Tomás de Aquino que foi
chamado o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios. Nasceu em março
de 1225 no castelo de Roca-Sica, perto da cidade de Aquino, no reino de
Nápoles, na Itália. Com apenas cinco anos seu pai, conde de Landulfo
d’Aquino, o internou no mosteiro de Monte Cassino. Aí iria ser educado pelos
sábios monges beneditinos, ordem religiosa fundada por Bento de Núrsia
exatamente naquele local.
Tomás fez com raro
brilhantismo os primeiros estudos. Mais tarde freqüentou a Universidade de
Nápoles. Conheceu então os frades dominicanos, seguidores de Domingos de
Gusmão, fundador da ordem dita dos pregadores. Tinha dezoito anos e resolveu
fazer-se dominicano. Seus pais e irmãos ficaram decepcionados, pois Tomás
era genial e tinha uma carreira fulgurante pela frente. Não queriam que ele
fosse um frade de uma ordem mendicante.
Como a família o
importunasse no Convento de Nápoles, Tomás foi transferido para Paris. À
força foi de lá retirado e trazido de volta ao castelo paterno. Tudo fizeram
para lhe tirar da cabeça a idéia de ser padre. Nada o convencia: nem rogos,
nem promessas de uma existência com tudo que uma família rica pode oferecer.
A tentação e a vitória
Seus irmãos imaginaram
armar-lhe uma cilada. Foi um plano realmente diabólico. Introduziram no seu
quarto uma mulher bonita, charmosa, jovem, mas sem moral.
Pensaram eles que Tomás não
resistiria. Entregar-se-ia a ela. Desistiria de sua vocação eclesiástica. A
provocação era de baixo nível. Grande a tentação. Ao entrar a moça no
quarto, Tomás compreendeu que deveria agir sem demora. O perigo era
iminente. Então ele que estava entregue a uma piedosa leitura, imediatamente
se levantou. Arrancou um tição da lareira. Com ele na mão, como uma espada
de fogo, pôs a mulher em fuga.
A moça gritou e sumiu. Deve
ter pensado que estava a lidar com um louco furioso agitando chamas,
ameaçando, na aparência, deitar fogo à casa. Tomás, logo que ela saiu foi
correndo até à porta, a fechou e a trancou. Num impulso natural esmurrou o
tição incandescente na porta e traçou nela com o carvão um grande sinal da
cruz. Jogou o que sobrou do carvão no fogo. Sentou-se de novo na sua cadeira
e voltou a estudar.
Após dois anos, sua mãe
Teodora concordou em libertá-lo. Deixou-se seguir para o convento de Nápoles
em 1245. Acompanhado pelo Superior Geral, João o Teotônico, Tomás partiu
para Paris. Dali foi para Colônia na Alemanha. Foi discípulo de Santo
Alberto Magno com o qual logo se afinou culturalmente. Os estudantes de
Colônia eram ávidos de discussões filosóficas. Nelas Tomás tomava parte
ativamente.
Grande o proveito que tirou
das sábias preleções de filosofia e teologia de Alberto Magno, cujos
conhecimentos eram enciclopédicos. Com ele Tomás aprendeu que a verdadeira
vida de um ser racional é fazer de sua inteligência uma ascensão contínua
até chegar aos mais altos conhecimentos inteligíveis, atingindo a ciência da
alma e a ciência de Deus. Ótimo discípulo, Tomás se distinguiu entre os
colegas, obtendo fama pelo seu talento indiscutível.
O boi mudo
Tomás fora dos momentos de
debates acadêmicos e das conversações atinentes a assuntos sérios, era
calado, reservado. Além disto não apreciava perder tempo com conversas
inúteis. Por isto um de seus colegas o chamou de “o boi mudo”.
Este companheiro, certo dia,
levou a Alberto Magno uns apontamentos de Tomás. Foi nesta ocasião que
Alberto proferiu a frase que se tornou célebre, pois era uma profecia que se
realizou: “Chamais Tomás de “o boi mudo”, mas vos asseguro que seus mugidos
ouvir-se-ão por toda a terra”. De fato, até hoje são inúmeros os seguidores
de Tomás de Aquino, chamados tomistas.
Muito provavelmente foi
porque deram a ele o apelido de “o boi mudo” que um dia os frades resolveram
brincar com Tomás. Este estava, como sempre, andando no claustro, ou seja,
no pátio interior do convento, meditando sobre profundos assuntos referentes
a Deus.
Alguém o chamou, dizendo:
“Vem ver um boi voando”! Tomás, imediatamente, o acompanhou e se pôs a olhar
para o alto ao som das gostosas gargalhadas de seus confrades. Estes então
lhe perguntaram como, sendo tão inteligente, ele podia pensar que um boi
estivesse voando. A resposta de Tomás foi uma lição maravilhosa: “Olhei
porque deve ser mais fácil um boi voar do que um frade mentir”. Nunca mais
brincaram com ele, respeitando seus instantes de funda reflexão.
Seus famosos escritos
Em 1252 Tomás em Paris
ensinava como bacharel. Segundo o método da época, deste modo poderia
alcançar o título de mestre e doutor. Escreveu neste período comentários ao
livro de Sentenças de Pedro Lombardo, obra composta entre 1150
e 1152. Comentou também o Profeta Isaías e o Evangelho de São Mateus.
Passados quatro anos era
doutor e escrevia a Suma contra os Gentios, na qual faz uma
exposição da crença cristã para uso dos missionários. São quatro livros dos
quais os três primeiros tratam de verdades acessíveis à razão e o quarto
livro das verdades de fé propriamente ditas.
Em 1268 iniciou a Suma
Teológica, sua principal produção. Consta ela de três partes,
subdivididas em questões e artigos. As duas primeiras partes datam dos anos
de 1266 a 1272. A terceira, iniciada em 1272, ficou incompleta. Foi
complementada pelo companheiro e amigo fiel de Tomás, Reginaldo de Piperno.
Esta parte se chama Suplemento.
Além destes trabalhos
citados, Tomás escreveu inúmeras Questões como sobre a
Verdade, a Alma, o Mal, a Beatitude e vários Opúsculos Filosóficos sobre assuntos diversos como O Ente a Essência, Sobre as Falácias.
Deixou ainda comentários a respeito das obras de Aristóteles e outros
escritos filosófico-sociais.
Morte imprevista
Quando Tomás de Aquino tinha
cinqüenta e três anos, a 7 de março de 1274, foi surpreendido pela morte no
mosteiro cisterciense de Fossanova. Estava a caminho de Lião onde, por ordem
do Papa Gregório X, iria participar do Concílio de Lião. Ainda no leito de
morte encontrou forças para falar aos monges sobre o livro da Bíblia
denominado Cântico dos Cânticos.
Após seu falecimento ele
entrou para a História com o título de Doutor Angélico, dada a culminância
espiritual que atingiu e a ilibadez de sua existência.
Conta-se que certa ocasião,
diante de um Crucifixo, Tomás ouviu de Jesus estas palavras: “Bem
escrevestes sobre mim, Tomás, que prêmio quereis”? Respondeu ele: “Nada
senão a Ti mesmo, Senhor”. Prestes a morrer pronunciou estas palavras, após
receber a Eucaristia: “De ti, Senhor, me veio o preço da redenção da minha
alma! Todos os meus estudos, vigílias e trabalhos foram por teu amor”.
Conta-se que naquele dia 7
de março de 1274 Alberto Magno que se achava em Colônia, na Alemanha, com
lágrimas nos olhos comunicou aos frades: “O irmão Tomás de Aquino, meu
filho em Cristo, luz da Igreja, morreu. Deus acaba de me revelar isto”.
Teve, portanto, a longa distância a percepção do falecimento de seu
discípulo exemplar.
O corpo de Tomás de Aquino
repousa na Catedral de Tolosa, na França. Foi declarado Santo pelo Papa João
XXII que o canonizou em 1323. Paulo V em 1567 o declarou Doutor da Igreja e
Leão XIII o proclamou em 1879 padroeiro de todas as escolas católicas.
Venera-se sua memória a 28 de janeiro, dia em que seu corpo foi transladado
para Tolosa, em 1369.