler a linha e
mais o julgamento do primeiro e do segundo hexagrama – método que traz
informações contraditórias, deturpa a resposta e leva ao engano. Esse livro com os fundamentos, história e origem do I Ching
lançado agora vai ser complementado por um novo livro, em finalização,
com a descrição minuciosa de cada um dos hexagramas e linhas. Por que
você decidiu escrever esta nova tradução do texto clássico do I Ching?
Curosos na Sociedade Taoísta do Brasil aqui >>>
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