DISFUNÇÃO NO CENTRO EMOCIONAL

“Como poderia existir em nós o real sentimento de nosso verdadeiro Ser quando esses Eus estão sentindo e pensando por nós? O mais grave desta tragédia é que a pessoa pensa que está pensando, sente que está sentindo, quando é outro que em dado momento pensa com o nosso martirizado cérebro e sente com nosso dolorido coração. Infelizes de nós: quantas vezes cremos estar amando e o que acontece é que outro dentro de nós mesmos, cheio de luxúria, utiliza o centro do coração! Somos uns infelizes, confundimos a paixão animal com o amor e, entretanto, é outro dentro de nós mesmos, dentro de nossa personalidade que passa por tais confusões!”

A transformação do Centro Emocional Inferior está intimamente relacionada com a não-expressão de emoções negativas. Quando cometemos o erro de esquecer de nós mesmos e nos identificamos com o mundo dos sentido externos, novos eus vêm à existência e se fortalecem os que já vivem em nosso espaço psicológico.

No Plexo Solar ou Centro Emocional, sabiamente colocado pela Natureza na região do umbigo, os “agregados psíquicos” se expressam sentimentalmente, quase sempre com um sentimentalismo mórbido que a nada conduz.

Concretamente, as emoções negativas têm sua causa-raiz nas associações mecânicas e na identificação consigo mesmo e com os demais.

O animal intelectual olha a vida através das informações armazenadas nos Centros, e, quando um evento exterior não coincide com determinada informação, o resultado é uma emoção negativa. As ideias falsas que temos sobre nós mesmos provocam sempre emoções inferiores.

Quando alguém se identifica com essas falsas ideias, então ama demasiado a si mesmo, se autoconsidera e pensa que sempre tem se portado bem com fulano, com beltrano, com a mulher ou o marido, com seus filhos, e supõe que ninguém tem sabido apreciá-lo. Ou seja, a emoção negativa da autoconsideração conduz de maneira inevitável à autocomiseração.

É claro que a falsa educação, somada à pobreza espiritual, criou no animal intelectual formas estereotipadas de reagir, maneiras equivocadas de pensar e de sentir, mecanismos que se manifestam como pensamentos negativos e emoções inferiores.

A psicologia gnóstica ensina o método exato para transformar ou purificar o Centro Emocional e, a este respeito, assinala: “É necessário aprender a ver o pondo de vista alheio, precisamos aprender a nos colocar no lugar dos outros, é necessário aprender a receber com agrado as manifestações desagradáveis de nossos semelhantes”.

A presença de um sentimento negativo não deve ser condenada nem justificada, mas auto-observada em um ato de “recordação de si”. Quando fizermos isso, podemos então conhecer nossos estados equivocados de consciência.

A energia consciente, que se acumula com cada ato de “recordação de si”, cristaliza-se finalmente num Centro Permanente de Consciência, capacitando-nos a receber as influências do Ser através dos Centros Superiores (Intelectual e Emocional).

Mas se vivemos lamentando o perdido, chorando pelo que desprezamos, recordando os velhos tropeços e calamidades, sentindo piedade por nós mesmos, manifestando um amor-próprio exagerado, nos preocupando com o que os outros possam pensar de nós, nada poderá crescer em nosso interior, nunca podermos passar a um Nível Superior do Ser.

Na luta contra essas fraquezas, um preceito deve ser urgentemente posto em prática: “Se queremos nos modificar radicalmente, devemos sacrificar nossos próprios sofrimentos”.

Estabeleçamos uma exata diferenciação entre sofrimentos mecânicos e padecimentos voluntários. Os sofrimentos mecânicos apresentam-se por causa de nossa consciência adormecida, por nossa própria culpa, graças a nossos erros e defeitos psicológicos. Os padecimentos voluntários são aqueles que o aspirante gnóstico impõe a si mesmo, para poder aniquilar o Ego animal, para alcançar a Alta Iniciação e “perder-se no Ser”.

As pessoas que trabalharam muito na vida sem obter o que desejam, aqueles que sofreram muito e que obviamente se sentem enganados, os que pensam que a vida lhes deve aquilo que nunca foram capazes de conseguir, normalmente sentem uma tristeza interior, uma sensação de monotonia e tédio espantosos, um cansaço íntimo ou frustração em cujo redor se amontoam os pensamentos.

O sentimento de que nos devem honras e satisfações, a dor que sentimos pelos males que outros nos causaram etc., detêm todo o progresso interior da Alma. Os que são incapazes de sacrificar seus próprios sofrimentos criam diariamente Eus muitos perversos, Eus ressentidos, Eus que odeiam e estão muito perto da maldição. Pessoas assim, incapazes de sacrificar os sofrimentos mecânicos, estão de fato “mortas” para o trabalho esotérico, fecham o caminho para Autorrealização do Ser.

Em nossa tão cacarejada civilização moderna, a humanidade inteira vive identificada com as emoções inferiores, a ponto de não poder existir sem elas. As emoções inferiores constituem-se hoje numa enfermidade terrível e difícil de curar. Por isso, o aspirante gnóstico não deve admitir sentimentos de vingança, ressentimento, ansiedades pelos males que outros lhe tenham causado ou emoções negativas de violência, inveja, ciúmes, medo, desconfiança de si mesmo e dos demais etc.

Só assim, sacrificando nossos próprios sofrimentos, poderemos conseguir o objetivo fundamental dos estudos gnóstico, isto é, converter-nos em seres diferentes.