A Pesquisa ‑ Untersuchung ‑ base da cognição científica em todos os campos do
saber humano e dos valores referenciais de um contexto, suporte da informação
documental ou alicerce dialético da cultura, é uma atividade intelectual que
conduz ao conhecer seguro, à experiência nova, objetivando um repensar
consciente de questões bloqueadas por um fixismo deletério, estagnador e
atrofiante. E elemento básico do desenvolvimento cultural.
O espírito inventivo, a mentalidade aberta à procura constante da verdade
conferem foros de ciência aos trabalhos universitários. Trata-se de um operar
metódico que faz reconstituir procedimentos anteriormente recebidos, reelaborar
teses e promover o avanço da ciência. E sempre uma redescoberta e uma conquista.
Seu produto é um conhecimento útil, prático.
Embora a pesquisa não seja o constitutivo essencial de uma ciência é conditio
sine qua non para o seu progresso, pois é causa cognoscendi.
O pesquisador escapa à observação comum. Crítico, ele exige racionalidade
profunda. Requer o respeito aos dados concretos. Suas especulações são
controladas mediante uma contextura que lhe é o fio condutor.
A técnica de abordagem de um problema bem determinado dá caráter científico à
pesquisa. A perquirição, metodologicamente conduzida, confirma o que é real.
Destrói a utopia, o imaginário, a pseudociência que não aceita fundamentar suas
assertivas e, assim, carece de mecanismos autocorretores, por desprezar as
descobertas e afastar a crítica. Enriquece o que foi submetido a uma análise,
rechaça aquilo que o bom senso auferiu e fez lendário, mítico. Leva a um tipo de
operação cognitiva especial, conducente à captação de novo ângulo e não à mera
ampliação do que se atingiu epidermicamente. Com efeito, através de paradigmas,
conceitos, proposições e teorias a averiguação se torna consistente, coerente,
precisa, lógica, guiando mentes criativas para o que é válido.
A criatividade pessoal é basilar. A metodologia científica, sem dúvida, é capaz
de subministrar diretrizes e oferecer meios para se evitarem os erros, mas não
pode substituir a criação original e tornar o analista indemne de equívocos.
Supõe qualidades peculiares: engenho, perspicácia, argúcia. A atitude
inquisitiva é indispensável. Aliás, segundo Sigmundo Koch, uma síndroma na
ciência moderna é o “pensamento sem significado”, ou seja, “um pensamento ou uma
averiguação sem significado refere-se ao conhecimento como resultado do
‘processamento’ ao invés da descoberta. Pressupõe que o conhecimento seja um
resultado quase automático de uma artimanha, uma linha de montagem, uma
metodologia”1.
Porque acredita no pluralismo da ciência, na linha de Bunge2, o autêntico
cientista sabe que sua investigação não termina num final único, num juízo
completo. Não é unidimensional. Ele não busca uma só formula capaz de abarcar um
universo de soluções. Seu produto é um conjunto de enunciados (fórmulas) e
objetivos, parcialmente interconectados, que se referem a diversas facetas da
realidade. Donald Pierson sintetiza isto ao afirmar que a pesquisa é uma
“investigação sistemática levada a efeito no mundo real (e não apenas no de
idéias), na significação verdadeiramente científica do conceito, sempre se
orientando pelas teorias anteriores e se esforçando para relacionar com elas,
logicamente, todas as novas descobertas, verificando-as ou mostrando a
necessidade de abandoná-las”3. Ocorre, de fato, uma transformação controlada ou
direta de uma situação indeterminada, mal-enfocada ou dúbia, em outra definida,
reconsiderada ou esclarecida. Tudo isto significando um crescimento nas
conquistas da inteligência humana.
Eis por que é importante despertar uma lídima paixão pela pesquisa.
NOTAS
1 Citado por Bernard S. Phillips in: Pesquisa Social - Estratégias e Táticas,
Rio de Janeiro, Livraria Agir Editora, 1974, p. 21.
2 Mário Bunge. La Investigaçión Cientíca- Su estrategia y su filosofia,
Barcelona, Editorial Ariel.
3 Donald Pierson. Teoria e Pesquisa em Sociologia, 5 ed., S. Paulo, s.d.