Diz a lenda - e lendas, assim como mitos e parábolas, resumem poética e
figuradamente verdades espirituais e existenciais - que Sidarta resolve
meditar sob a proteção de uma figueira, a Árvore Bodhi. Lá o demônio, que
representa simbolicamente o mundo terreno das aparências sempre mutáveis que
Gautama se esforçava por superar, tenta enredá-lo em dúvidas sobre o sucesso
de sua tentativa de se por numa vida diferente da de seus semelhantes, ou
seja, vem a dúvida sobre o sentido disso tudo que ele fazia. Sidarta logo se
sai dessa tentativa de confundí-lo com a argumentação interna de que
sua vida ganhou um novo sentido e novos referenciais com sua escolha, que o
faziam centrar-se no aqui e agora sem se apegar a desejos que lhe causaria
ansiedade. Ele tinha tudo de que precisava, como as aves do céu tinham da
natureza seu sutento, e toda a beleza do mundo para sua companhia. Mas
Mara, o demônio, não se deu por vencido, e, ciente do perigo que aquele
sujeito representava para ele, tenta convencer Sidarta a entrar logo no
Nirvana - estado de consciência além dos opostos do mundo físico -
imediatamente para evitar que seus insights sobre a vida sejam
passados adiante. Aí é possível que Buda tenha realmente pensado duas vezes,
pois ele sabia o quanto era difícil as pessoas abandonarem seus preconceitos
e apegos a um mundo resumido, por elas mesmas, a experiências sensoriais.
Tratava-se de uma escolha difícil para Sidarta: o usufruto de um domínio
pessoal de um
conhecimento transcendente, impossível de expor facilmente em palavras,
e uma dedicação ao bem-estar geral, entre a salvação pessoal e uma árdua
tentativa de partilhar o conhecimento de uma consciência mais elevada com
todos os homens e mulheres. Por fim, Sidarta compreendeu que todas as
pessoas eram seus irmãos e irmães, e que estavam enredaddos demais em
ilusórias certezas para que conseguissem, sozinhos, uma orientação para onde
deviam ir. Assim, Sidarta, o Buda, resolve passar adiante seus
conhecimentos.
Quando todo o seu poder argumentativo e lógico de persuassão falham, Mara, o
mundo das aparências, resolve mandar a Sidarta suas três sedutoras filhas:
Desejo, Prazer e Cobiça, que apresentam-se como mulheres cheias de ardor e
ávidas de dar e receber prazer, e se mostram como mulheres em diferentes
idades (passado, presente e futuro). Mas Sidarta sente que atingiu um
estágio em que estas coisas se apresentam como ilusórias e passageiras
demais, não sendo comparáveis ao estado de consciência mais calma e de
sublime beleza que havia alcançado. Buda vence todas as tentativas de Mara,
e este se recolhe, à espreita de um momento mais oportuno para tentar
derrotar o Buda, perseguindo-o durante toda a sua vida como uma sombra, um
símbolo do extremo do mundo dos prazeres.
Sidarta transformou-se no Buda em virtude de uma profunda
transformação interna, psicológica e espiritual, que alterou
toda a sua perspectiva de vida. "Seu modo de encarar a questão da doença,
velhice e morte mudo porque ele mudou" (Fadiman & Frager, 1986).
Bibliografia Sugerida
O
Pensamento Vivo de Buda, Editora Martin Claret,
São Paulo, 1985.
Fadiman,
James & Frager, Robert. Teorias da Personalidade, Editora Harbra, São
Paulo, 1986.
Hall &
Lindzey. Teorias da Personalidade, Vol. II, Ed. E.P.U. São Paulo,
1993.
Shearer, A.
Buda, Ed. Del Prado, Madrid/Rio de Janeiro, 1997.
Ikeda,
Daisaku. O Buda VivoEd. Record, Rio de Janeiro, 1989.
Jung, Carl
Gustav. O Homem e Seus Símbolos, Editora Nova Fronteira, Rio de
Janeiro, 1991.
Jung, Carl
Gustav. Psicologia da Religião Ocidental e Oriental, Editora Vozes,
Petrópolis, 1990.
Kersten,
Holger & Gruber, Elmar R. O Buda Jesus, Editora Best Seller, São
Paulo, 1996.
Silva, George
& Homenko, Rita. Budismo - Psicologia do autoconhecimento. Ed.
Pensamento, s/d.
Capra,
Fritjof. O Tao da Física, Ed. Cultrix, São Paulo, 1986.
Hesse,
Hermann Sidarta, Ed. Record, Rio de Janeiro, 1988.