O Tomismo VI

Por Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

 

Atualidade de Tomás de Aquino

         Neste início de um novo milênio os estudiosos estão impressionados com a atualidade da doutrina metafísica de Tomás de Aquino que viveu no século XIII, mas que foi considerado “o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios”.

Não se pode, de fato, ignorar o liame profundo que há entre a Filosofia e a Técnica, objetivando apontar soluções para as magnas questões que afligem atualmente o ser pensante. O afastamento do Ser Supremo com todas as funestas conseqüências é uma triste marca de uma civilização materialista.

O pensamento de Tomás de Aquino  está bem de acordo, porém, com a metodologia científica, uma vez que, segundo ele, Deus não é conhecido em si mesmo, mas enquanto é fonte dos princípios  pode-se ter a posteriori o conhecimento  dele. Cumpre ir do ser finito, limitado, contingente até o Primeiro Princípio de tudo. O que existe é composto de dois princípios, isto é,  a essência e a existência, enquanto que no Criador a essência coincide com sua existência. Há, pois, uma distinção entre o ente comum e o próprio Ser subsistente – Ipsum esse subistens.

 O que se percebe no mundo de hoje é o esforço para que a concepção técnica científica ocupe o lugar da Metafísica. É  a aspiração humana de dominar o ser como tal. Quando, porém, a razão humana se enclausura na imanência fica inteiramente bloqueada a passagem para a transcendência e, neste caso, não se chega a Deus.

 Resta, porém, uma esperança: o homem, no avançar contínuo de suas pesquisas, acabará atinando com a ação criadora de Deus. 

Cressly Morrison, ex-presidente da Academia de Ciências de Nova York recentemente afirmou: “Nós estamos no amanhecer da era científica e todo o aumento da luz revela mais e mais a obra de um Criador inteligente. Nós fizemos descobertas estupendas: com um espírito de humildade científica e de fé fundamentada no conhecimento. Estamos nos aproximando de uma consciência de Deus”.

Após percorrer as  grandes leis que regem o mundo, este sábio conclui: “É perante estes e outros exemplos que não há uma chance sequer em um bilhão que a vida em nosso planeta seja um acidente”. Há um abismo que separa o Ato criador originário e a possível  analogia que se faça com a criação humana. Trata-se de uma dessemelhança infinita, que oferece caminho para o Transcendente. Aí, então sim, o homem poderá ultrapassar  o mundo circunscrito pelos objetos do praticar técnico e reconhecer sua finitude e indigência.

Tomás de Aquino chamou exatamente a atenção para o existir dos seres. Assim se expressou Henrique C. de Lima Vaz: “Como ensina Tomás de Aquino, um ser que assume o infinito ônus metafísico de enunciar o existir dos seres, só pode existir autenticamente ao assumir sua abertura constitutiva ao Absoluto;  no consentimento às formas absolutas da Verdade e do bem e no reconhecimento da ordenação de todo o seu ser ao Existir transcendente absoluto”. Este notável filósofo brasileiro com razão então asseverou: “Na alma profundo do homo technicus subsiste o homo metaphysicus”.

É, realmente, viável o caminhar da razão, isto é, do conhecimento científico, para a intelecção profunda do ser, ou seja, para o conhecimento metafísico, ou,  como dizem os filósofos, “a passagem da ratio ao intellectus, indo do sujeito concreto ao absoluto real. Pelo intelecto, filosoficamente, o homem sobe até o Ente que existe por si mesmo, sendo que pela fé, teologicamente, encontra-se com este Deus Criador, como Absoluto que desceu à contingência humana.

Tomás de Aquino percorreu os dois caminhos, pois repensou admiravelmente os pensadores gregos, sobretudo Aristóteles e, como teólogo consumado, soube mostrar a beleza do mistério da Encarnação do Verbo, pelo qual foram feitas todas as coisas. Para o homem desiludido deste início de milênio, nada melhor do que entrar em contacto com a doutrina tomista, que lhe abrirá sempre horizontes neste anseio intenso da busca do Infinito que paira dentro de todo homem que vem a este mundo.