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Individualizando
a Visão de Mundo Adquirida
Por: Luís Vasconcellos
Estou vindo a vocês hoje para discutir uma questão
absolutamente crucial envolvendo a diferença entre:
- ter sentimentos e/ou estar sensibilizado
- ter sensibilidade e/ou deixar-se sensibilizar pelos outros e pelas
situações.
- compreender e/ou tornar-se cúmplice
Muitas vezes, em nossa vida de relação, nos vemos na situação de precisar
compreender o OUTRO.
Contudo, podemos não nos aperceber que estamos, de fato, tentando submeter
o OUTRO à nossa ótica filtrando-o (com ou sem razão) através dos nossos
costumeiros pontos de vista. Fazendo isso não nos apercebemos (ou
reprimimos) a consciência de que estamos nos baseando na persistente
suposição (inconsciente / infantil) de que todos sejamos iguais e,
portanto, funcionamos da mesma maneira.
Qual a diferença entre sentir e estar sensibilizado? O que faz com que
cada um de nós possa oscilar entre condenar e absolver, entre encontrar
uma explicação plausível e endereçar ao OUTRO uma reprimenda ou uma
condenação? Por que a maioria dos pensamentos se traduz por um pensar por
categorias de valor?
Se comungarmos um PRECONCEITO, nós todos, adeptos do mesmo grupo,
vibraremos em uníssono diante dos mesmos fatos e apresentaremos juízos
parecidos ou equivalentes.
Qual a sutil diferença que há entre ter sensibilidade e tornar-se
cúmplice?
Quase nunca este estado de desidentificação é atingido e então, ao invés
de usar nossa sensibilidade psíquica para atingir uma desidentificação de
nós mesmos (para ensaiarmos uma legítima compreensão) procuramos SENTIR o
OUTRO e então, em milissegundos, entramos em “cumplicidade” com ele, sem
nos apercebermos disto.
Geralmente o resultado é que acabamos por encontrar as desculpas
convenientes que nos permitirão evadir de nossa responsabilidade pessoal
perante tudo e todos, para que possamos continuar ligados ao OUTRO, sem
ameaçar a ele nem à relação, sem dizer um não, sem colocar um limite, sem
oposição alguma...
O fato é que esta é uma diferença sutil, pequena e, no entanto, que atua e
modifica enormemente os resultados de nossas ações sobre os outros:
O fato é que, quando usamos nossa SENSIBILIDADE, a noção do EU se
dissolve, por um momento, ou é deixada de lado, por intermédio da
desidentificação e do desapego, de modo a permitir o ato de sensibilidade
e a "percepção ampla" da situação que engloba a nossa presença e a dos
outros em uma situação real.
Isto se dá com um mínimo de interferência do EU, sem uma influência tão
decisiva dos usuais filtros pessoais e sem os desvios (de percepção)
criados por nossos desejos, interesses, intencionalidades...
Só nesta condição podemos compreender o OUTRO sob a perspectiva do OUTRO e
não pela nossa particular perspectiva. Nesse sentido uma visão de
perspectiva e de relatividade dentro do espaço/tempo nos dá condição de
exercitar a nossa perspectiva, a do OUTRO e até de algumas outras, dentro
do exercício das probabilidades.
Só deste modo, pode ALGUÉM ser capaz de compreender e perdoar a si mesmo
ou aos OUTROS. Mesmo quando há conflito ou quando a divergência de
opiniões mostrar-se insuperável, ainda assim, a situação resolve-se melhor
se somos capazes de REAL DESPRENDIMENTO.
Este leveza no trato com as coisas da vida só é atingida quando fazemos
uma limpeza em nossos valores e preconceitos. Ao faze-lo deixamos de
comungar inconscientemente com a família e a sociedade e nascemos para a
consciência da responsabilidade e sentido de nossa presença no mundo.
Sair da ilusão dói, mas não há outro caminho.
“Limpar a percepção" de todos os valores aprendidos ou herdados é uma
tarefa e tanto para a MENTE CONSCIENTE (acostumada a tudo VER e a tudo
JULGAR por padrões adquiridos do mundo e/ou enraizados em sua PARTICULAR
experiência dele).
Sem esta limpeza não há maturidade nem sabedoria possíveis. Sem esta
revisão não há autêntica transformação.
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