O Tomismo V

Por Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

 

Em síntese

A existência de Tomás de Aquino foi, sem dúvida, uma aventura divina.

Quando olhamos para o firmamento à noite, imenso veludo cravado de estrelas, percebemos que umas brilham mais do que outras. Tomás de Aquino no firmamento dos grandes homens é estrela de primeira grandeza. Entre os santos que o cristianismo apresenta, nenhum foi mais sábio.

Ao lado de uma cultura invejável e de uma inteligência admirável Tomás de Aquino deixou o exemplo de uma grande humildade. Honras e dignidades eclesiásticas lhe foram oferecidas, mas ele as recusou. Quis sempre viver na solidão de seu convento onde se refugiava quando não estava a dar aulas ou a pregar.

Tomás de Aquino revela que não basta um saber enciclopédico, mas este deve ser sólido, profundo, alimentado na reflexão contínua.

Na doutrina de Tomás de Aquino encanta não apenas a universalidade dos temas que abordou, dos quais tratou, mas a clareza de sua explanação é também digna de nota.

A obra monumental de Tomás de Aquino foi, sem dúvida, a Suma Teológica, a qual se pode comparar às majestosas catedrais do estilo gótico de seu tempo, elevando-se acima de todos os escritos deste gênero.

Tomás de Aquino ensina como uma vontade determinada, férrea, pode atingir os mais nobres objetivos. A concentração da inteligência nos estudos leva a resultados maravilhosos.

Num mundo no qual tudo arrasta o homem para fora de si mesmo, deixando-o entre as ondas revoltas da angústia e da agitação interior, Tomás de Aquino é um convite vivo a instantes de uma salutar entrega ao silêncio em busca daquela serenidade que felicita e engrandece.

Tudo que foi relatado dizendo respeito ao tomismo, mostra que se trata de um tomismo atual, perdurável e não um tomismo medieval. Isto mostra que há, de fato, em tudo que Tomás de Aquino escreveu uma  tendência universalista.

Oferece, realmente, o conjunto de ensinamentos do grande filósofo de Aquino elementos valiosíssimos para pensar o mundo e o momento atual à luz das verdades perenes. Surgem, realmente, novos pensadores que sob a conduta do Doutor Angélico se consagram a estabelecer a ordem segundo a verdade.

É a verdade que sempre salva e liberta o ser racional, hoje, sobretudo necessitando de um senso crítico apurado. A juventude precisa deste amor à verdade para não se deixar levar pelas armadilhas do erro e da mentira.

O tomismo não quer em absoluto retornar à Idade Média. Trata-se, contudo, de salvar e de assimilar todas as riquezas oferecidas por Tomás de Aquino para valorizar tudo que há de positivo nos tempos modernos. É que o tomismo pretende usar da razão para separar o verdadeiro do falso. Pode purificar certas tendências modernas e integrar tudo que a verdadeira conquista do espírito humano conseguiu após Tomás de Aquino. De fato, o tomismo é uma filosofia essencialmente sintética e assimiladora.

O tomismo é uma sabedoria que nasce de um sistema magnificamente arquitetado por Tomás de Aquino, apta, portanto, para orientar as mentes, libertando-se do erro.

No momento em que se nota no mundo de hoje um surto religioso inegável, a presença de Tomás de Aquino é de fundamental importância. Os cristãos sobretudo, se empenham em viver o que Jesus ensinou e procuram, sem falso moralismo, uma vida longe de lances desonestos que maculam e escravizam. O exemplo magnífico de Tomás de Aquino que, em plena juventude, venceu espetacularmente a tentação sexual, realmente, arrasta e inspira gestos semelhantes.

Com justiça ele foi denominado o Doutor Angélico. Tal elevação de uma existência singular se deveu à sua íntima união com Deus. Hoje grupos juvenis se formam e sem nenhum respeito humano se põem a cantar os louvores divinos e buscam uma perfeição de vida, motivo de fagueiras esperanças. Tudo que Tomás de Aquino realizou ele o consegui indo à fonte suprema do Bem. Neste aspecto há uma sintonia muito grande entre a mentalidade do Aquinate e esta onda religiosa hodierna.

A piedade de Tomás de Aquino era algo viril, pois o conduzia a ações verdadeiramente heróicas. É este o ideal que toma conta de centenas de jovens que não desejam se deixar levar pelas vagas dos vícios, mormente das drogas que matam e rematam tantas vezes a crueldade de espíritos perversos que se enriquecem com as desgraças alheias.

Tomás de Aquino constitui-se deste modo num apelo vibrante a que prossigam todos nesta caminhada vibrante da afirmação pessoal.

Pode-se, portanto, dizer que Tomás de Aquino se torna assim um notável concidadão dos tempos modernos.

Aos males da inteligência ele propõe o remédio do exercício da razão, capaz de desmascarar as insídias das manipulações dos donos do poder.

Aos desastres éticos e morais ele aponta a retidão da vontade firmada na proteção de Deus a levar para longe das servidões dos falsos prazeres.

Ao desânimo que, por vezes, se instaura em tantos corações ele propõe a experiência de Deus, fonte de toda paz e energia interior.

A uma ciência e a uma tecnologia materialistas ele contrapõe o retorno incondicional a Deus, cuja existência ele soube tão bem provar.

A este herói da ordem intelectual se deve acorrer para se buscar nas conquistas do espírito a força capaz de erguer um mundo que se deixou levar pelo endeusamento de falsos ídolos.

Em nossos dias o reencontro com Tomás de Aquino só poderá resultar numa maior pujança intelectual e cultural.