A Filosofia Cristã ostenta o
verdadeiro papel do intelectual que é o de induzir outros à total realização
pessoal e social. E na medida em que cada um abre espaços interiores para os
valores, tenta intuí-los e vivê-los, é que poderá levar a comunidade à
participação nesta riqueza que promana de um autêntico humanismo.
É através da educação cristã
que se restaura a conscientização da nobreza da pessoa humana, “tração
essencial de uma civilização digna deste nome”24, baluarte
supremo contra as manipulações da tecnocracia e que leva àquela
responsabilidade no pensar, no obrar, no sentir e no querer que Goytisolo25
preconiza como única defesa de cada um contra a massificação. Isto é tanto
mais premente quando se considera que o transcendente é colocado de forma
subjacente no alicerce da atual era tecnológica e, assim, facilmente, é
preterido e ignorado. Aliás, Eduardo Prado de Mendonça, em 1968, proclamou:
“Nunca se valorizou tanto o culto do irracional. Nunca se estudou tanto, e,
contudo, a civilização da máquina desnorteou o homem com relação ao
discernimento e controle racional de sua vida”.26 Cirigliano, que
enfatiza tanto a função da sociedade como transmissora “de formas culturais
vivificadas”27, expressou sua decepção com o que está
acontecendo: “Uma sociedade tão poderosa é a nossa para o grande
desalojamento do homem! Para que esbarre na vida. Para que seja um
frustrado”.28 É que o homem está sendo massacrado dentro de um
sistema. Será, porém, o humanismo cristão que o porá no seu lugar, pois, à
proporção que o homem se sente senhor de sua sorte, é que se aproxima do
auge de sua auto-realização e consegue se precaver contra investidas
espúrias.
A Filosofia Cristã dá os
fundamentos para que a Universidade apresente o legítimo projeto de uma
época pós-tecnológica, eideticamente humana, porque oferece ao mesmo os
recursos para que educadores e educandos deparem idéias valorativas que,
realmente, humanizem e, assim, usufruam sabiamente das valiosas conquistas
obtidas pela ciência hodierna, numa união coerente da concepção científica
do universo e do homem, produto do antropocentrismo ontológico e
gnosiológico.
Notas
1
R. Vancourt,
A Estrutura da Filosofia ‑ As origens do homem, São Paulo, Livraria Duas
Cidades, 1964.p.7.
2
Bacon, Novum
Organum, São Paulo, Abril S.A. Cultural e Industrial, 1979.p.13.
3
G. Zuccante,
Sócrates ‑ Fonti ambiente, vita e dottrina, Turin, Bocca, 1909.
4
Louis Lavelle,
Traité des valeurs, Paris, Presses Universitaires de France, 1951,
T.I.p.60.
5
Jean Mourroux,
Vocação cristã do homem, São Paulo, Flamboyant, 1961.p.117.
6
1 Romanos 2,2.
7
Lucas 6,45.
8
Jacques
Maritain, Os direitos do homem, Livraria José Olympio Editora,
1947.p.111.
9
Henrique C.
Lima Vaz, Ontologia e História, São Paulo, Livraria Duas Cidades,
1968.p.203.
10
Creuza Capalho,
Ideologia e educação, São Paulo, Editora Convívio, 1978.p.111.
11
Bernard Häring,
La Loi du Christ, Belgium, Desclée & Cie. Éditeurs, 1956.p.129.
12
G.
Lapassade, L’entrée dans la vie. Essai sur I’inachèvement de
I’homme, Paris, Ed. Minuit, 1963.
13
Concílio
Ecumênico Vaticano II, Declaração Gravissimum Educationis, n.10.
14
Henrique C.
Lima Vaz in apresentação da obra de D. H. Salman, O lugar da Filosofia na
Universidade, Petrópolis, Editora Vozes Ltda., 1970.p.7.
15
Adolpho Crippa,
O Problema da Universidade, São Paulo, Editora Convívio, 1966.p.63.
16
Jacques
Maritain, Rumos da Educação, Rio de Janeiro, Livraria Agir Editora,
1968.p.126.
17
Idem,
ibidem.p.147.
18
La
Nacion, Buenos Aires,
17.10.1979.p.8.
19
José Newton
Alves de Sousa, Perspectivas cristãs da Universidade, Salvador, 1o
vol., Editora Mensgeiro da Fé Ltda.p.15.
20
Pio XI,
sobre a Educação Cristã da Juventude, Petrópolis, Ed. Vozes, 1956.p.2.
21
Octávio Nicolás
Derisi, Valores Básicos para a construção de uma Sociedade realmente
Humana, São Paulo, Mundo Cultural Ltda., 1977.p.81.
22
Creuza Capalho,
op.cit.p.104.
23
P. Furter,
Educação e Reflexão, Petrópolis, Editora Vozes Ltda., 1970.p.70.
24
Jacques
Maritain, Os direitos do homem, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio
Editora, 1947.p.10.
25
Juan Vallet
Goytisolo, O perigo da desumanização através do predomínio da
tecnocracia, São Paulo, Mundo Cultural Ltda.,1977,p.258 - 261.
26
Eduardo Prado
de Mendonça, O Mundo precisa de Filosofia, Rio de Janeiro, Livraria
Agir Editora, 1968.p.81.