Aristóteles

Por Alex Campos Furtado

 

Aristóteles foi provavelmente o mais erudito e sábio dos filósofos gregos clássicos ou antigos. Familiarizou-se com todo o desenvolvimento do pensamento grego anterior a ele. Em sua obra pessoal, considerou, resumiu, criticou e desenvolveu ainda mais toda a rica tradição que herdara. É autor de grande número de tratados de lógica, política, história natural e física. Sua obra é a fonte do tomismo e da escolástica. Ele e seu professor Platão são em geral considerados os dois mais importantes filósofos gregos da antiguidade.

Vida

Aristóteles nasceu em Estagira, pequena cidade do norte da Grécia. Seu pai, Nicômaco, era médico de Amintas II, rei da Macedônia, país vizinho. Amintas foi pai de Filipe da Macedônia e avô de Alexandre, o Grande. Quando seus pais morreram, Aristóteles, ainda uma criança, passou a ser criado por um tutor chamado Proxeno.

Por volta dos 18 anos, Aristóteles ingressou na escola ateniense de Platão, conhecida como a Academia. Ali ficou por cerca de 20 anos. Platão considerava Aristóteles o mais brilhante e instruído discípulo da Academia, e chamava-o a inteligência da escola e o leitor.
Com a morte de Platão, em 347 a.C., Aristóteles deixou a Academia para se juntar a um pequeno grupo de discípulos de Platão que viviam com Hérmias, antigo estudante da Academia. Hérmias tornara-se o senhor de Atarnéia e Asso, cidades costeiras da Ásia Menor. Aristóteles passou cerca de três anos com Hérmias, e casou-se com sua filha adotiva, Pítia.

Em 343 ou 342 a.C., Filipe II, rei da Macedônia, convidou Aristóteles para supervisionar a educação de seu filho Alexandre. Este, mais tarde, conquistou toda a Grécia, venceu o Império Persa, e tornou-se conhecido como Alexandre, o Grande. Alexandre teve Aristóteles como preceptor até 336 a.C., ocasião em que o jovem subiu ao trono, após seu pai ter sido assassinado.

Após 334 a.C., Aristóteles voltou a Atenas e fundou uma escola chamada o Liceu. A escola de Aristóteles, sua filosofia e seus adeptos foram chamados peripatéticos (da palavra grega que significa dar voltas), porque Aristóteles ensinava passeando com seus discípulos.

Pouco depois da morte de Alexandre, em 323 a.C., Aristóteles foi acusado de impiedade (desrespeito aos deuses) pelos atenienses. Estes provavelmente se ressentiam de sua amizade com Alexandre, o homem que conquistara seu país. Aristóteles não esquecera o destino do filósofo Sócrates, condenado à morte por uma acusação semelhante feita pelos atenienses em 399 a.C. Fugiu então para a cidade de Cálcis, para que os atenienses não pudessem, como ele disse, "pecar duas vezes contra a filosofia". Ali morreu um ano depois.

Obra Escrita de Aristóteles.

A obra escrita de Aristóteles é geralmente dividida em três grupos: obras populares; memorandos; tratados.

As obras populares são, em sua maioria, diálogos sobre o modelo dos diálogos de Platão, e foram produzidas enquanto Aristóteles ainda freqüentava a Academia. Tais obras se destinavam a um público geral externo à escola. Eis por que Aristóteles a elas se referia como exotéricas. Esses escritos não sobreviveram, mas autores posteriores se referiram a eles muitas vezes, inclusive com citações.

Os memorandos foram, em grande parte, coleções de materiais de pesquisa e registros históricos. Preparados por Aristóteles com a ajuda de seus discípulos, destinavam-se a servir de fonte de informação para os estudiosos. Tal como sucedeu com os escritos populares, os memorandos perderam-se, com poucas exceções.

Os tratados constituem quase toda a parte da obra de Aristóteles conservada até hoje. Foram provavelmente escritos para servir como anotações de aula ou manuais para o Liceu. Ao contrário das obras populares, os tratados só se destinavam aos estudantes na escola. Por isso, os tratados são chamados obras esotéricas. (eso- em grego, significa interno).

Lógica. As obras de Aristóteles sobre lógica são chamadas, em conjunto, Organon, que significa instrumento, porque investigam o pensamento, instrumento do conhecimento.

O Organon abrange As Categorias, As Analíticas Anterior e Posterior, Os Tópicos e Sobre a Interpretação. Aristóteles foi o primeiro filósofo a analisar o processo pelo qual se pode, através da lógica, inferir que certas proposições são verdadeiras, a partir do fato de que certas outras proposições também o são. Acreditava que esse processo de inferência lógica se baseava em uma forma de argumento, a que chamou silogismo. Em um silogismo, argumenta-se ou infere-se logicamente que uma proposição é verdadeira, pelo fato de duas outras proposições serem verdadeiras. Por exemplo, dos fatos de que todos os homens são mortais e Sócrates é um homem, pode-se logicamente argumentar que Sócrates é mortal. O silogismo continuou a desempenhar importante papel na filosofia posterior.

Filosofia da Natureza. Para Aristóteles, o aspecto mais impressionante da natureza eram as mudanças. Em sua Física, chegou a definir a filosofia da natureza como o estudo das coisas que mudam. Aristóteles dizia que, para compreender a mudança, deve-se distinguir entre a forma e a matéria de uma coisa. Por exemplo, uma escultura pode ter a forma de um homem e ter o bronze como matéria. Aristóteles acreditava que a mudança consiste essencialmente no fato de a mesma matéria adquirir nova forma. Em nosso exemplo, ocorre mudança quando a escultura de bronze é moldada em nova forma.

Para melhor compreensão das mudanças, Aristóteles estudou suas causas: materiais, eficientes, formais, finais. A causa material da escultura é o material de que é feita. Sua causa eficiente é a atividade do escultor que a faz. Sua causa formal é a forma em que o bronze é moldado. Sua causa final é o plano ou projeto que o escultor tem em mente.

Aristóteles estudou o movimento como uma espécie de mudança, e escreveu sobre o movimento dos corpos celestes em sua obra Do Céu. Em Da Geração e Corrupção, investigou as alterações que ocorrem quando alguma coisa parece ser criada ou destruída.

A filosofia de Aristóteles sobre a natureza estende-se à psicologia e à biologia. Em Da Alma, investigou as várias funções da alma e a relação entre a alma e o corpo. Aristóteles foi o primeiro grande biologista do mundo. Colecionou uma vasta quantidade de informações acerca da variedade, estrutura e comportamento de animais e vegetais. Analisou as partes dos organismos vivos teleologicamente, isto é, buscando suas finalidades.

Metafísica. Em sua Metafísica, Aristóteles tentou desenvolver uma ciência das coisas que nunca mudam, investigando os princípios básicos e mais gerais da realidade e do conhecimento.

Considerando que a mais importante dessas coisas imutáveis é Deus, Aristóteles às vezes chamava essa ciência de teologia, o estudo de Deus. Também chamava a esse ramo de sua filosofia a primeira filosofia, em razão de sua importância fundamental. Aristóteles, pessoalmente, nunca usou o nome metafísica, que literalmente significa depois da física. Esse nome foi dado àquela obra, séculos mais tarde, simplesmente porque se seguia à Física na edição escrita das obras de Aristóteles. Mas a palavra metafísica passou a significar qualquer estudo filosófico dos princípios básicos de realidade e conhecimento. O termo é também usado comumente no sentido de transcendência.

Ética e Política. Para Aristóteles, tanto a ética como a política estudam o conhecimento prático, isto é, o conhecimento que capacita o homem a agir adequadamente e a viver feliz. As obras de Aristóteles sobre este tema incluem a Ética a Nicômaco e a Política.

Diz Aristóteles que a meta do homem é a felicidade, e que ele alcança a felicidade quando desempenha plenamente sua função. Logo, é preciso determinar qual é a função do homem. A função de uma coisa é aquilo que só ela pode fazer, ou o que ela pode fazer melhor. Por exemplo, a função do olho é ver, e a função da faca é cortar. Aristóteles declarou que o homem é o "animal racional", cuja função é raciocinar. Assim, segundo Aristóteles, para o homem uma vida feliz é a vida governada pela razão.

Aristóteles acreditava que um homem que tem dificuldade em proceder eticamente (de acordo com a moral) é moralmente imperfeito. Seu homem ideal exercita-se no comportamento razoável e adequado, até poder fazê-lo com naturalidade e sem esforço. Aristóteles acreditava que a virtude moral é uma questão de evitar os extremos no comportamento, procurando, ao contrário, o meio-termo que fica entre os extremos. Por exemplo, a virtude da coragem é o meio-termo entre os vícios da covardia, de um lado, e do outro uma louca ousadia.

Crítica Literária. A Poética de Aristóteles foi provavelmente a obra que, considerada isoladamente, exerceu maior influência em toda a crítica literária. A Poética examina a natureza da tragédia, e toma como primeiro exemplo a tragédia Édipo Rei, de Sófocles. Aristóteles acreditava que a tragédia afeta profundamente o espectador, despertando-lhe as emoções de piedade e medo, para depois purificá-lo e livrá-lo dessas emoções. A esse processo Aristóteles deu o nome de catarse.

O Lugar de Aristóteles no Pensamento Ocidental. Após a morte de Aristóteles, sua filosofia continuou a ser ensinada na escola Peripatética por uma longa série de continuadores. Um desses, Critolau, foi para Roma em 155 a.C. e proporcionou aos romanos seu primeiro contato com a filosofia grega.

Cerca de 50 a.C., Andronico de Rodes publicou as obras de Aristóteles. Essa edição deu grande estímulo à análise da filosofia aristotélica, particularmente em Alexandria. Entre os anos 500 e 1100 de nossa era, o conhecimento da filosofia de Aristóteles quase desapareceu totalmente no Ocidente. Durante esse período, foi preservado pelos eruditos árabes e sírios, que tornaram a introduzi-lo na cultura cristã da Europa ocidental nos séculos XII e XIII.

Aristóteles gozou de enorme prestígio nessa época. Alguns dos maiores eruditos cristãos e árabes da Idade Média consideravam que a obra de Aristóteles continha a soma total do conhecimento humano. Santo Tomás de Aquino, um dos mais influentes filósofos da Idade Média, considerava Aristóteles O Filósofo. Dante Alighieri, talvez o maior poeta da Idade Média, chamava Aristóteles de O Mestre dos Que Sabem.

A autoridade de Aristóteles tem declinado desde a Idade Média, mas muitos filósofos do período moderno muito lhe devem. A extensão da influência de Aristóteles é difícil de avaliar, porque muitas de suas idéias foram absorvidas pela linguagem da ciência e da filosofia.

Prof. Alex Campos Furtado - Coordenador dos Cursos de Pós-Graduação stricto sensu

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