Aristóteles foi provavelmente o
mais erudito e sábio dos filósofos gregos clássicos ou antigos.
Familiarizou-se com todo o desenvolvimento do pensamento grego anterior a
ele. Em sua obra pessoal, considerou, resumiu, criticou e desenvolveu ainda
mais toda a rica tradição que herdara. É autor de grande número de tratados
de lógica, política, história natural e física. Sua obra é a fonte do
tomismo e da escolástica. Ele e seu professor Platão são em geral
considerados os dois mais importantes filósofos gregos da antiguidade.
Vida
Aristóteles nasceu em Estagira, pequena cidade do norte da Grécia. Seu pai,
Nicômaco, era médico de Amintas II, rei da Macedônia, país vizinho. Amintas
foi pai de Filipe da Macedônia e avô de Alexandre, o Grande. Quando seus
pais morreram, Aristóteles, ainda uma criança, passou a ser criado por um
tutor chamado Proxeno.
Por volta dos 18 anos, Aristóteles ingressou na escola ateniense de Platão,
conhecida como a Academia. Ali ficou por cerca de 20 anos. Platão
considerava Aristóteles o mais brilhante e instruído discípulo da Academia,
e chamava-o a inteligência da escola e o leitor.
Com a morte de Platão, em 347 a.C., Aristóteles deixou a Academia para se
juntar a um pequeno grupo de discípulos de Platão que viviam com Hérmias,
antigo estudante da Academia. Hérmias tornara-se o senhor de Atarnéia e
Asso, cidades costeiras da Ásia Menor. Aristóteles passou cerca de três anos
com Hérmias, e casou-se com sua filha adotiva, Pítia.
Em 343 ou 342 a.C., Filipe II, rei da Macedônia, convidou Aristóteles para
supervisionar a educação de seu filho Alexandre. Este, mais tarde,
conquistou toda a Grécia, venceu o Império Persa, e tornou-se conhecido como
Alexandre, o Grande. Alexandre teve Aristóteles como preceptor até 336 a.C.,
ocasião em que o jovem subiu ao trono, após seu pai ter sido assassinado.
Após 334 a.C., Aristóteles voltou a Atenas e fundou uma escola chamada o
Liceu. A escola de Aristóteles, sua filosofia e seus adeptos foram chamados
peripatéticos (da palavra grega que significa dar voltas), porque
Aristóteles ensinava passeando com seus discípulos.
Pouco depois da morte de Alexandre, em 323 a.C., Aristóteles foi acusado de
impiedade (desrespeito aos deuses) pelos atenienses. Estes provavelmente se
ressentiam de sua amizade com Alexandre, o homem que conquistara seu país.
Aristóteles não esquecera o destino do filósofo Sócrates, condenado à morte
por uma acusação semelhante feita pelos atenienses em 399 a.C. Fugiu então
para a cidade de Cálcis, para que os atenienses não pudessem, como ele
disse, "pecar duas vezes contra a filosofia". Ali morreu um ano depois.
Obra Escrita de Aristóteles.
A obra escrita de Aristóteles é geralmente dividida em três grupos: obras
populares; memorandos; tratados.
As obras populares são, em sua maioria, diálogos sobre o modelo dos diálogos
de Platão, e foram produzidas enquanto Aristóteles ainda freqüentava a
Academia. Tais obras se destinavam a um público geral externo à escola. Eis
por que Aristóteles a elas se referia como exotéricas. Esses escritos não
sobreviveram, mas autores posteriores se referiram a eles muitas vezes,
inclusive com citações.
Os memorandos foram, em grande parte, coleções de materiais de pesquisa e
registros históricos. Preparados por Aristóteles com a ajuda de seus
discípulos, destinavam-se a servir de fonte de informação para os
estudiosos. Tal como sucedeu com os escritos populares, os memorandos
perderam-se, com poucas exceções.
Os tratados constituem quase toda a parte da obra de Aristóteles conservada
até hoje. Foram provavelmente escritos para servir como anotações de aula ou
manuais para o Liceu. Ao contrário das obras populares, os tratados só se
destinavam aos estudantes na escola. Por isso, os tratados são chamados
obras esotéricas. (eso- em grego, significa interno).
Lógica. As obras de Aristóteles sobre lógica são chamadas, em conjunto,
Organon, que significa instrumento, porque investigam o pensamento,
instrumento do conhecimento.
O Organon abrange As Categorias, As Analíticas Anterior e Posterior, Os
Tópicos e Sobre a Interpretação. Aristóteles foi o primeiro filósofo a
analisar o processo pelo qual se pode, através da lógica, inferir que certas
proposições são verdadeiras, a partir do fato de que certas outras
proposições também o são. Acreditava que esse processo de inferência lógica
se baseava em uma forma de argumento, a que chamou silogismo. Em um
silogismo, argumenta-se ou infere-se logicamente que uma proposição é
verdadeira, pelo fato de duas outras proposições serem verdadeiras. Por
exemplo, dos fatos de que todos os homens são mortais e Sócrates é um homem,
pode-se logicamente argumentar que Sócrates é mortal. O silogismo continuou
a desempenhar importante papel na filosofia posterior.
Filosofia da Natureza. Para Aristóteles, o aspecto mais impressionante da
natureza eram as mudanças. Em sua Física, chegou a definir a filosofia da
natureza como o estudo das coisas que mudam. Aristóteles dizia que, para
compreender a mudança, deve-se distinguir entre a forma e a matéria de uma
coisa. Por exemplo, uma escultura pode ter a forma de um homem e ter o
bronze como matéria. Aristóteles acreditava que a mudança consiste
essencialmente no fato de a mesma matéria adquirir nova forma. Em nosso
exemplo, ocorre mudança quando a escultura de bronze é moldada em nova
forma.
Para melhor compreensão das mudanças, Aristóteles estudou suas causas:
materiais, eficientes, formais, finais. A causa material da escultura é o
material de que é feita. Sua causa eficiente é a atividade do escultor que a
faz. Sua causa formal é a forma em que o bronze é moldado. Sua causa final é
o plano ou projeto que o escultor tem em mente.
Aristóteles estudou o movimento como uma espécie de mudança, e escreveu
sobre o movimento dos corpos celestes em sua obra Do Céu. Em Da Geração e
Corrupção, investigou as alterações que ocorrem quando alguma coisa parece
ser criada ou destruída.
A filosofia de Aristóteles sobre a natureza estende-se à psicologia e à
biologia. Em Da Alma, investigou as várias funções da alma e a relação entre
a alma e o corpo. Aristóteles foi o primeiro grande biologista do mundo.
Colecionou uma vasta quantidade de informações acerca da variedade,
estrutura e comportamento de animais e vegetais. Analisou as partes dos
organismos vivos teleologicamente, isto é, buscando suas finalidades.
Metafísica. Em sua Metafísica, Aristóteles tentou desenvolver uma ciência
das coisas que nunca mudam, investigando os princípios básicos e mais gerais
da realidade e do conhecimento.
Considerando que a mais importante dessas coisas imutáveis é Deus,
Aristóteles às vezes chamava essa ciência de teologia, o estudo de Deus.
Também chamava a esse ramo de sua filosofia a primeira filosofia, em razão
de sua importância fundamental. Aristóteles, pessoalmente, nunca usou o nome
metafísica, que literalmente significa depois da física. Esse nome foi dado
àquela obra, séculos mais tarde, simplesmente porque se seguia à Física na
edição escrita das obras de Aristóteles. Mas a palavra metafísica passou a
significar qualquer estudo filosófico dos princípios básicos de realidade e
conhecimento. O termo é também usado comumente no sentido de transcendência.
Ética e Política. Para Aristóteles, tanto a ética como a política estudam o
conhecimento prático, isto é, o conhecimento que capacita o homem a agir
adequadamente e a viver feliz. As obras de Aristóteles sobre este tema
incluem a Ética a Nicômaco e a Política.
Diz Aristóteles que a meta do homem é a felicidade, e que ele alcança a
felicidade quando desempenha plenamente sua função. Logo, é preciso
determinar qual é a função do homem. A função de uma coisa é aquilo que só
ela pode fazer, ou o que ela pode fazer melhor. Por exemplo, a função do
olho é ver, e a função da faca é cortar. Aristóteles declarou que o homem é
o "animal racional", cuja função é raciocinar. Assim, segundo Aristóteles,
para o homem uma vida feliz é a vida governada pela razão.
Aristóteles acreditava que um homem que tem dificuldade em proceder
eticamente (de acordo com a moral) é moralmente imperfeito. Seu homem ideal
exercita-se no comportamento razoável e adequado, até poder fazê-lo com
naturalidade e sem esforço. Aristóteles acreditava que a virtude moral é uma
questão de evitar os extremos no comportamento, procurando, ao contrário, o
meio-termo que fica entre os extremos. Por exemplo, a virtude da coragem é o
meio-termo entre os vícios da covardia, de um lado, e do outro uma louca
ousadia.
Crítica Literária. A Poética de Aristóteles foi provavelmente a obra que,
considerada isoladamente, exerceu maior influência em toda a crítica
literária. A Poética examina a natureza da tragédia, e toma como primeiro
exemplo a tragédia Édipo Rei, de Sófocles. Aristóteles acreditava que a
tragédia afeta profundamente o espectador, despertando-lhe as emoções de
piedade e medo, para depois purificá-lo e livrá-lo dessas emoções. A esse
processo Aristóteles deu o nome de catarse.
O Lugar de Aristóteles no Pensamento Ocidental. Após a morte de Aristóteles,
sua filosofia continuou a ser ensinada na escola Peripatética por uma longa
série de continuadores. Um desses, Critolau, foi para Roma em 155 a.C. e
proporcionou aos romanos seu primeiro contato com a filosofia grega.
Cerca de 50 a.C., Andronico de Rodes publicou as obras de Aristóteles. Essa
edição deu grande estímulo à análise da filosofia aristotélica,
particularmente em Alexandria. Entre os anos 500 e 1100 de nossa era, o
conhecimento da filosofia de Aristóteles quase desapareceu totalmente no
Ocidente. Durante esse período, foi preservado pelos eruditos árabes e
sírios, que tornaram a introduzi-lo na cultura cristã da Europa ocidental
nos séculos XII e XIII.
Aristóteles gozou de enorme prestígio nessa época. Alguns dos maiores
eruditos cristãos e árabes da Idade Média consideravam que a obra de
Aristóteles continha a soma total do conhecimento humano. Santo Tomás de
Aquino, um dos mais influentes filósofos da Idade Média, considerava
Aristóteles O Filósofo. Dante Alighieri, talvez o maior poeta da Idade
Média, chamava Aristóteles de O Mestre dos Que Sabem.
A autoridade de Aristóteles tem declinado desde a Idade Média, mas muitos
filósofos do período moderno muito lhe devem. A extensão da influência de
Aristóteles é difícil de avaliar, porque muitas de suas idéias foram
absorvidas pela linguagem da ciência e da filosofia.
Prof. Alex Campos Furtado - Coordenador dos Cursos de
Pós-Graduação stricto sensu