A Atualidade da Filosofia Antiga II

Por Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

 

Importância da Filosofia Antiga
 
A filosofia antiga oferece, de fato, recursos para melhor se refletir sobre as magnas questões que afligem a sociedade atual, proporcionando meios para solucionar inúmeras dificuldades que a ciência e tecnologia não resolvem.

O que se esquece muitas vezes é o aspecto interdisciplinar da filosofia  cujas noções basilares farolizam todas as outras ciências.

Os filósofos da antiguidade clássica tiveram intuições  transcendentais sobre a realidade as quais atravessam o tempo, dado que seus conceitos convêm à essência de todos os seres e, assim,  permanecem vivas não obstante todo o avanço da ciência moderna.

Aí está o motivo pelo qual, embora sob o ponto de vista da constituição física, biológica, química dos seres criados eles tenham cometido erros, no que tange à qüididade mesma, à essência de uma coisa, à qualidade essencial, ao conjunto das condições que determinam um ser particular no que lhe é ontologicamente constitutivo, deixaram noções sem as quais a própria ciência não chegaria aonde tem conseguido conquistar.

Pela pujança intelectual incontroversa desses gênios que surgiram na Grécia e em Roma  não se pode negar que não há, nas províncias da investigação teórica, doutrina moderna  que não tenha sua raiz  nas idéias fulgurantes de algum destes pensadores.

Aliás seja dito que muitos malefícios causados à humanidade neste início de milênio, e mesmo anteriormente, pelo mau emprego das conquistas científicas têm seu antídoto em princípios éticos formulados pelos sábios filósofos da antigüidade, os quais, segundo Justino, participavam do logos divino1.  Ao número destes filósofos pertencem Sócrates, Platão e os estóicos, pelos quais Justino tem sincera admiração; mas nem por isso excluem de sua companhia os poetas, os legisladores e os historiadores. Descobre excelentes normas de moralidade nos poetas e nos pensadores anteriores à sua época. Eles não  possuíram integralmente o Logos, mas dele compartilhavam tanto imediata como mediante: imediatamente pela iluminação do Logos, e mediatamente pela revelação.

Diante de tanta calamidade, não obstante a empáfia com que a ciência moderna se apresenta, o retorno ao pensamento antigo proporcionaria soluções para os males atuais.
Adite-se que o ser pensante necessita de referenciais consistentes para poder desenvolver suas conquistas e muitos erros posteriores foram causados exatamente por se ignorarem os princípios filosóficos intemporais levantados pelos gregos e romanos.

Após fatigosas reflexões, quantos estão a repetir ao auscultar o pensamente antigo: “Não há nada de novo sob o sol”!2.

Há algo de permanente no universo e quando os pré-socráticos, assumindo pela vez primeira uma atitude exclusivamente filosófica, passaram a indagar qual seria a ousia, o elemento primordial, o mito foi vencido e uma monumental construção filosófica na plena acepção do termo se iniciou. É de se notar, inclusive,  que a física de certos pré-socráticos anunciaram, embora de maneira rudimentar a física moderna. O caminho foi longo até chegarem os pensadores a Aristóteles com sua teoria do hilemorfismo, uma conquista ímpar da inteligência humana, tendo um grande impacto na antropologia filosófica posterior.

Grande é, por exemplo,  a atualidade da “Carta de Epicuro a Meneceu” para se pensar a relação da humanidade com a natureza e para se colocar um freio aos desejos frívolos, artificiais, como a busca desenfreada de riquezas ao impulso da sociedade de consumo.

No turbulento mundo de hoje e suas vicissitudes, ante o niilismo da cultura moderna, a obra “Arte de viver” de Epicteto, o livro “ Da vida feliz”, de Sêneca,  lidos sob a ótica cristã são atualíssimos, mostrando o uso da razão para se atingir a felicidade. Cumpre, realmente, não se desviar seduzido pelas  falsas aliciações do mundo, mas é preciso que cada um seja senhor de si mesmo. É necessário suportar as dificuldades existenciais com parhesia, coragem, decisão, determinação e força de caráter.