A verdade é que a ciência moderna apresenta um saber racional unilateral.
Volta-se unicamente para o objeto exterior, a quantidade, o que é
aparente, e acaba se esquecendo do sujeito, da sensibilidade, do espírito,
do mundo da vida, da consciência nas quais o saber se enraíza.
O imperialismo científicista leva a querer objetivar e a quantificar o
próprio sujeito pensante e daí uma psicologia, uma antropologia e uma
sociologia dita cientificas, donde uma série de desvios, levando a uma
falsa visão do homem nesta terra, a qual é, deste modo, violada pela
falsa percepção do valor da vida humana que fica agredida vítima da
agressão desumana à natureza. Uma ciência que se mostra divorciada da
vida, da existência.
É aí que o pensamento antigo entra para recolocar o homem no seu lugar e o
entrosar novamente com a natureza numa perspectiva filosófica profunda.
É deste espírito que os líderes mundiais deste momento histórico precisam
se conscientizar, reservando um tempo no seu agitado agir para repensar o
que os sábios greco-romanos disseram.
O pensamento antigo leva, realmente, o homem à reconciliação com a
natureza e consigo mesmo e, hoje mais do que nunca, vale o lema socrático
“ Conhece-te a ti mesmo” - Gnôthi seauton". É esse ato de conhecimento que
torna viável a promoção de nossa autotranscendência. Conhecer a si mesmo
para saber como modificar a relação para consigo, com os outros e com o
mundo.
Quem acompanha certos fatos que hoje se desenrolam no Brasil fica
certamente cada vez mais convencido de que uma releitura dos sábios
filósofos gregos, mormente Sócrates e Platão, muito ajudaria para que
houvesse mais consistência em muitos dos pronunciamentos e atitudes de
alguns líderes que comandam esta nação.
O que mais censurava Sócrates nos retóricos de seu tempo era o fato de
que, por trás das palavras, não se percebia um saber objetivo, uma
filosofia ou firme concepção de vida. Nenhuma moral sólida animava muitos
pronunciamentos, cujo móvel era a cobiça, a vontade do sucesso a todo
custo, a falta de escrúpulo em prometer sem condições ou intenções de se
cumprir o prometido. Um hedonismo macabro estava subjacente no discurso
dos sofistas que se julgavam investidos da missão de educadores.
É que naquele tempo já se lutava contra o mero fogo de artifício que
deslumbra e, por isto mesmo, engana. Apelava Sócrates para um senso
crítico apurado, a fim de que se pudesse desmascarar as quimeras cerebrais
de falsos intelectuais que aspiram dominar através de palavras fluentes,
mas vazias. Tanto ele como Platão chamam a atenção para o fato de que os
falsos estadistas são sempre cortejados por aqueles que usam em tudo o
padrão de suas conveniências pessoais. Os mais fortes exploram os mais
fracos, usando uma política de intimidação. Isto significa que passa a
imperar o princípio do sórdido egoísmo que costuma dominar quem idolatra
o poder, cortejado pela lisonja que é a arma comum dos palacianos. O
ideal socrático e platônico, porém, é que o verdadeiro estadista deve
escolher as palavras, praticar ações justas e distribuir seus dons em
vista de uma ordem suprema do reino do espírito. Nada mais calamitoso para
a sociedade do que a destruição dos valores morais. Diluir a tessitura
ética da sociedade é o maior dos males.
A atenção do bom político terá que se concentrar constantemente no fazer
com que a justiça entre nas almas dos cidadãos apartado qualquer tipo de
injustiça. Que reine a prudência e a moderação e desapareça o destempero.
Sejam estimuladas as virtudes e afastados todos os vícios. Nada de
satisfazer os caprichos pessoais ao ritmo de uma vaidade perniciosa. O
tirano que idolatra o poder exige que os outros pensem sempre como ele.
Faz correr lágrimas de crocodilo ao se livrar de amigos que se tornam
incômodos e não tem receio em afastar no próprio interesse quem no seu
caminho se tornou uma pedra. Por tudo isto, no pensar de Sócrates o bom
cidadão é um lutador e não um adulador, pois é preciso que se aplique por
toda parte a terapêutica da verdade a qual torna os homens melhores.
Segundo Platão, o autêntico homem público é aquele que faz mais virtuosos
os cidadãos, depois de haver, ele próprio, se tornado mais virtuoso,
graças ao domínio que exerce sobre seus ímpetos de mando, evitando todo e
qualquer desmando.
A opinião reta deve ser fixada, estabilizada pelo saber exato, com o qual
se preocupam sempre os bons políticos.