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Psicoterapia Existencial: Uma Ilustre Desconhecida Por: André Roberto Ribeiro Torres
Há algum tempo, os órgãos oficiais
representativos dos psicólogos no Brasil (Conselhos Federal e Regionais
de Psicologia) vêm comemorando algo que pode soar estranho para quem não
está familiarizado com o campo de humanas: a diversidade.
Profissionais da área de exatas, como o engenheiro ou o técnico em computação, provavelmente acharão esta comemoração um tanto quanto peculiar, pois o que busca a ciência exata tradicional é exatamente o oposto: a unificação das visões, uma resposta única para os problemas. Nós reconhecemos, após tantas tentativas, que isso é impossível na prática psicológica. Quem nunca ouviu durante a graduação, da boca de pelo menos um professor na faculdade de psicologia, que "não há receita de bolo"?
Ponto para nós!
É bom sabermos que nossos órgãos
representativos consideram a multiplicidade como uma vantagem e não um
obstáculo. Nesse contexto, alguns veículos da mídia psi também tem
colaborado ao reservar espaços para diversas abordagens. Entre elas,
está a psicoterapia existencial, esta ilustre desconhecida das
universidades, das instituições e da prática da psicologia (clínica,
hospitalar, escolar, organizacional etc.), pois todos sabem que ela
existe (como diz seu próprio nome) mas nem todos sabem o que realmente
é. Se não a considerarmos desconhecida, que seja ao menos "marginal" (no
sentido de dificilmente ocupar o centro dos estudos, estando sempre à
margem). Não se trata de uma disputa, mas de uma opção para aqueles
profissionais que não se identificam com as linhas teóricas mais
comumente difundidas.
Origem filosófica
No senso comum o termo "existencial" pode
tanto remeter a autores de indiscutível conhecimento e experiência a
respeito dos dramas humanos (psicólogos, filósofos ou literários) quanto
à imagem de psicólogos mórbidos, ateístas ou irresponsáveis, que cometem
atrocidades em nome do "existencialismo". Também já ouvi que a expressão
representaria um profissional de rigor extremo ao exercer suas funções.
Seja qual for a nossa maior fama, a suposta
irresponsabilidade dos existencialistas é, na verdade, um grande e sério
pré-conceito, talvez o maior de todos. É preciso que saibamos que há
bons e maus profissionais em todas as abordagens teóricas da psicologia
e em todo e qualquer ramo da sociedade.
Porém, pela escassez de informação séria em
relação à psicoterapia existencial, fica muito mais fácil justificar
práticas no mínimo questionáveis e irresponsabilidades profissionais em
nome de algo que poucos conhecem. É claro que este fato ocorre também em
outras áreas mas é muito mais difícil discernir aqueles que estão
coerentes com o pensamento existencial do que em relação às outras
vertentes teóricas mais difundidas.
O momento presente, no entanto, parece
demonstrar que essa realidade está mudando, graças à oportunidade
oferecida aos existenciais de mostrarem sua integridade profissional,
mesmo não sendo herdeiros diretos das abordagens mais tradicionalmente
conhecidas dentro da psicologia, como a psicanálise e a psicologia
comportamental, por exemplo.
O grande incômodo (e este é o diferencial)
parece ser o impacto causado pela afirmação de que o Homem é um ser de
possibilidades, um ser livre que não está necessariamente sujeito aos
determinismos, sejam eles psíquicos ou ambientais. Isso muda tudo: a
postura do psicoterapeuta, sua atuação, sua visão clínica e milhares de
outras peculiaridades que precisariam ser expostas ponto por ponto do
setting terapêutico.
As referências de estudo para a psicoterapia existencial são, portanto, bastante abrangentes e mais ligadas à Filosofia que à Psicologia. Este ponto talvez seja ao mesmo tempo a vantagem e o calcanhar de Aquiles da abordagem, pois sem a devida profundidade filosófica, o pensamento existencial pode se tornar um laisse-faire ("deixa-fazer" de qualquer jeito).
Em relação à psicologia de modo geral, não
se trata apenas de adicionar, ou seja, de conhecer mais a respeito, mas
também de re-conhecer o que já existe. Há influências existenciais em
boa parte do que temos hoje sem que saibamos. É perceptível em outras
abordagens teóricas mais recentes, como a Abordagem Centrada na Pessoa e
a Gestalt-Terapia uma forte influência do pensamento fenomenológico e
existencial, seja em seus pressupostos, seja na referência de atuação
prática das linhas humanistas em geral, que defendem uma participação
menos ortodoxa do psicoterapeuta.
Luta antimanicomial
Um forte exemplo desta influência seria a
tão aplaudida luta antimanicomial que, em meados dos anos 60, já tinha
início na psiquiatria pela voz de R. D. Laing e D. G. Cooper, que,
baseando-se no pensamento de Sartre, fundaram a antipsiquiatria:
questionaram toda a base da psiquiatria tradicional, seus diagnósticos,
seus métodos e, inclusive, a medicação utilizada. Pregaram um tratamento
mais humano aos pacientes psiquiátricos, já que não se fazia muito mais
do que dopá-los e trancafiá-los para que não perturbassem ninguém
(prática que tentamos combater até hoje).
Não diferem muito entre si as duas lutas. É claro que Laing e Cooper não estão diretamente ligados ao movimento tão atual e politizado que temos hoje no Brasil. Este movimento que já alcançou tantas
vitórias que, em princípio pareciam (e talvez fossem mesmo) muito
distantes de se concretizarem, configura-se hoje como um movimento
multiteórico, ou seja, não é necessária apegar-se a uma linha teórica ou
abordagem específica para aderir a ele.
Podemos, como classe, nos dar o exemplo
desta luta, que abriga profissionais unidos pela humanização
independente de seus pensamentos e crenças, sem se importar como cada um
configura seu setting terapêutico, acreditando fazê-lo da forma mais
adequada possível para ajudar na diminuição do sofrimento alheio de
maneira eficaz.
Nada disso interessa quando lutamos pelo fim
de atrocidades que tanto perturbam. E isso é, sem a menor sombra de
dúvida, um olhar atento e uma valorização da existência humana.
As influências não param por aí.
Dentro ou fora dos movimentos sociais, os
ecos da existência continuam.
E a luta pelo direito à diferença também.
André Roberto Ribeiro Torres
CRP: 06/65432
Clínica Maria Monteiro
R. Maria Monteiro, 608 - Cambuí
Campinas - SP
F: (19) 3255-7048 / 3251-3493
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