A Filosofia de Platão

Por Alex Campos Furtado

A Teoria das Idéias. Muitos dos diálogos de Platão tentam identificar a natureza ou a essência de alguma noção filosófica importante, definindo-a. Eutífrono gira em torno da discussão e exame da questão "O que é piedade?". A pergunta central de A República é "O que é justiça?". Teeteto tenta definir o conhecimento. Em Cármides, Platão trata da moderação, e em Laches discute o valor. Platão negava que uma noção, tal como a piedade, pudesse ser definida através da simples apresentação de exemplos. Exigia a definição de uma noção para expressar o que é verdade sobre todas as instâncias daquele conceito, e o que é comum a todas elas.

 

Platão estava interessado em saber como é possível aplicar uma única palavra ou conceito a várias coisas diferentes. Por exemplo, por que a palavra mesa pode ser utilizada para todos os objetos individuais que são mesas? Platão decidiu que várias coisas podem ser chamadas pelo mesmo nome porque têm algo em comum, e deu a este fator comum o nome de idéia ou forma das coisas.

Segundo Platão, a natureza real de qualquer coisa individual depende da idéia da qual ela "participa".

 

Por exemplo, um certo objeto é um triângulo porque participa da idéia de triangularidade. Uma determinada mesa é mesa porque participa da idéia de mesa.

 

Platão insistia em afirmar que essas idéias diferem muito das coisas comuns que vemos ao nosso redor. As coisas comuns mudam, mas suas idéias não. Um determinado triângulo pode ser alterado em forma e tamanho, mas a idéia de triangularidade nunca pode mudar. Além disso, as coisas individuais só se aproximam imperfeitamente de suas idéias, que se mantêm como modelos de perfeição inatingíveis. Objetos circulares ou belos nunca são perfeitamente belos ou circulares. A única coisa perfeitamente circular é a própria idéia de circularidade, e a única coisa perfeitamente bela é a idéia de beleza.

 

Platão concluiu que essas idéias perfeitas e imutáveis não podiam ser parte do mundo comum, que é imperfeito e mutável. As idéias não existem no tempo ou no espaço. Elas podem ser conhecidas apenas pelo intelecto, e não pelos sentidos. Devido à sua estabilidade e perfeição, as idéias têm mais realidade do que os objetos comuns observados pelos sentidos. Assim, o verdadeiro conhecimento é o conhecimento das idéias. Essa doutrina central da filosofia de Platão é conhecida como teoria das idéias ou teoria das formas.

 

Ética. Platão baseou sua teoria ética na proposição de que todos os homens desejam a felicidade. É lógico que, algumas vezes, os homens agem de uma maneira que não traz felicidade. Mas só agem assim porque não sabem quais são as ações que os farão felizes. Platão afirmou também que a felicidade é conseqüência natural de um estado sadio da alma. Já que a virtude moral forma a saúde da alma, todos os homens devem querer ser virtuosos. Às vezes, os homens não procuram ser virtuosos, mas só fazem isso porque não percebem que a virtude traz a felicidade.

 

Assim, para Platão, o problema básico da ética é um problema de conhecimento. Se um homem sabe que a virtude moral leva à felicidade, naturalmente agirá de modo virtuoso. Platão distingue-se de muitos filósofos cristãos, que tendiam a encarar o problema básico da ética como um problema da vontade. Esses filósofos afirmam que muitas vezes um homem sabe o que é moralmente certo, mas se defronta com o grande problema de querer fazê-lo.

 

Platão afirmava que é pior cometer uma injustiça do que sofrê-la, porque o comportamento imoral é o sintoma de uma alma doente. Também é pior para o homem que comete uma injustiça não ser punido do que sê-lo, já que a punição ajuda a curar até a mais grave das doenças.

 

Psicologia e Política. A filosofia política de Platão, assim como sua ética, baseava-se em sua teoria da alma humana. Platão afirmava que a alma se divide em três partes: (1) a parte racional ou intelecto; (2) a vontade; e (3) o apetite ou desejo. Declarava que sabemos que a alma tem três partes porque ocasionalmente elas entram em conflito entre si. Por exemplo, uma pessoa pode querer alguma coisa, mas combate esse desejo com o poder de sua vontade. Em uma alma que funciona apropriadamente, o intelecto (a parte superior) deveria controlar o desejo (a parte inferior) com a ajuda da vontade.

 

Platão descreveu a sociedade ou Estado ideal em A República. Assim como a alma, esse Estado ou sociedade tinha três partes ou classes: (1) os reis filósofos, que governavam a sociedade; (2) os guardiães, que mantinham a ordem e defendiam a sociedade; e (3) os cidadãos comuns, agricultores, mercadores e artesãos que cuidavam das necessidades materiais da sociedade. Os reis filósofos representam o intelecto, os guardiães representam a vontade, e os cidadãos comuns representam os desejos. A sociedade ideal de Platão assemelha-se a uma alma funcionando com perfeição, porque os reis filósofos controlam os cidadãos com a ajuda dos guardiães.

 

Imortalidade da Alma. Platão acreditava que, apesar de o corpo morrer e se desintegrar, a alma continuava a viver para sempre. Depois da morte do corpo, a alma migrava para o que Platão chamava de mundo das idéias puras. Lá, ela existia sem corpo, contemplando as idéias. Depois de algum tempo, a alma reencarnava em outro corpo e voltava ao mundo. Mas a alma reencarnada conservava sempre uma lembrança vaga do mundo das idéias e ansiava por ele. Platão declarava que as pessoas se apaixonam porque reconhecem na beleza do ser amado a idéia ideal de beleza, da qual se recordam vagamente e a qual procuram.

 

Em Menão, Platão mostra Sócrates ensinando uma verdade geométrica a um pequeno escravo ignorante, através da formulação de uma série de perguntas. Como o menino aprendia o conceito sem nunca ter recebido nenhuma informação, Platão concluiu que o aprendizado consiste em relembrar o que a alma experimentou no mundo das idéias.

Prof. Alex Campos Furtado - Coordenador dos Cursos de Pós-Graduação stricto sensu

Currículo clicando aqui.