O tempo é um dos temas que sempre atraíram a atenção do ser racional. Trata-se
de conhecê-lo, diagnosticá-lo, para dar dimensões mais amplas ao desenvolvimento
pessoal. A Filosofia ensina-nos que ele é um fluir constante. Uma sucessão
ininterrupta, na qual todas as coisas que a experiência nos mostra nascem,
existem e morrem. É fatalmente irreversível: nenhum esforço humano o pode deter,
retardar ou acelerar. Tudo, com movimento perpétuo e revolução perene, passa e
vai passando. Daí o natural interesse do homem pelo tempo. Os sábios da Grécia
falavam em seis idades: infância, puerícia, adolescência, juventude, idade
adulta, velhice. Salomão e Confúcio sintetizavam a vida humana em três etapas:
juventude, maturidade e velhice. Shakespeare classificou a existência humana em
sete períodos. Sábios e pensadores, analisando a trajetória do homem neste
mundo, vêm tecendo considerações sobre o tempo e indagam: - Onde estamos? -
Para onde vamos? - Que podemos saber? - Que devemos fazer? - Que nos é lícito
esperar? Eis aí problemas fundamentais intimamente relacionados com o tempo.
Seja qual for a solução, cada um joga com um período de vida que lhe é outorgado
para levar a bom termo o fim supremo de sua existência.
O gênio de Aristóteles deixou esta definição: “O tempo é o número (soma) do
movimento, segundo o anterior e o posterior”. Daí a distinção entre o tempo
cósmico, histórico e existencial, de tanta importância e conseqüências.
Magnífica a análise feita por Berdiaeff: “O tempo cósmico é calculado
matematicamente sobre o movimento de rotação em torno do sol. Com ele se
estabelecem os calendários e os relógios. Ele é simbolizado por um turbilhão. O
tempo histórico está como que encaixado no tempo cósmico e se pode contá-lo
matematicamente por dezenas de anos, por séculos, por milênios. Nenhum fato ,
porém, pode nele se repetir. Está simbolizado por uma linha dirigida para o
futuro, para a novidade. O tempo existencial não se calcula matematicamente. Seu
curso depende da intensidade com a qual se vive nele, depende de nossos
sofrimentos e de nossas alegrias”. Não se mede nem se avalia uma existência pelo
número de anos, nem pelo período histórico, mas, sim, pela vivência plena e
intensa, repleta de ações que perenemente repercutirão.
Bem afirmou Vieira: “Nem todos os anos que passam se vivem: uma coisa é contar
os anos, outra é vivê-los”. As ações são, em verdade, os dias e é por elas que
têm valor os anos. O viver em plenitude cada instante é o segredo da verdadeira
vida. Cristo viveu 33 anos. Alexandre Magno, 32. Tomás de Aquino, 48. Luís
Gonzaga, 23. Alberto Magno, 32. Franz Shubert, 31. Mozart, 35. A eles e a
tantos outros se aplica o dito da Escritura: “Tendo vivido pouco, encheram a
carreira duma larga vida”. Tanto é verdade que o importante não é viver muito,
mas viver bem. Os que tiveram existência longa só continuam na lembrança dos
pósteros porque souberam bem se aproveitar de seus dias.
Eis porque Horácio lançou esta sentença: “carpe diem, quam minimum credula
postero” - aproveita o dia presente e não queiras confiar no de amanhã. Escrivá
dá este conselho: “Que a tua vida não seja estéril. Sê útil. Deixa rasto”. É
dos latinos a máxima: “age quod agis” - faze bem o que estas fazendo. Goethe dá
o motivo: “Cada momento, cada segundo é de um valor infinito, pois ele é o
representante de uma eternidade inteira”. Idéia já expressa por Apuleio: “tempus
aevi imaginem” - o tempo é a imagem da eternidade. Virgílio advertiu que não se
pode dissipar o tempo : “Fugit irreparabile tempus” - foge o irreparável o
tempo. A ele fez eco Horário: “Eheu! Fugaces labuntur anni” - ai de nós, os anos
fogem rápidos! Escapam-nos.
Razão teve Riminaldo ao escrever: “Há quatro coisas que não voltam atrás: a
pedra, depois de solta mão; a palavra, depois de proferida; a ocasião, depois de
perdida; e o tempo, depois de passado”. É de Bulwer-Lytton o dito famoso: “Time
is money” - o tempo é dinheiro. Quevedo faz esta ponderação: “Sabes tu,
porventura, o que vale um dia? Conheces o preço de uma hora? Examinaste, já, o
valor do tempo? Decerto não, porque o deixas passar, alegre, descuidado da hora
que, fugitiva e secreta, te leva preciosíssimo roubo. Quem te disse que o que já
foi, voltará, quando te for preciso, se o chamares? Dize-me: viste já alguma
pegada do dia? Não! Ele só volta a cabeça para rir e zombar daqueles que assim o
deixaram passar”. Tudo isto merece uma reflexão profunda.