Mitologia Hindu

Por Alexandre Perlingeiro      

INTRODUÇÃO

Brahman é o Absoluto, sem forma, que a tudo contém e que não é contido por nada, primeiro sem segundo, origem e fim de toda a criação.

O homem, por ter dificuldade em se relacionar com Ele, cria formas e aspectos para Ele.

Na verdade, todas as formas, todos os aspectos, todas as deidades são somente o Absoluto.

Estes aspectos variam de nome e forma, de acordo com a época, a situação e a necessidade.

A princípio as deidades eram as forças da natureza, depois tomaram forma total ou parcial de animais e mais tarde a forma humana.

DEIDADES VÉDICAS

O Rig Veda cita 33 deuses, dos quais destacam-se cinco:

Indra: o rei dos deuses, o governador do céu, representando o poder do raio, da energia.

Agni: o Fogo, considerado o mensageiro dos deuses. No ritual ele depura a oferenda e a leva em forma sutil a Deus. É a conexão entre homens e deuses. É também a luz para a mente ver e compreender a verdade.

Surya: o Sol. É dito que ele é a alma suprema dos Vedas e deve ser adorado por todos que desejam a liberação da ignorância.

Vayu: é o deus do Vento, do Ar e do Prana. Divide seu poder com Indra, o Senhor do Céu. É invisível, habitando em nossos corpos como os cinco ares vitais (Prana, Apana, Samana, Vyana e Udanai).

Varuna: uma das mais antigas deidades védicas, associado à Água, aos Rios e aos Oceanos. Seu poder é ilimitado, assim como seu conhecimento. Inspeciona todo o mundo, sendo o Senhor das leis morais.

No início, tudo era repouso e equilíbrio, só Brahman existia.

Houve então a primeira vibração, Om, o Som Primordial e a partir dele todo o universo foi criado.

A partir daí surge a trindade hindu, formada por Brahmá, Vishnu e Shiva, que correspondem às 3 gunas, às características de toda a criação.

Brahmá representa Rajas, o movimento, responsável pela criação.

Vishnu representa Sattva, o poder de existência, preservação e proteção.

Shiva representa Tamas, o poder de dissolução do universo.

BRAHMÁ

A mitologia descreve Brahmá como tendo surgido de um lótus saído do umbigo de Vishnu e com ele toda a criação.

Diz-se também que Brahmá surgiu de um ovo de ouro, Hiranyagarbha, nas águas causais.

Sua consorte, Sarasvati, o Conhecimento, manifestou-se a partir dele.

Dessa união surgiu toda a criação.

É representado com quatro cabeças, simbolizando os quatro Vedas; possui quatro braços e em nas suas mãos ele segura um mala (simbolizando a tranqüilização da mente), uma colher e ervas (simbolizando os rituais), um pote com água, o Kamandalu (simbolizando a renúncia) e os Vedas (simbolizando o conhecimento).

A mão que segura o mala faz um sinal, abhaya mudrá, que representa o afastamento do medo.

Está sentado geralmente sobre um cisne, que simboliza a discriminação ou sobre um lótus, que representa o conhecimento.

VISHNU

Vishnu, a segunda deidade da Trindade hindu, é o responsável pela proteção, manutenção e preservação da criação.

A palavra Vishnu significa ‘aquele que tudo penetra’, ou ‘aquele que tudo impregna’.

Sua Shakti, ou seja, seu aspecto feminino, sua consorte é Lakshmi, deusa da prosperidade, riqueza e da beleza.

É apresentado de duas formas principais:

Deitado em uma serpente de mil cabeças, flutuando num oceano de leite. Neste caso é chamado de Narayana, aquele que mora nas águas cósmicas. De seu umbigo sai um lótus onde está Brahmá, o criador. A seus pés está Lakshmi, representando a beleza e a riqueza que devem se curvar diante do Absoluto. Envolvendo o lótus está um aserpente, Shesha, ou Ananta, que simboliza a eternidade. Ela possui mil cabeças voltadas para o Senhor Vishnu, representando o ego com seus mil desejos e pensamentos que reconhecem o Absoluto.

Vishnu é representado também em pé, sobre um lótus ou uma serpente. Representa o sábio indicando a busca do conhecimento. Apresenta quatro braços, tendo em cada mão um lótus (o conhecimento que sustenta a pureza da mente), um disco (a destruição da ignorância e dos apegos), uma concha (a origem da existência, os cinco elementos) e uma arma, a massa (o poder do conhecimento, o poder do tempo).

Usa roupa amarela, guirlanda de flores, o cordão sagrado com três linhas e uma grande jóia no peito.

Pode aparecer também sobre o pássaro Garuda, (um pássaro místico, o rei dos pássaros), que representa as asas da fala, os mantras védicos.

A partir de Vishnu surgem todos os Avataras, aqueles que se encarnam com a missão de restabelecer o Dharma.

São dez os avataras: Matsya, Kurma, Varaha, Narasimha, Vamana, Parasurama, Ramachandra, Krishna, Buddha e Kalki.

RAMA

Rama ou Ramachandra, que significa lua encantadora, ou aquele que brilha na Terra.

Sua missão: o cumprimento do Dharma.

É o símbolo do grande homem, o perfeito filho, o perfeito marido, irmão, amigo e governante.

Sua saga está descrita no épico Ramayana, onde é relatado com detalhes seu casamento com Sita, e sua luta contra o demônio Ravana. Recebeu ajuda de Hanuman nesta empreitada.

KRISHNA

É o mais popular e amado avatara da Índia, com maior número de templos e devotos.

Nos Puranas é descrito como um pastor tocador de flauta.

No Mahabharata é o sábio que dá o ensinamento a Arjuna no campo de batalha.

SHIVA

Shiva é o aspecto de Brahman, o Absoluto, na Trindade hindu que representa a destruição, a transformação para um novo renascimento.

Sua Shakti é Parvati, a matéria.

DEVIS

São as deusas, as mães divinas, aquela que resplandece.

Nos Vedas eram apresentadas como energia ou poder do criador, a Shakti.

Nos Puranas aparecem como devis.

Representam a sabedoria do universo, o aspecto protetor, maternal do Absoluto.

Apresentam-se de 5 formas diferentes: Parvati, Durgá, Káli, Lakshmi e Sarásvati.

PARVATI

É a Mãe do Universo e consorte de Shiva. Simboliza a disciplina, a renúncia, o esforço que leva o devoto ao Conhecimento.

DURGÁ

Representa o aspecto feroz de Parvati. Montada em um leão ou tigre.

Tem 12 ou 18 braços e em cada mão tem armas dadas pelos deuses.

Seu objetivo é ser implacável com os demônios que representam nosso ego e nossa ignorância.

Ela nos mostra que devemos ser decididos na destruição de tudo que nos impede de percebermos nossa verdadeira natureza divina.

KÁLI

Aspecto mais feroz ainda de Parvati. Tem língua roxa, não usa roupa e seu corpo é coberto pelos longos cabelos negros. Usa um colar de caveira, tem quatro braços e leva em cada mão armas de destruição e uma cabeça sangrando. É a devoradora do tempo.

LAKSHMI

Ela é muito popular na Índia, sendo considerada a mais próxima dos seres humanos. Quer o bem estar de todos sem se preocupar com suas ações ou seu passado.

Surgiu das águas cósmicas, da eternidade.

É a consorte de Vishnu.

Simboliza a riqueza material e espiritual, representando o nosso universo ilusório.

Usa um sari vermelho, que simboliza rajas, a ação para manter a vida, tem muitas jóias e moedas de ouro, que representam a riqueza e a prosperidade.

É apresentada sobre um lótus, símbolo do conhecimento.

SARÁSVATI

É associada à fertilidade, à purificação, à fala, à linguagem e à palavra.

É considerada a personificação de todos os conhecimentos, artes, ciências e letras. Sem ela Brahmá, seu consorte, não poderia ter criado o mundo.

Usa um sari branco (a pureza do conhecimento), está sentada em um lótus branco (o conhecimento) ou numa pedra (a base sólida na busca do conhecimento). Possui sempre ao seu lado um cisne (discernimento) ou um pavão (silêncio necessário para escutar, refletir e meditar).

Possui quatro braços e em cada mão um mala (disciplina da meditação), vina (o som, o chamado à busca do Conhecimento) e os Vedas (o ensinamento).

GANESHA

Ganesha é o menino com cabeça de elefante, sendo a mais popular e querida deidade hindu.

É o filho de Shiva e Parvati.

É reverenciado antes de toda e qualquer atividade, estando presente nas portas dos templos e das casas. É o removedor dos obstáculos.

A cabeça de elefante representa a grande disposição para escutar, refletir e meditar; a tromba representa o discernimento; os quatro braços representam os quatro instrumentos internos (ego, memória, mente e intelecto); nas suas mãos há o machado (desapego), a corda (devoção), doces (a alegria na busca do conhecimento) e o gesto de abhaya mudrá (fé e coragem na busca). O rato que sempre aparece junto representa o desejo, mantido sob controle.

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