A MORTE - CONCEITOS BÁSICOS De acordo com os estudos gnósticos, existem três classes de morte: morte física, segunda morte e morte mística. Nesta introdução, estudaremos unicamente o fenômeno da morte física ou desencarne. A morte é a cessação das funções vitais do organismo, o fim da vida ou extinção do processo homeostático de um organismo. É claro que a homeostase é a característica própria de um organismo vivo: esta lhe permite manter um ambiente interno em condições estáveis e constantes. São sinônimos da morte física: defunção, falecimento, separação da alma e do corpo e, mais propriamente, em termos esotéricos, desencarne. Particularmente, no caso do significado tradicional para a morte, como separação do corpo e da alma, alguns também a explicam como a separação do corpo e do espírito. Em ambos os sentidos, é importante aclarar que no Gnosticismo Universal cada termo tem um só significado. Assim, alma e espírito não são a mesma coisa e que ambos os princípios anímicos e espirituais não necessariamente estão presentes dentro do ser humano, ou seja, na maioria das pessoas que povoam a Terra. A Chispa DivinaA Psicologia Gnóstica ensina que os animais intelectuais, falsamente chamados Homens e Mulheres, ou seja, as multidões que integram o gênero humano atual, não possuímos Alma; somos, digamos assim, “desalmados”. Ainda que essa afirmação sacuda fortemente nosso orgulho e convicções religiosas, ou ainda que seja motivo de polêmicas intelectuais intermináveis: Nós, desalmados? Isso tem gerado inúmeros e terríveis debates e divergências, mas basta lembrar as negras páginas da nossa história: as guerras, as invasões, as santas inquisições, as fogueiras, as crucificações, a dominação dos povos indefesos pelos mais guerreiros, a intimidação das mulheres, os milhões de abortos, os genocídios contra judeus, armênios e palestinos, a exploração capitalista, a disseminação das drogas ilícitas, a impunidade política, a depravação sexual, a morte por fome de milhões de africanos e tantas outras manifestações nefastas do homem atual… Tudo isso é sintetizado na manifestação do elemento psicológico animalesco e desumano chamado EGO, tão denunciado pela Gnose. Isso tudo e muito mais indicam que somos realmente seres sem alma, sem aquelas A Divina Gnose explica que, afortunadamente, o ser humano sem Alma possui um “material psíquico” incipiente em seu interior, ou Chispa Divina, que pode ser trabalhado até que se cresça e transforme em Alma. Essa Chispa Divina, também chamada Essência Anímica, Essência, Budata, é a somatória de valores positivos que o ser humano possui de forma inata. A some de virtudes, o melhor e mais digno que existe dentro de nós. Então, a morte física ou desencarne é, em realidade, uma separação definitiva do corpo físico e da Essência maravilhosa. Desta maneira, o físico da maioria das pessoas é invariavelmente imortal e o Budata é imortal. Sim, existe a imortalidade da Essência, e a Gnose não a nega. Porém também alguns seres supertranscendidos conseguem vencer a morte e alcançam a imortalidade do corpo físico, ou seja, a autêntica Ressurreição. Porém, em termos metafísicos, o que é que ocorre durante o desencarne? Como ocorre a defunção? É verdade que temos uma só vida ou várias? E muitos encontros com a Mãe Morte? O Eterno RetornoNos Eclesiastes, um dos livros bíblicos, encontra-se um texto maravilhoso que vale a pena ler e reler: Uma geração passa, outra vem; mas a terra sempre subsiste. O sol se levanta, o sol se põe; apressa-se a voltar a seu lugar; em seguida, se levanta de novo. O vento vai em direção ao sul, vai em direção ao norte, volteia e gira nos mesmos circuitos. Todos os rios se dirigem para o mar, e o mar não transborda. Em direção ao mar, para onde correm os rios, eles continuam a correr. Todas as coisas se afadigam, mais do que se pode dizer. A vista não se farta de ver, o ouvido nunca se sacia de ouvir. O que foi é o que será: o que acontece é o que há de acontecer. Não há nada de novo sob o sol. Se é encontrada alguma coisa da qual se diz: ‘Veja, isto é novo’, ela já existia nos tempos passados. Não há memória do que é antigo, e nossos descendentes não deixarão memória junto daqueles que virão depois deles. O VM Samael Aun Weor, em sua obra Tratado de Astrologia Hermética, explica: “O sagrado Raskooarno (morte) está cheio de profunda beleza interior. Só conhece a verdade sobre a morte aquele experimentou de forma direta sua funda significação. Os extremos se tocam. A morte e a concepção encontram-se intimamente unidas. A senda da vida está formada com as marcas dos cascos do cavalo da morte”. A vida existe como continuação da morte. Os seres humanos não têm uma só existência. “Não há nada de novo sob o sol.” Por essa razão, no Evangelho de Mateus encontra-se o seguinte versículo: “E se querem recebê-lo, ele é aquele Elias de que haveria de vir. O que tiver ouvidos, ouça”. Este é um versículo que faz alusão ao texto de Malaquias: “Eis aqui que vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia de Jeová, grande e terrível”. Muito se escreveu acerca da Metempsicose ou Transmigração das Chispas Divinas, desde Krishna a Pitágoras. Muitos estudiosos descobriram que há diversas evidências que apontam a que também os antigos judeus tinhas certeza do princípio do Eterno Retorno da Essência. Daí aparecem dados interessantes, como a pergunta que os apóstolos perguntaram a Jesus: “Viu, ao passar, um homem cego de nascimento. E seus discípulos lhe perguntaram: “Rabi, quem pecou, ele ou seus pais, para que tenha nascido cego?” Muitos são os testemunhos ao longo da história para este fenômeno da Natureza. Escritores como o psiquiatra norte-americano Brian Weiss, autor de Muitas Vidas, Muitos Mestres, pesquisaram profundamente o tema da reencarnação. Outros também se debruçaram neste fantástico tema: Carl Jung, Albert Schweitzer, Victor Hugo, Nietzsche etc. Entre as múltiplas citações, transcreveremos uma, muito interessante, de Marco Túlio Cícero: “Uma prova confiável de que os homens conhecem a maioria das coisas antes de nascer é o fato de que quando são simples crianças, chegam a entender inúmeros fenômenos com tal rapidez que é evidente que não os estão compreendendo pela primeira vez, senão que os recordam, que os trazem à memória…” Outra frase de autoria de León Tolstoi: “Que interessante seria escrever a história das experiências nesta vida de um homem que se suicidou em sua vida anterior, como tropeça agora com as mesmas exigências que lhe haviam sido presenteadas anteriormente, até que chega a compreender que deve satisfazê-las… Os fatos de uma vida prévia canalizam a vida presente”. A Duração da VidaO Gnosticismo universal ensina que existem diversas causas para a existência e, portanto, para a morte. Existem causas que se encontram no mundo físico ou tridimensional, causas metafísicas e causas cármicas. É indubitável que os forenses têm grande capacidade para explicar as causas físicas que deram como resultado o desencarne de um defunto. Não podemos negar que a enfermidade, a deterioração do corpo, o homicídio, o assassinato, o suicídio e os acidentes se escondem por trás de muitas defunções. Porém, no campo das causas metafísicas da morte encontram-se muitas vezes o desejo oculto de deixar de viver neste mundo físico. A sabedoria oculta ensina que a inteligência da natureza deposita em cada um dos seres humanos determinado capital energético, ou Valores Cósmicos. Em diferentes escolas esotéricas, esses Valores Vitais são chamados de Bobbin Kandelnost. Ao se esgotar esse capital cósmico, energético, é lógico que sobrevenha o desencarne ou morte do corpo físico. É claro que a duração da vida dependerá, em grande medida das economias, a sábia utilização ou o derrocada dos Valores Vitais de cada pessoa. Outros tipos de causas para que ocorra o desencerne se relacionam com as Leis de Ação e Reação, ou com o princípio de Causa e Efeito (a Segunda Lei de Newton): mais específicamente, em linguagem esotérica, relaciona-se com a Lei do Karma e a Lei de Recorrência. Nossa vida atual é, em grande medida, uma repetição de nossa vida passada mais as suas consequências. Muitas razões ocultas da morte de uma pessoa, seja por uma enfermidade grave ou porque faleceu tragicamente, encontra-se na Lei do Karma. O Estado IntermédioO Princípio de Correspondência do hermetismo explica que “assim com é acima é abaixo”. De acordo com esse aforismo maravilhoso, podemos explicar que assim como entre o dia e a noite existe o crepúsculo, a fase declinante do final do dia, antes de iniciar-se a noite. Que assim como ocorre o processo do anoitecer, esse período em que começa a diminuir a luz do dia para dar lugar à noite, também existe o período intermédio entre a vida e a morte. No Bardo Thodol, ou Livro Tibetano dos Mortos, encontramos a seguinte explicação: “Cada dia da vida está cheio de começos e fins. Enquanto transcorre um momento, outro vem a ocupar seu lugar. Ao despertar pela manhã, nos levantamos e realizamos nossas atividades cotidianas – nos lavamos, nos vestimos, tomamos o desjejum etc. Nada permanece imóvel. O movimento e a mudança são a essência mesma da vida. Desejamos crer que tudo o que vemos é real e permanente ainda que nossa experiência diária nos demonstre que nada é inalterável e que nada dura para sempre. De fato tudo quanto nos rodeia vai se desmoronando constantemente e se requer um grande esforço por nossa parte para conservá-lo. O que ocorre durante dito processo de mudança é o Grande Mistério… A fase chamada Estado Intermédio (em tibetano, Bardo) é precisamente esse momento de mudança que se produz ao final de uma fase e o começo da seguinte. É o mesmo estado do fluir, o único que podemos qualificar de ‘real’”. Mais adiante, explica-se no Bardo Thodol que: “Para quem chega a compreender esse fenômeno e desenvolve a capacidade de pô-lo em prática, as problemáticas encertezas da vida resultam tão triviais como o bardo de vestir-se pela manhã. Entre o momento de despertar e o ato de se vestir pela manhã. Entre o momento de despertar e o ato de se vestir deve-se decidir que roupa pôr. Isso é tudo. Não tem por que ser um problema. De igual maneira, entre qualquer acontecimento e nossa reação ante ele existe um espaço intermediário que oferece distintas opções a quem é capaz de vê-las. Não estamos obrigados a atuar segundo o costume e o preconceito. O estado intermédio oferece a possibilidade de obrar de maneira distinta a quem aprendeu a reconhecê-lo”. No Bardo Thodol, atribuído a Padmasambhava, em relação com o estado intermédio, lê-se o seguinte: “Agora que tua respiração quase cessou, eis aqui que chegou para ti o momento de buscar uma via, já que a luz fundamental que aparece no primeiro estado intermédio vai aparecer. Teu Lama já te havia mostrado essa luz, a Verdade em Si (ou Dharmata) vazia e descuda, como o espaço sem limites e sem centro, lúcido; é o espírito virgem e sem mácula. Chegou o momento de reconhecê-lo. Permanece, pois, assim nela. Eu também te farei descobrir”. O esoterismo gnóstico ensina que durante esse estado intermédio ocorrerão duas Retrospectivas. A primeira é a projeção de toda nossa vida, em forma instantânea, momentos antes do cessar das funções vitais. A vida passa ante a mente daquele que estiver a ponto de desencarnar, como uma fita em alta velocidade. Muitas pessoas que sofreram acidentes automobilísticos sérios ou golpes inclementes contam que passaram por essa experiência, qual seja, a de ver passar sua vida toda numa fração de segundo. Posteriormente a essa primeira retrospectiva, advém uma segunda. Na conferência intitulada A Festa dos Mortos, o Avatara Aquárius, Samael Aun Weor, explica: “Depois que se deixou o corpo, a Natureza tem múltiplos meios, ou sistemas, para nos fazer regressar, ou reincorporar, e nós devemos compreender isso. Ante tudo, não é demais que vocês saibam que depois da morte devemos revisar a vida que acaba de passar. Começaremos pelo último instante, por aquele que precedeu a nossa agonia. Teremos a tendência de viver na mesma casa onde morremos, a percorrer pelas mesmas ruas onde outrora caminhávamos. Em uma palavra, queremos trilhar nossos passos; os vamos trilhando conforme formos vivendo as distintas idades da existência que acaba de passar. É claro que essa retrospectiva não é meramente intelectual; a pessoa volta a vivenciar depois da morte todos os fatos, todos os acontecimentos, todos os sucessos da vida que passou, e, conforme os vai revivendo, vai assumindo também o aspecto que teve em cada uma de suas idades. Se morreu ancião, se verá velho, e depois se verá convertido no sujeito maduro, e logo, no jovem, e depois no adolescente… e, por último, na criança. Reviverá assim toda a sua existência com o propósito de acertar contas, de fazer um balanço sobre suas boas e más obras”. Mais adiante, Samael explica que: “Assim, pois, toda a existência que passou vem a ficar reduzida a números, a somas de boas e más ações. Obviamente, ao terminar a retrospectiva, depois que nosso próprio Ser Divino fez o balanço, o inventário, digamos, de nossas boas e más ações, os Senhores do Karma farão a devida Justiça e determinarão a existência que nos aguarda no futuro… Os Corpos Lunares e o AstralA morte física ou desencarne não é somente o cassar das funções físicas do corpo. Tampouco é a separação parcial da Essência e do corpo físico. A Essência encontra-se nos mundos superiores, nas dimensões superiores do espaço e está envolta no Ego e nos corpos lunares. Os corpos lunares são os mesmos que a literatura ocultista denomina corpos internos. Os yogues da Índia, os teósofos e outros esoteristas têm falado, entre outros, do famoso corpo astral. Na Bíblia, mais precisamente na Carta aos Tessalonicenses, se estabelece uma clara distinção entre três elementos: “E todo vosso Ser, Espírito, Alma e Corpo, seja guardado irrepreensível…” “Há o corpo animal e há o corpo espiritual” (1 Co 15:44). A anatomia oculta ensina que o animal racional – ou intelectual – não possui corpos superiores ou corpos espirituais, porque possui somente corpos fantasmagóricos ou lunares. Esses corpos lunares são o corpo etérico ou vital, o fantasma de corpo astral ou corpo de desejos, o fantasma de corpo mental e o corpo lunar causal. Já explicamos, acima, que a humanidade atual não possui Alma, somente uma Essência, ou Chispa Divina, que infelizmente se encontra apartada do Espírito, de seus Deus Íntimo, de seu próprio Real Ser Interior (que é a emanação de Deus particularizada em nosso interior, ainda em potencial). Em um ser humano que desfruta desta vida, a Essência Divina, o Ego e os corpos lunares se encontram unidos ao corpo físico mediante uma conexão energética conhecida no ocultismo como Cordão de Prata ou Antakarana. O fio da vida une os valores com o corpo físico na forma similar ao cordão umbilical no ventre materno, que une o feto à sua mãe. A separação temporal do corpo e ls Valores ocorre frequentemetne na vida dos seres humanos durante as horas do sono, à noite. Ao deitarmos para dormir, a Essência, o Ego e os corpos lunares se desprendem do corpo e fazem suas viagens extracorpóreas. E no dia seguinte, a pessoa diz: “Nesta noite tive um sonho estranho”. Muitos sonhos que ocorrem enquanto seu corpo físico dorme, são as famosas viagens astrais, porém neste caso, as realiza com a consciência adormecida, e, por isso, não pode ter noção de que está no Além, o mundo dos mortos, ou Mundo Astral. Nesse tipo de separação temporal do corpo físico, que os budistas chamam de “pequena morte”, encontram-se os famosos fenômenos denominados “vida depois da vida”. É fora do corpo físico que reencontramos os entes que já desencarnaram – avós, pais, amigos, pessoas famosas ou meros desconhecidos. Há motivos reais para temermos não retornar mais ao corpo físico nessas experiências extrafísicas? Não! A razão é que nós, como alma, estamos conectados dos corpos físico e etérico pelo já citado cordão de prata, e segundo o ocultismo, não há energia em todo o universo, com exceção do Poder Divino da Mãe Morte, que consiga romper esse cordão energético. Ou seja, o verdadeiro desencarne ocorre unicamente quando o Antakarana é rompido por um ser espiritual especializado, chamado Anjo da Morte. Quando há esse rompimento, torna-se impossível voltar a conectar a Essência com o corpo físico. Aí sim ocorrerá a verdadeira morte física. Mas e os casos das ressurreições que lemos nos livros sagrados? Jesus ressuscitou depois de crucificado realmente? E Lázaro, voltou do mundo dos mortos? Esses casos são explicados unicamente por meio da Alta Magia Branca, onde se pode voltar à vida unicamente se o cordão de prata não foi definitivamente desconectado.
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