Temporalidade
A única constante universal é a mudança. Nada do que é físico dura para
sempre; tudo está em fluxo em determinado momento. Isto também se aplica a
pensamentos e idéias que não deixam de ser influenciados pelo mundo físico.
Isto implica que não pode haver uma autoridade suprema ou uma verdade
permanente pois nossa percepção muda de acordo com os tempos e grau de
desenvolvimento filosófico e moral. O que existem são níveis de compreensão
mais adequados para cada tempo e lugar. Uma vez que as condições e as
aspirações, bem como os paradigmas, mudam, o que parece ser toda a verdade
numa época é visto como imperfeita tentativa de se aproximar de algo noutra
época. Nada, nem mesmo Buda, pode tornar-se fixo. Buda é mudança.
Desprendimento
Já que tudo o que parece exisitir de fato apenas flui, como nuvens, também é
verdade que tudo o que é composto também se dissolve. A pessoa deve viver no
mundo, utilizar-se do mundo, mas não deve se apegar ao mundo. Dever ser
alguém que saiba utilizar-se do instrumento sem se identificar com o
instrumento. Deve também ter a consciência de que seu próprio ego também se
transforma com o tempo. Somente o self, o Atman imortal permanece, mesmo
assim se desenvolvendo eternamente através das reencarnações e através dos
mundos.
Insatisfação ou sofrimento
O problema básico da existência é o sofrimento, que não é um atributo de
algo externo, mas sim numa percepção limitada que advém da adoção de uma
visão de mundo defeituosa adotada pelas pessoas. Como disse Jesus: "apenas
quem se faz como uma criança pode entrar no reino dos céus", pois as crinças
não se prendem ao passado nem se preocupam com um futuro. Elas vivem o
presente e são autênticas com o que sentem, até o dia em que a cultura as
fazem comer do "fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal",
enchendo-as de preconceitos e ansiedades que as expulsam do paraíso. Os
ensinamentos budistas - e de todos os grandes Mestres da humanidade - são
caminhos propostos para nos ajudar a transcender nosso senso comum egoísta
para se atingir um senso de relativa satisfação conosco e com o mundo. Se o
sofrimento é fruto da percepção individual, algo pode ser feito para
amadurecer esta percepção, através do autoconecimento:
"Pojetistas fazem canais, arqueiros airam flechas, artífices modelam a
madeira e o barro, o homem sábio modela-se a si mesmo".
As Quatro Nobres Verdades
I - Dado o estado psicológico do homem
comum, voltando seu desenvolvimento para o mundo externo de modo agressivo,
a insatisfação que gera o sofrimento é quase inevitável.
II
- A insatisfação é o resultado de anseios ou desejos que não podem ser
plenamente realizados, e estam atrelados à sede de poder. A maioria das
pessoas é incapaz de aceitar o mundo como é porque é levada pelos vínculos
com o desejo narcísico do sempre agradável e com sentimentos de aversão pelo
negativo e doloroso. O anseio sempre cria uma estrutura mental instável, no
qual o presente, única realidade fenomênica, nunca é satisfatório. Se os
desejos não são satisfeitos, a pessoa tende a lutar para mudar o presente ou
agarra-se a um tempo passado; se são satisfeitos, a pessoa tem medo da
mudança, o que acarreta novas frustrações e insatisfações. Como tudo se
transforma e passa, o desfrutar de uma realização tem a contrapartida de que
sabemos que não será eterno. Quanto mais intenso for o desejo, mais intensa
será a insatisfação ao saber que tal realização não irá durar.
III
- O controle dos desejos leva à extinção do sofrimento. Controlar o desejo
não significa extinguir todos os desejos, mas sim não estar amarrado ou
controlado por eles, nem condicionar ou acreditar que a felicidade está
atrelada a satisfação de determinados desejos. OS DESEJOS SÃO NORMAIS E
NECESSÁRIOS até certo ponto, pois eles têm a função primária de preservar a
vida orgânica. Mas se todos os desejos e necessidades são imediatamente
satisfeitas, é provável que passemos a um estado passivo e alienado de
complacência. A aceitação refere-se a uma atitude calma de desfrute dos
desejos realizados sem nos perturbarmos seriamente com os inevitáveis
períodos de insatisfação.
IV
- Há uma forma de se eliminar o sofrimento: O Nobre Caminho Óctuplo,
exemplificado pelo Caminho do Meio. A maioria das pessoas busca o mais alto
graude de satisfação dos sentidos, e nunca se dão por satisfeitas. Outros,
ao contrário, percebem as limitações desta abordagem e tendem ir ao outro
prejudicial extremo: a mortificação. O ideal busdista é o da moderação.
O Caminho Óctuplo consiste no discurso, ação, modo de vida, esforço,
cautela, concentração, pensamento e compreensão adequados. Todas as ações,
pensamentos, etc, tendem a ser forças que, expressando-se, podem magoar as
pessoas e a ferir e limitar a nós mesmo. O caminho do meio segue a máxima de
ouro de Jesus Cristo: "Fazei aos outros o que gostariam que fizessem a vós".