O Efêmero da Cultura Hodierna e o Papel da Filosofia Cristã

Por Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

 
Em 1987, Gilles Lipovetsky,  Professor francês, denunciava que um lamentável vazio passava a reger o mundo atual.

Intelectuais acometidos de senilidade precoce, militantes do insignificante protestaram com veemência, mas o jovem filósofo tinha razão. Gilles preconizava um combate à frivolidade imperante, à apatia, à indiferença, tanto mais que a sedução havia tomado lugar à convicção.
 

Assistia-se à desagregação da sociedade, dos costumes, do indivíduo colocado a reboque do consumismo. Erosão das identidades sociais com prevalência do individualismo, sendo visível, por exemplo, a exacerbação sexual.
 
Percebia-se já uma fratura da socialização disciplinar, ao lado, porém, de fatores positivos como o culto da naturalidade, da cordialidade e do humor, uma flexibilização proporcionada pelo impacto da informação. Hoje, portanto, enorme a tarefa dos que se dedicam à Filosofia.
 
A mutação sociológica global em curso tornou muito mais complexa a situação humana no cosmos. Isto porque nos dias atuais impõe-se o máximo possível de opções com um mínimo de normas; o máximo de desejos com pouca austeridade.Acentuou-se uma aversão ao mínimo de constrangimento.
 
Daí a necessidade, que se observa hoje, da psicologização das modalidades de socialização em bases filosóficas. Os valores individualistas não podem simplesmente impor suas indeterminações constitutivas. Quando o termo globalização está na ordem dos acontecimentos, é preciso enfrentar a estratégia global do processo de uma personalização acentuada, de um individualismo hedonista.
 
A Filosofia, porém, conduz à ataraxia, serenados os ânimos numa quietude beatífica, mas que não amordaça o dinamismo necessário aos grandes esforços, visando o aprimoramento individual e social. Não há então a morte do desejo, nem a amputação da expressão e a atrofia do eu, mas afloram personalidades abertas à realidade de um mundo inteiramente novo, mas que não pode romper com princípios fundamentais sem os quais nada de consistente se constrói. É deste modo que se orientará a sociedade pós-moderna colocando-a sob a égide de dispositivos abertos e plurais.
 
Hoje, tão alucinante é o passar das horas pela influência de toda a parafernália tecnológica de que dispomos, que o perigo é, de fato, cair no vazio descurando-se inteiramente do devir. Fecha-se o homem no imanente e bloqueada está a passagem para o transcendente. Desconhece-se o autêntico eudemonismo. Não se “mata” mais o tempo, o que comprometia o futuro, mas se nota um endeusamento passional do presente, violentando o que há de vir.
 
É o domínio do imediatismo para se ter o máximo de prazer momentâneo. O risco que corre o planeta é disto a prova mais contundente a ponto de, num amanhã muito próximo, vir a faltar a água, dado o egoísmo com que a mesma é malbaratada mundo todo.
A degradação do meio ambiente é sumamente sintomático nesta série de considerações. Falta um projeto histórico consistente, mobilizador. Gastam-se a torto e a direito até mesmo os recursos naturais.
 
Conceito errôneo do tempo presente
 
O pavor da obsolescência acelerada leva a um curtir equivocado do presente, afogando no transitório as grandes potencialidades do ser racional. Consome-se a própria existência nesta hipertrofia do deleite e do consumo, resultantes de uma deletéria filáucia. Uma flutuação existencial que não leva a nada e que não é remediado nem pelo ecologismo, pelo psicologismo, sendo sumamente grave a baixa estima em que se imergem tantas mentes talentosas.
 
Entretanto, que há a outra face do pós-moderno que pode ser explorada no sentido de se obviar tais distorções.
Cumpre sempre inocular no surto individualista, induzido pelo processo de personalização, o sentido da importância histórica da pessoa humana, retomando a idéia de uma continuidade construtiva no tempo que parece se esvair, mas que permite se construa algo consistente para além de atitudes hedônicas que giram em torno de ilusões.