A Vida de Hegel

Por Antônio Rogério da Silva

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) é um dos nomes mais polêmicos da história da filosofia. Admirado por uns, detestado por outros, foi um dos alvos prediletos do ódio que Schopenhauer nutria pelos "três sofistas" da universidade alemã - Fichte, Schelling e Hegel. Teve uma carreira acadêmica que oscilou do sincero entusiasmo juvenil pela Revolução Francesa até o conformismo e admiração pela monarquia restaurada no momento em que se tornou reitor da Universidade de Berlim e filósofo oficial, no final de sua vida.

Antes de fixar-se como professor em Jena, logo após sua diplomação em Tübingen, Hegel sobreviveu como preceptor em Berna, entre 1793 e 1796 (1). Em 1799, depois da morte de seu pai, recebe cerca de 4.500 reais de herança, motivo pelo qual larga as aulas particulares. Por sugestão de Schelling, vai então para Jena, onde ingressa como professor em 1803. Três anos depois, tropas de Napoleão invadem a cidade e a casa de Hegel, que foge levando o manuscrito da Fenomenologia do Espírito, que será impresso em 1807, em Hamburgo. Passa por várias cidades, exercendo diversos trabalhos diferentes, a fim de restabelecer seu equilíbrio financeiro. Um desses empregos é o de editor de um jornal em Bamberg (Bamberger Zeitung), cargo que deixa prontamente para ser diretor do Gymnasium de Nuremberg, em 1812. Neste posto, lança dois dos três volumes de sua Ciência da Lógica, o que lhe valeu o convite para lecionar filosofia na Universidade de Heidelberg. Lá organiza, em um ano, a Enciclopédia Filosófica, que lhe rende um novo convite, agora para trabalhar na Universidade de Berlim, onde ocupa a vaga de Fichte. Em Berlim, Hegel dominou com seu estilo ininteligível todo pensamento alemão, tendo apenas a voz solitária de Schopenhauer a lhe atacar os equívocos. Em 1821, faz publicar os Princípios da Filosofia do Direito, com anotações de aulas. Um ano antes de sua morte, Hegel chega ao topo de sua carreira ao ocupar o cargo de reitor em Berlim, recebendo em seguida o título honorário de filósofo oficial do imperador da Prússia, Frederico Guilherme III (de 1797 a 1840).

Dono de um estilo obscuro, Hegel escreveu com seu próprio punho Fenomenologia do Espírito (1807) e Ciência da Lógica (em três volumes publicados entre 1812 e 1816). Com ajuda de notas feitas por alunos de suas palestras e aulas, publicou em vida a Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1817) e a Filosofia do Direito (1821). Após sua morte, provocada pelo contágio da epidemia de cólera que varreu Berlim em 1831, foi editado Filosofia da História (1837), seu último texto importante. Ao todo, suas obras completas preenchem vinte volumes que foram padronizados em Stuttgart, entre 1927 e 1930. Apesar das dificuldades óbvias de compreensão dos textos originais de Hegel, há em todos os seus livros o fio condutor recorrente do processo histórico, através do qual o espírito teria de percorrer para passar de um mero estágio de consciência sensível até o autêntico saber de si mesmo.