A filosofia antiga oferece, de fato, recursos para melhor se refletir sobre
as magnas questões que afligem a sociedade atual, proporcionando meios para
solucionar inúmeras dificuldades que a ciência e tecnologia não resolvem.
O que se esquece muitas vezes é o aspecto interdisciplinar
da filosofia cujas noções basilares farolizam todas as outras ciências.
Os filósofos da antiguidade clássica tiveram intuições
transcendentais sobre a realidade as quais atravessam o tempo, dado que seus
conceitos convêm à essência de todos os seres e, assim, permanecem vivas
não obstante todo o avanço da ciência moderna.
Aí está o motivo pelo qual, embora sob o ponto de vista da
constituição física, biológica, química dos seres criados eles tenham
cometido erros, no que tange à qüididade mesma, à essência de uma coisa, à
qualidade essencial, ao conjunto das condições que determinam um ser
particular no que lhe é ontologicamente constitutivo, deixaram noções sem as
quais a própria ciência não chegaria aonde tem conseguido conquistar.
Pela pujança intelectual incontroversa desses gênios que
surgiram na Grécia e em Roma não se pode negar que não há, nas províncias
da investigação teórica, doutrina moderna que não tenha sua raiz nas
idéias fulgurantes de algum destes pensadores.
Aliás seja dito que muitos malefícios causados à humanidade
neste início de milênio, e mesmo anteriormente, pelo mau emprego das
conquistas científicas têm seu antídoto em princípios éticos formulados
pelos sábios filósofos da antigüidade, os quais, segundo Justino,
participavam do logos divino1. Ao número destes filósofos pertencem
Sócrates, Platão e os estóicos, pelos quais Justino tem sincera admiração;
mas nem por isso excluem de sua companhia os poetas, os legisladores e os
historiadores. Descobre excelentes normas de moralidade nos poetas e nos
pensadores anteriores à sua época. Eles não possuíram integralmente o
Logos, mas dele compartilhavam tanto imediata como mediante: imediatamente
pela iluminação do Logos, e mediatamente pela revelação.
Diante de tanta calamidade, não obstante a empáfia com que a
ciência moderna se apresenta, o retorno ao pensamento antigo proporcionaria
soluções para os males atuais.
Adite-se que o ser pensante necessita de referenciais consistentes para
poder desenvolver suas conquistas e muitos erros posteriores foram causados
exatamente por se ignorarem os princípios filosóficos intemporais levantados
pelos gregos e romanos.
Após fatigosas reflexões, quantos estão a repetir ao
auscultar o pensamente antigo: “Não há nada de novo sob o sol”!2.
Há algo de permanente no universo e quando os
pré-socráticos, assumindo pela vez primeira uma atitude exclusivamente
filosófica, passaram a indagar qual seria a ousia, o elemento primordial, o
mito foi vencido e uma monumental construção filosófica na plena acepção do
termo se iniciou. É de se notar, inclusive, que a física de certos
pré-socráticos anunciaram, embora de maneira rudimentar a física moderna. O
caminho foi longo até chegarem os pensadores a Aristóteles com sua teoria do
hilemorfismo, uma conquista ímpar da inteligência humana, tendo um grande
impacto na antropologia filosófica posterior.
Grande é, por exemplo, a atualidade da “Carta de Epicuro a
Meneceu” para se pensar a relação da humanidade com a natureza e para se
colocar um freio aos desejos frívolos, artificiais, como a busca desenfreada
de riquezas ao impulso da sociedade de consumo.
No turbulento mundo de hoje e suas vicissitudes, ante o
niilismo da cultura moderna, a obra “Arte de viver” de Epicteto, o livro “
Da vida feliz”, de Sêneca, lidos sob a ótica cristã são atualíssimos,
mostrando o uso da razão para se atingir a felicidade. Cumpre, realmente,
não se desviar seduzido pelas falsas aliciações do mundo, mas é preciso que
cada um seja senhor de si mesmo. É necessário suportar as dificuldades
existenciais com parhesia, coragem, decisão, determinação e força de
caráter.