Filosofia da Investigação Cientifica

Por Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

 

A Pesquisa ‑ Untersuchung ‑ base da cognição científica em todos os campos do saber humano e dos valores referenciais de um contexto, suporte da informação documental ou alicerce dialético da cultura, é uma atividade intelectual que conduz ao conhecer seguro, à experiência nova, objetivando um repensar consciente de questões bloqueadas por um fixismo deletério, estagnador e atrofiante. E elemento básico do desenvolvimento cultural.

O espírito inventivo, a mentalidade aberta à procura constante da verdade conferem foros de ciência aos trabalhos universitários. Trata-se de um operar metódico que faz reconstituir procedimentos anteriormente recebidos, reelaborar teses e promover o avanço da ciência. E sempre uma redescoberta e uma conquista. Seu produto é um conhecimento útil, prático.

Embora a pesquisa não seja o constitutivo essencial de uma ciência é conditio sine qua non para o seu progresso, pois é causa cognoscendi.
O pesquisador escapa à observação comum. Crítico, ele exige racionalidade profunda. Requer o respeito aos dados concretos. Suas especulações são controladas mediante uma contextura que lhe é o fio condutor.

A técnica de abordagem de um problema bem determinado dá caráter científico à pesquisa. A perquirição, metodologicamente conduzida, confirma o que é real. Destrói a utopia, o imaginário, a pseudociência que não aceita fundamentar suas assertivas e, assim, carece de mecanismos autocorretores, por desprezar as descobertas e afastar a crítica. Enriquece o que foi submetido a uma análise, rechaça aquilo que o bom senso auferiu e fez lendário, mítico. Leva a um tipo de operação cognitiva especial, conducente à captação de novo ângulo e não à mera ampliação do que se atingiu epidermicamente. Com efeito, através de paradigmas, conceitos, proposições e teorias a averiguação se torna consistente, coerente, precisa, lógica, guiando mentes criativas para o que é válido.

A criatividade pessoal é basilar. A metodologia científica, sem dúvida, é capaz de subministrar diretrizes e oferecer meios para se evitarem os erros, mas não pode substituir a criação original e tornar o analista indemne de equívocos. Supõe qualidades peculiares: engenho, perspicácia, argúcia. A atitude inquisitiva é indispensável. Aliás, segundo Sigmundo Koch, uma síndroma na ciência moderna é o “pensamento sem significado”, ou seja, “um pensamento ou uma averiguação sem significado refere-se ao conhecimento como resultado do ‘processamento’ ao invés da descoberta. Pressupõe que o conhecimento seja um resultado quase automático de uma artimanha, uma linha de montagem, uma metodologia”1.

Porque acredita no pluralismo da ciência, na linha de Bunge2, o autêntico cientista sabe que sua investigação não termina num final único, num juízo completo. Não é unidimensional. Ele não busca uma só formula capaz de abarcar um universo de soluções. Seu produto é um conjunto de enunciados (fórmulas) e objetivos, parcialmente interconectados, que se referem a diversas facetas da realidade. Donald Pierson sintetiza isto ao afirmar que a pesquisa é uma “investigação sistemática levada a efeito no mundo real (e não apenas no de idéias), na significação verdadeiramente científica do conceito, sempre se orientando pelas teorias anteriores e se esforçando para relacionar com elas, logicamente, todas as novas descobertas, verificando-as ou mostrando a necessidade de abandoná-las”3. Ocorre, de fato, uma transformação controlada ou direta de uma situação indeterminada, mal-enfocada ou dúbia, em outra definida, reconsiderada ou esclarecida. Tudo isto significando um crescimento nas conquistas da inteligência humana.

Eis por que é importante despertar uma lídima paixão pela pesquisa.
 
 
NOTAS
 
1 Citado por Bernard S. Phillips in: Pesquisa Social - Estratégias e Táticas, Rio de Janeiro, Livraria Agir Editora, 1974, p. 21.
2 Mário Bunge. La Investigaçión Cientíca- Su estrategia y su filosofia, Barcelona, Editorial Ariel.
3 Donald Pierson. Teoria e Pesquisa em Sociologia, 5 ed., S. Paulo, s.d.