A Universidade a Luz da Filosofia Cristã III

Por Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

 

Conclusões

A Filosofia Cristã ostenta o verdadeiro papel do intelectual que é o de induzir outros à total realização pessoal e social. E na medida em que cada um abre espaços interiores para os valores, tenta intuí-los e vivê-los, é que poderá levar a comunidade à participação nesta riqueza que promana de um autêntico humanismo.

É através da educação cristã que se restaura a conscientização da nobreza da pessoa humana, “tração essencial de uma civilização digna deste nome”24, baluarte supremo contra as manipulações da tecnocracia e que leva àquela responsabilidade no pensar, no obrar, no sentir e no querer que Goytisolo25 preconiza como única defesa de cada um contra a massificação. Isto é tanto mais premente quando se considera que o transcendente é colocado de forma subjacente no alicerce da atual era tecnológica e, assim, facilmente, é preterido e ignorado. Aliás, Eduardo Prado de Mendonça, em 1968, proclamou: “Nunca se valorizou tanto o culto do irracional. Nunca se estudou tanto, e, contudo, a civilização da máquina desnorteou o homem com relação ao discernimento e controle racional de sua vida”.26 Cirigliano, que enfatiza tanto a função da sociedade como transmissora “de formas culturais vivificadas”27, expressou sua decepção com o que está acontecendo: “Uma sociedade tão poderosa é a nossa para o grande desalojamento do homem! Para que esbarre na vida. Para que seja um frustrado”.28 É que o homem está sendo massacrado dentro de um sistema. Será, porém, o humanismo cristão que o porá no seu lugar, pois, à proporção que o homem se sente senhor de sua sorte, é que se aproxima do auge de sua auto-realização e consegue se precaver contra investidas espúrias.

A Filosofia Cristã dá os fundamentos para que a Universidade apresente o legítimo projeto de uma época pós-tecnológica, eideticamente humana, porque oferece ao mesmo os recursos para que educadores e educandos deparem idéias valorativas que, realmente, humanizem e, assim, usufruam sabiamente das valiosas conquistas obtidas pela ciência hodierna, numa união coerente da concepção científica do universo e do homem, produto do antropocentrismo ontológico e gnosiológico.

 

Notas

  1   R. Vancourt, A Estrutura da Filosofia ‑ As origens do homem, São Paulo, Livraria Duas Cidades, 1964.p.7.

  2   Bacon, Novum Organum, São Paulo, Abril S.A. Cultural e Industrial, 1979.p.13.

  3   G. Zuccante, Sócrates ‑ Fonti ambiente, vita e dottrina, Turin, Bocca, 1909.

  4   Louis Lavelle, Traité des valeurs, Paris, Presses Universitaires de France, 1951, T.I.p.60.

  5   Jean Mourroux, Vocação cristã do homem, São Paulo, Flamboyant, 1961.p.117.

  6   1 Romanos 2,2.

  7   Lucas 6,45.

  8   Jacques Maritain, Os direitos do homem, Livraria José Olympio Editora, 1947.p.111.

  9   Henrique C. Lima Vaz, Ontologia e História, São Paulo, Livraria Duas Cidades, 1968.p.203.

10   Creuza Capalho, Ideologia e educação, São Paulo, Editora Convívio, 1978.p.111.

11   Bernard Häring, La Loi du Christ, Belgium, Desclée & Cie. Éditeurs, 1956.p.129.

12   G. Lapassade, L’entrée dans la vie. Essai sur I’inachèvement de I’homme, Paris, Ed. Minuit, 1963.

13   Concílio Ecumênico Vaticano II, Declaração Gravissimum Educationis, n.10.

14   Henrique C. Lima Vaz in apresentação da obra de D. H. Salman, O lugar da Filosofia na Universidade, Petrópolis, Editora Vozes Ltda., 1970.p.7.

15   Adolpho Crippa, O Problema da Universidade, São Paulo, Editora Convívio, 1966.p.63.

16   Jacques Maritain, Rumos da Educação, Rio de Janeiro, Livraria Agir Editora, 1968.p.126.

17   Idem, ibidem.p.147.

18   La Nacion, Buenos Aires, 17.10.1979.p.8.

19   José Newton Alves de Sousa, Perspectivas cristãs da Universidade, Salvador, 1o vol., Editora Mensgeiro da Fé Ltda.p.15.

20   Pio XI, sobre a Educação Cristã da Juventude, Petrópolis, Ed. Vozes, 1956.p.2.

21   Octávio Nicolás Derisi, Valores Básicos para a construção de uma Sociedade realmente Humana, São Paulo, Mundo Cultural Ltda., 1977.p.81.

22   Creuza Capalho, op.cit.p.104.

23   P. Furter, Educação e Reflexão, Petrópolis, Editora Vozes Ltda., 1970.p.70.

24   Jacques Maritain, Os direitos do homem, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1947.p.10.

25   Juan Vallet Goytisolo, O perigo da desumanização através do predomínio da tecnocracia, São Paulo, Mundo Cultural Ltda.,1977,p.258 - 261.

26   Eduardo Prado de Mendonça, O Mundo precisa de Filosofia, Rio de Janeiro, Livraria Agir Editora, 1968.p.81.

27   Gustavo F.G. Cirigliano, Fenomenologia da Educação, Petrópolis, Editora Vozes Ltda., 1972.p.87.

28   Idem, ibidem.p.221.