Neste início de um novo
milênio os estudiosos estão impressionados com a atualidade da doutrina
metafísica de Tomás de Aquino que viveu no século XIII, mas que foi
considerado “o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios”.
Não se pode, de fato,
ignorar o liame profundo que há entre a Filosofia e a Técnica, objetivando
apontar soluções para as magnas questões que afligem atualmente o ser
pensante.
O afastamento do Ser
Supremo, com todas as suas funestas conseqüências, é uma triste marca de uma
civilização materialista. O pensamento de Tomás de Aquino está bem de
acordo, porém, com a metodologia científica, uma vez que, segundo ele, Deus
não é conhecido em si mesmo, mas enquanto é fonte dos princípios pode-se ter
a posteriori o conhecimento dele. Cumpre ir do ser finito,
limitado, contingente até o Primeiro Princípio de tudo. O que existe é
composto de dois princípios, isto é, a essência e a existência, enquanto que
no Criador a essência coincide com sua existência. Há, pois, uma distinção
entre o ente comum e o próprio Ser subsistente – Ipsum esse subistens.
O que se percebe no mundo de
hoje é o esforço para que a concepção técnica científica ocupe o lugar da
Metafísica. É a aspiração humana de dominar o ser como tal. Quando, porém, a
razão humana se enclausura na imanência fica inteiramente bloqueada a
passagem para a transcendência e, neste caso, não se chega a Deus. Resta,
porém, uma esperança: o homem, no avançar contínuo de suas pesquisas,
acabará atinando com a ação criadora de Deus.
Cressly Morrison,
ex-presidente da Academia de Ciências de Nova York afirmou: “Nós estamos no
amanhecer da era científica e todo o aumento da luz revela mais e mais a
obra de um Criador inteligente. Nós fizemos descobertas estupendas: com um
espírito de humildade científica e de fé fundamentada no conhecimento.
Estamos nos aproximando de uma consciência de Deus”. Após percorrer as
grandes leis que regem o mundo, este sábio conclui: “É perante estes e
outros exemplos que não há uma chance sequer em um bilhão que a vida em
nosso planeta seja um acidente”. Há um abismo que separa o Ato criador
originário e a possível analogia que se faça com a criação humana. Trata-se
de uma dessemelhança infinita, que oferece caminho para o Transcendente. Aí,
então sim, o homem poderá ultrapassar o mundo circunscrito pelos objetos do
praticar técnico e reconhecer sua finitude e indigência.
Tomás de Aquino chamou
exatamente a atenção para o existir dos seres. Assim se expressou Henrique
C. de Lima Vaz: “Como ensina Tomás de Aquino, um ser que assume o infinito
ônus metafísico de enunciar o existir dos seres,
só pode existir autenticamente ao assumir sua abertura constitutiva ao
Absoluto; no consentimento às formas absolutas da Verdade e do bem e no
reconhecimento da ordenação de todo o seu ser ao Existir transcendente
absoluto”. Este notável filósofo brasileiro com razão então asseverou: “Na
alma profundo do homo technicus subsiste o homo
metaphysicus”. É, realmente, viável o caminhar da razão, isto é, do
conhecimento científico, para a intelecção profunda do ser, ou seja, para o
conhecimento metafísico, ou, como dizem os filósofos, “a passagem da
ratio ao intellectus”, indo do sujeito concreto
ao absoluto real. Pelo intelecto, filosoficamente, o homem sobe até o Ente
que existe por si mesmo, sendo que pela fé, teologicamente, encontra-se com
este Deus Criador, como Absoluto que desceu à contingência humana. Tomás de
Aquino percorreu os dois caminhos, pois repensou admiravelmente os filósofos
gregos, sobretudo Aristóteles e, como teólogo consumado, soube mostrar a
beleza do mistério da Encarnação do Verbo, pelo qual foram feitas todas as
coisas. Para o homem desiludido deste início de milênio, nada melhor do que
entrar em contacto com a doutrina tomista, que lhe abrirá sempre horizontes
neste anseio intenso da busca do Infinito que paira dentro de todo homem que
vem a este mundo.