|
Subjetividade
na Psicologia e na Filosofia
Por: Carlos Eduardo Lopes
Por que uma pessoa, geralmente, não tem dúvida de quem ela é? Em outras
palavras, como é possível explicar a identidade pessoal? Essas são
perguntas cruciais para um estudo da subjetividade. Muito antes do
surgimento da psicologia como disciplina autônoma, a filosofia já se
preocupava com a identidade pessoal e, conseqüentemente com a
subjetividade.
Na história da filosofia é possível identificar, pelo menos, três
encaminhamentos para o problema da identidade pessoal, que culminam em
três modos distintos de considerar a subjetividade.
O primeiro encaminhamento é o chamado substancialismo, que, em linhas
gerais, defende que a identidade pessoal fundamenta-se em uma substância
imaterial, a alma. Uma vez que é característica das substâncias ser única,
imutável, incorruptível, fica fácil entender porque nos percebemos como o
mesmo dia após dia
Como a alma é transcende os atributos físicos do corpo (é a essência do
Homem), podemos chamar esse posicionamento de subjetividade transcendente.
A segunda proposta é o transcendentalismo, que dirá que o princípio de
identidade pessoal não é uma substância, mas um ego transcendental (que
não deve ser confundido com transcendente). Em poucas palavras, o ego
transcendental é a condição de possibilidade para o conhecimento, ou seja,
partindo da afirmação de que para haver conhecimento, deve haver alguém
que conhece, chegamos à conclusão de que esse alguém é um ego
transcendental. Assim, o ego transcendental é também único, imutável, mas
perde o status de substância, é um ego puro (ou se preferir vazio).
Chega-se, assim, à subjetividade transcendental.
Por último temos o associacionismo ou empirismo inglês, que, entre os três
posicionamentos, defende, possivelmente, a posição mais radical. Para o
associacionismo a vida mental é um fluxo de percepções discretas e
distintas entre si. Sendo assim, não é possível encontrar nesse fluxo nada
de imutável que justifique a identidade pessoal. Em outras palavras, não
há principio de identidade pessoal. Só acreditamos na existência de tal
principio porque ignoramos as diferenças entre percepções distintas, e
porque somos considerados socialmente como o mesmo (recebemos um nome
próprio quando nascemos, e somos ensinados desde muito cedo que
independente do que aconteça, ou de como nos sintamos, temos que responder
a esse mesmo nome). Podemos, portanto, dizer que para o associacionismo a
subjetividade (entendida do ponto de vista empírico) não existe.
As três posições são complicadas de serem assumidas por uma ciência
psicológica. O substancialismo transcende o mundo empírico em busca do
princípio de identidade, o que geralmente não é aceito por uma ciência. O
transcendentalismo postula a existência de um principio vazio, que embora
deva ser aceito, não se pode dizer nada sobre ele, logo não se pode
estudar o ego transcendental. Por fim, o associacionismo impossibilita o
estudo da identidade pessoal através da sua aniquilação.
Não quero entrar na discussão de possíveis teorias psicológicas da
subjetividade. Basta dizer que, qualquer que seja essa teoria ela precisa
dar conta do princípio de identidade pessoal, sem se valer de uma alma (ou
mente) imaterial, ou mesmo do ego puro.
O que acho interessante é que nesse caso, a história da filosofia nos
auxilia negativamente. Podemos dizer que a filosofia, em certo sentido,
delimita os limites, as fronteiras, da subjetividade psicológica, sem
propriamente tratar do assunto. Assim, a discussão filosófica da
subjetividade prepara o caminho para um estudo legitimamente psicológico
da subjetividade, apontando para o fato de que talvez esse seja uma das
principais tarefas de uma psicologia científica.
Voltar para
Psicologia e Filosofia -
Voltar para Pagina Inicial
|