A Atualidade da Filosofia Antiga III

Por Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

 
Questionamentos à Ciência Moderna
 
A verdade é que a ciência moderna apresenta um saber racional unilateral. Volta-se unicamente para o objeto exterior, a quantidade, o que é aparente, e acaba se esquecendo do sujeito, da sensibilidade, do espírito, do mundo da vida, da consciência  nas quais o saber se enraíza.
 
O imperialismo científicista leva a querer objetivar e a quantificar o próprio sujeito pensante e daí uma psicologia, uma antropologia e uma sociologia dita cientificas, donde uma série de desvios, levando a uma falsa visão do homem nesta terra, a qual é, deste modo,  violada pela falsa percepção do valor da vida humana que fica agredida vítima da agressão desumana à natureza. Uma ciência  que se mostra divorciada  da vida, da existência.
 
É aí que o pensamento antigo entra para recolocar o homem no seu lugar e o entrosar novamente com a natureza numa perspectiva filosófica profunda.
 
É deste espírito que os líderes mundiais deste momento histórico precisam se conscientizar, reservando um tempo no seu agitado agir para repensar o que os sábios greco-romanos disseram.
 
O pensamento antigo leva, realmente, o homem à reconciliação com a natureza e consigo  mesmo e, hoje mais do que nunca, vale o lema socrático “ Conhece-te a ti mesmo” - Gnôthi seauton". É esse ato de conhecimento que torna viável a promoção de nossa autotranscendência. Conhecer a si  mesmo para saber como modificar a relação para consigo, com os outros e com o mundo.
 
Quem acompanha certos fatos que hoje se desenrolam no Brasil fica certamente cada vez mais convencido de que uma releitura dos sábios filósofos gregos, mormente Sócrates e Platão, muito ajudaria para que houvesse mais consistência em muitos dos pronunciamentos e atitudes de alguns líderes que comandam esta nação.
 
O que mais censurava Sócrates nos retóricos de seu tempo era o fato de que, por trás das palavras, não se percebia um saber objetivo, uma filosofia ou firme concepção de vida. Nenhuma moral sólida animava muitos pronunciamentos, cujo móvel era a cobiça, a vontade do sucesso a todo custo, a falta de escrúpulo em prometer sem condições ou intenções de se cumprir o prometido. Um hedonismo macabro estava subjacente no discurso dos sofistas que se julgavam investidos da missão de educadores.
 
É que naquele tempo já se lutava contra o mero fogo de artifício que deslumbra e, por isto mesmo, engana. Apelava Sócrates para um senso crítico apurado, a fim de que se pudesse desmascarar as quimeras cerebrais de falsos intelectuais que aspiram dominar através de palavras fluentes, mas vazias. Tanto ele como Platão chamam a atenção para o fato de que os falsos estadistas são sempre cortejados por aqueles que usam em tudo o padrão de suas conveniências pessoais. Os mais fortes exploram os mais fracos, usando uma política de intimidação. Isto significa que passa a imperar  o princípio do sórdido egoísmo que costuma dominar quem idolatra o  poder, cortejado pela  lisonja que é a arma comum dos palacianos. O ideal socrático e platônico, porém, é que o verdadeiro estadista deve escolher as palavras, praticar  ações justas e distribuir  seus dons em vista de uma ordem suprema do reino do espírito. Nada mais calamitoso para a sociedade do que a destruição dos valores morais. Diluir a tessitura ética da sociedade é o maior dos males.
 
A atenção do bom político terá que se concentrar constantemente no  fazer com que a justiça entre nas almas dos cidadãos apartado qualquer tipo de injustiça. Que reine a prudência e a moderação e desapareça o destempero. Sejam estimuladas as virtudes e afastados todos os vícios. Nada de satisfazer os caprichos pessoais ao ritmo de uma vaidade perniciosa. O tirano que idolatra o poder exige que os outros pensem sempre como ele. Faz correr lágrimas de crocodilo ao se livrar de amigos que se tornam incômodos e não tem receio em afastar no próprio interesse quem no seu caminho se tornou uma pedra.  Por tudo isto,  no pensar de Sócrates o bom cidadão é um lutador e não um adulador, pois é preciso que se aplique  por toda parte  a terapêutica da verdade a qual  torna os homens melhores.
 
Segundo Platão, o autêntico homem público é aquele que faz  mais virtuosos os cidadãos, depois de haver, ele próprio, se tornado mais virtuoso, graças ao domínio que exerce sobre seus ímpetos de mando, evitando todo e qualquer desmando.
 
A opinião reta deve ser fixada, estabilizada pelo saber exato, com o qual se preocupam sempre os bons políticos.