Sócrates e o nascimento da filosofia

Por Alex Campos Furtado

A história da Grécia Antiga pode ser dividida em dois grandes períodos: antes e depois de Sócrates (469 – 399 a. C.). Antes - chamado período Pré-socrático; e a após – chamado período Socrático.

Nosso curso começa exatamente na transição entre um período e outro. Estamos no século V a. C., na Grécia antiga, mais precisamente em Atenas.

Nesse momento, uma grande revolução está acontecendo no pensamento filosófico grego: os Deuses estão perdendo a centralidade e o poder na compreensão da existência humana. Isto implica que os problemas e as soluções possíveis para os homens devem vir deles mesmos e não da interferência direta do Olimpo.

Existe um motivo histórico para que a civilização helênica dê essa guinada e faça a reviravolta tão profunda em sua cultura e no pensar: no século V a. C., os gregos, vitoriosos em suas guerras e conquistadores da Ásia Menor, assistem, sob a direção de Péricles, à consolidação de seu poderio que se traduz de forma majestosa na estruturação da Democracia ateniense, com maior estratificação de participação popular, a expansão das fronteiras gregas, acúmulo de riquezas, intensificação do comércio e abertura para o contrato com outras civilizações.

São estas condições que vão fazer surgir novas classes sociais e novos interesses na centralidade do discurso filosófico.

Logo, a filosofia, impregnada de misticismo e explicações metafísicas a partir dos fenômenos naturais, dará lugar a conhecimentos científicos mais pragmáticos.

1.1 Sofistas e o poder da retórica

Os porta-vozes desta nova mentalidade grega são os Sofistas. Eles surgem em praça pública, enaltecendo a capacidade e a inteligência dos homens. Com tal, advogam a auto-suficiência destes para resolverem os problemas do cotidiano existencial, até porque passam a ser os homens os verdadeiros culpados pelos problemas que enfrentam.

O novo discurso filosófico aponta para a mentalidade da vida do homem grego. Este discurso empírico e pragmático, embebido nos acontecimentos sociais, chamou-se Retórica, portanto à luz da Filosofia passa a representar a secularização do pensamento helênico.

No entanto, devido ao envolvimento com interesses das novas classes, os discursos sofistas vão ser repudiados pelos socráticos como sendo no mínimo superficiais, não revelando a essência das coisas ainda a essência dos homens.

Entre os sofistas, temos vários pensadores, com Protágoras, Leontinos, Trasímaco, Pródico, Hípias, Antifonte e Crítias, que no entanto, não constituíram um pensamento científico único. Senhores de discurso majestosos e seguidos por multidões, vão ser repudiados e contestados por Sócrates e posteriormente por Platão (427-347 a. C.) e Aristóteles (384 -322 a. C.), sendo considerados “vendilhões da palavra”.

De qualquer forma, os sofistas são um marco na passagem revolucionária do pensamento filosófico ocidental, da mitologia para o empirismo social. Por exemplo, eles são os primeiros a defenderem a idéia de justiça com base nas leis elaboradas pelos homens, leis que cada grupo social deverá desenvolver de acordo com sua própria cultura e ambiente geográfico sociopolítico.

Uma visão de justiça relativa e absolutamente secular em contraposição à justiça mítico-religiosa e superior dos deuses. Um enfrentamento ad-eternum que se verificará novamente no final da Idade Média e que persegue os espíritos humanos e consubstancia a Filosofia ocidental até nossos dias.

1.2 A filosofia e a dialética socrática

Sócrates é um “feroz” adversário dos sofistas. A sua antipatia, no entanto, estava declaradamente circunscrita ao pensamento, ao conhecimento e à ânsia de construir uma Filosofia mais essencial, mais verdadeira.

Assim, para ele a essência do homem e a explicação do problema existencial não podem ser buscadas na materialidade cotidiana, povoada que está de interesses suspeitos e egoístas.

A busca da virtude, o bem maior capaz de resgatar a paz e a harmonia entre os homens passa a ser vista como a luta entre o bem e o mal, mas em um plano estritamente espiritual.

Ainda que não seja a volta, em absoluto, à filosofia mítico-religiosa anterior ao século V a. C., é a valorização de uma categoria transcendental que os homens podem encontrar as verdadeiras respostas e almejar por esforço próprio e singular a sabedoria, mãe de todas as virtudes e da própria paz e harmonia social. Assim, a Alma é introduzida de forma triunfante no pensamento filosófico do Ocidente.

Ainda na oposição ao discurso retórico, ao sofisma dos oradores desvinculados da verdade, Sócrates propõe e utiliza, de forma magistral, o discurso dialético. Por isso, a essência do conhecimento passa a ser entendida como a oposição e contraposição de idéias e axiomas.

Dialética = Tese X Antítese = Síntese

Unindo-se os conceitos de Alma e Dialética, necessariamente a verdade e a sabedoria deverão resultar no embate entre categorias especiais do espírito humano, e desta oposição deverá surgir o triunfo do bem sobre o mal, da verdade sobre a mentira, enfim, o triunfo da Filosofia sobre a Retórica.

Prof. Alex Campos Furtado - Coordenador dos Cursos de Pós-Graduação stricto sensu

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