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Amor
Virtual
Por: Sirley Santos M. Bittú
A cada dia a humanidade descobre uma nova forma de se relacionar,
somos sedentos de relação, nos relacionamos para nos desenvolver emocionalmente
e para sobreviver. O ser humano só adoece.
É a busca de completude, de compartilhar, de ser entendido, ouvir, aprender,
desenvolver-se que faz o movimento das relações. Mas para relacionar-se é
preciso vencer o medo, medo de não agradar, medo de não ter assunto, medo de não
ser atraente, medo de não ser inteligente, medo de se envolver, medo de amar,
medo de se machucar, medo de não ser correspondido, medo simplesmente de não ser
aceito, medo da violência, medo da humanidade... medo.
A sociedade tem medo. Assaltos, sequestros, abusos sexuais e assassinatos, são
as manchetes de todos os dias. A sensação de desproteção e fragilidade invade
nossas vidas e vai fechando as pessoas em suas casas, em sua vida pessoal, em
sua cada vez mais escassa e seleta rede de relacionamentos. Solidão se confunde
com proteção e algumas vezes é sinônimo de clausura. O solitário é aquele que
escolhe a solidão, não importa o motivo, para ele a solidão é uma opção, é
diferente daquele que se sente só, ser só traz consigo a sensação de abandono e
de não ser importante, não fazer falta. O solitário abandona o mundo e o só
sente que nunca foi acolhido. Na verdade são faces da mesma moeda.
Dentro deste cenário surge nossa querida e ágil Internet. Em instantes podemos
falar, trocar idéias e conhecer pessoas, supostamente protegidos pela tela de
nossa máquina. Resgata-se quase como mágica a possibilidade de relacionar-se sem
medo, e aí a imaginação toma conta. Como em um conto de fadas, no mundo virtual,
tudo pode, alguns chegam a mentir sobre quem são ou como são, mandando fotos
provavelmente de como gostariam de ser, talvez mais altos, mais magros, mais
belos, mais ricos, mais sábios... na verdade criam suas imagens idealizadas e
perfeitas. Será que voltamos aos namoros por cartas de décadas atrás?
Criar um mundo imaginário é muito fácil desta forma. Pessoas se conhecem,
namoram e até fazem sexo virtualmente. O objetivo aqui não é recriminar esta
prática, acredito que como forma de relação humana ela pode ser positiva ou
negativa, depende de como e porque é usada. A Internet é uma excelente
ferramenta de pesquisa, e como tal pode ser útil até mesmo no campo dos
relacionamentos pessoais e afetivos, facilitando o acesso a alguém que você
dificilmente conheceria de forma convencional, ou mesmo demoraria mais para
conhecer. O problema começa quando esta prática substitui por completo o
relacionamento “ao vivo e a cores, com direito a percepções e sensações”,
tornando-se uma forma de se esconder, ou de não lidar com as próprias
inseguranças.
É possível Amar virtualmente?
Acredito que apaixonar-se sim, amar talvez seja mais difícil. Amar implica em
conhecer o outro, em aceitá-lo e ser aceito, com todas as qualidade e defeitos,
o “pacote completo”.
O ser humano é mais do que suas palavras, ele é também atitude, tom de voz,
ritmo, expressão, espontaneidade e criatividade interagindo dinâmicamente. O que
falta nas relações virtuais é o mesmo que faltava nos relacionamento por carta e
nos “amores platônicos”, falta o “olho no olho” e a fala articulada com a
expressão de todo o corpo que concede a credibilidade àquele que escutamos. E
falta principalmente o toque, como expressão de carinho e fonte de prazer, isso
não será jamais substituído.
Antes a vida que o medo, não importa o meio de comunicação, importa a relação
que você faz e com quem você se comunica.
Não importa se o outro mente ou não, importa o quanto você deseja ouvir aquelas
mentiras...
Não importa a realidade em que você vive, mas a ilusão da qual você não quer
participar...
Ensaie à vontade pela Internet, mas tente, ouse, se proponha a vencer suas
dificuldades de relacionar-se, sua timidez e procure relações ao alcance de suas
mãos e de seus olhos.
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