Século XXI: O Humanismo Cristão

Por Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

 

No início do Terceiro Milênio os cientistas sociais se debruçam sobre os magnos dilemas da sociedade no mundo da globalização, tentando um juízo dos fatos e das situações dentro de uma perspectiva otimista, longe de uma visão catastrófica, mas profundamente realista.

Perante novas questões que surgem nas ondas do progresso tecnológico cada vez mais vertiginoso a grande meta será atingir uma cultura na qual impere a liberdade, mas com total responsabilidade.

O referencial para nortear as novas conquistas científicas deve ser a causa da dignidade da pessoa humana.

 Daí a necessidade imperiosa da denúncia de decisões que agridam o ser racional, da defesa intransigente de valores sem os quais a degradação seria fatal, mortífera. Foi por isto que soaram vibrantes as palavras de João Paulo II aos participantes da Assembléia Geral da Pontifícia Academia para a Vida, no início deste ano: “ A melhor maneira de superar e vencer a perigosa cultura da morte consiste em dar fundamentos sólidos e conteúdos luminosos a uma cultura da vida que se contraponha, com vigor, a essa cultura da morte. Não é suficiente, mesmo se necessário e um dever, limitar-se a expor e denunciar os efeitos mortíferos da cultura da morte. É preciso, sobretudo, regenerar continuamente o tecido interior da cultura contemporânea, entendida como mentalidade vivida, com conjunto de convicções e comportamentos, como estruturas sociais que a sustentam”.

É preciso, urgentemente, de fato, desconfiar de critérios imediatistas e pragmáticos que estejam a serviço do domínio econômico que posterga princípios éticos fundamentais na ânsia de se obter o lucro a qualquer preço. Rupturas fraturantes que colocam em cheque a lei natural devem ser evitadas a todo custo sob pena de se jogar no abismo aquele que foi criado à imagem e semelhança de Deus.

Uma liberdade sem limites leva a todo tipo de corrupção, a qual obscurece, inclusive, o valor da liberdade econômica. Por outro lado, se nota o fenômeno degradante da marginalização social, agravada com as mais cruéis manifestações de violência, parturejando insegurança e quebrando a harmonia das comunidades.

Adite-se que há falta de confiança no atual sistema judicial, base indispensável de um Estado de Direito, que propicie aquela tranqüilidade da ordem que constitui a paz social. Nem se poderia deixar de enumerar como um dos fatores mais preocupantes deste início de milênio a toxicodependência e a deliqüência juvenil que são, exatamente, um dos frutos horrípilos da cultura da morte.

 

O grande antídoto

 Neste caso, o grande antídoto será uma corajosa e inovadora visão da política de educação, haurida inicialmente numa família bem estruturada e indene do hedonismo deletério. A mediatização da vida, resultante da mundialização mostra um mundo com novos poderes e hoje já se identifica com mais clareza que a globalização é um neocolonialismo, fragilizando ainda mais o equilíbrio entre os povos.

Neste diagnóstico nem se poderia deixar de formular o sério problema do crescimento da ilegalidade e da anomia, instalando-se o reinado da esperteza, da astúcia, da habilidade em enganar, da  lábia,da solércia, da manha, da artimanha, do ardil, o que patenteia os efeitos maléficos e uma ética individualista, maquiavélica, com a qual prevalecem o interesse pessoal e a vantagem a qualquer preço.

Todos têm obrigação de contribuir para a equação de tantas questões, pois se deve desejar sempre uma sociedade organizada.  Urge repensar todos os temas acima relacionados, implementando com vigor as linhas de força culturais que alicerçam uma marcha para frente, sem retrocessos desumanos, caminhada assinalada pela abertura à universalidade, à convivência na diversidade, à afirmação, sem temores vãos, de um humanismo cristão, única tábua de salvação para a humanidade.