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Como
Educar nos Dias de Hoje
Por: Sirley Santos M. Bittú
Educar é um assunto corrente em consultório de psicologia. A
necessidade de colocar limites é sempre muito questionada, tanto pelos filhos
como entre os novos e dedicados pais. Muitas pessoas viveram em sua própria
educação a experiência de duros limites, constituídos em regras e proibições.
Autoridade era misturada com Autoritarismo, a sabedoria da maturidade era
confundida com verdade absoluta. Exigia-se da criança, do adolescente e mesmo
dos adultos, total submissão e resignação; ser uma criança boazinha era sinônimo
de atender as regras, jamais ser espontânea e nunca criar ou questionar algo; a
liberdade em expressar suas idéias e pontos de vista confundia-se com
enfrentamento e desrespeito aos “mais velhos”.
É claro que esse modelo de educação trouxe muitos problemas e resultou em muitos
adultos inseguros e até mesmo revoltados. Neste quadro surge uma postura
defendida pelos psicólogos e estudantes do comportamento humano que talvez não
tenha sido suficientemente entendida. A proposta era possibilitar a livre
expressão dos potenciais e da espontaneidade infantil, como até hoje defendemos.
Respeitar a criança em seus desejos e necessidades esperadas para a idade, por
exemplo, a curiosidade perante o novo, a inesgotável energia de vida, sua
necessidade de brindar para entender o mundo e etc... Mas para alguns pais essa
proposta foi confundida com a total permissividade, a educação do “tudo pode”,
perdendo o entendimento da palavra não, do limite e do respeito.
Nascemos totalmente espontâneos e criativos e com o decorrer do desenvolvimento
através da educação aprendemos como usar nossos potenciais adequadamente, ou
seja, respeitando as regras para viver socialmente. É também neste processo que
aprendemos a acreditar ou não nesses potenciais. Nossas atitudes e
comportamentos são o tempo todo avaliados e confirmados ou não, pelas pessoas
com quem nos relacionamos e principalmente pelos nossos pais. É desta aprovação
que surge a sensação de segurança interna que todos possuímos em maior ou menor
quantidade, e também nossa auto-estima. É claro que para os pais não é uma
tarefa fácil, pois implica em ter uma noção clara do que é ser adequado, o que
depende de sua maturidade emocional.
Há 40 anos atrás questionar uma ordem paterna, por mais absurda que ela fosse
era praticamente um crime, castigável sem sombra de dúvida, com diversas formas
de agressão tanto físicas como emocionais. Hoje em dia o questionamento já
começa a ser entendido como algo positivo, pois ao trazer questionamentos novos
a questões antigas aumentam-se as possibilidades de criar e descobrem-se novas
formas de existir. O conhecimento deixa de ser percebido como uma “conserva
cultural” e passa a ser percebido como algo dinâmico e em constante
transformação e renovação.
Mas como oferecer liberdade sem tornar a sociedade um caos?
Introduzindo as noções de responsabilidade e respeito. Quando falamos em
liberdade, falamos em respeito ao outro e em respeito a si mesmo, caso contrário
estamos falando em invasão, e em desrespeito. Para convivermos em sociedade
precisamos de algo que nos auxilie a lidar com as diferenças entre as pessoas,
suas particularidades na sua forma de existir e de entender o mundo, pois apesar
de sermos todos humanos, e similares em nossas necessidades, a forma de
expressar nossos desejos difere de um para o outro, pois se relaciona ao grau de
maturidade de cada um.
É como se todos nós usássemos óculos relacionais, onde as lentes são forjadas
durante a aprendizagem emocional, por crenças, valores e pontos de vista. Isto
se explica por termos potenciais inatos que são influenciados pelo meio social
em qual nos desenvolvemos. Esta delicada alquimia é responsável pelos diferentes
tipos de pessoas em que nos tornamos. Portanto para vivermos socialmente
necessitamos de alguns parâmetros, que se traduzem nas noções de ética,
cidadania, gratidão e senso moral. Desta forma, quando pensamos em educar,
precisamos checar dentro de nós como nos posicionamos em relação a isto e como
esses parâmetros estão sendo exercitados nas relações que desenvolvemos.
A educação se constitui basicamente em aquilo que dizemos, confrontados pelo que
fazemos. Ou seja, se pregamos o respeito mútuo e a honestidade, mas no
dia-a-dia, valorizamos o “esperto”, aquele que sempre se dá bem, estamos sendo
incoerentes e certamente essa incoerência fará parte de nosso rol de
ensinamentos, seja de forma consciente ou inconsciente.
O catalisador necessário ao processo de educação é o amor. Este gera a segurança
interna, a confiança e a respeitabilidade, ingredientes indispensáveis para que
a relação de intimidade necessária num processo de educação possa se
estabelecer. Educar implica em intimidade, e você só ensina algo se é autorizado
pelo outro, com esta autorização que se dá pela confiança que nasce nas relações
onde o amor e a amizade são as palavras de ordem.
Muitos pais se referem frequentemente às dificuldades em colocar limites,
confusos entre cercear demais ou de menos. Esta dificuldade nasce de uma forma
de entender o amor muitas vezes equivocada, onde se confunde limite com abandono
e desamor, e consequentemente amar torna-se sinônimo de total permissividade,
com a antítese do “nada pode” passando a ser o “pode-se tudo”.
Colocar limites é ensinar que existe a frustração, que apesar de desagradável,
faz parte do mudo real, ao vivo e a cores. O limite nos ajuda a perceber quem
somos, o respeito nos ensina que temos limites e aumenta nossa consciência
pessoal, e a responsabilidade nos ensina que tudo tem seu preço, pois estamos
sempre em relações de troca, colhendo aquilo que semeamos. Oferecendo amor
certamente colheremos alegria e felicidade. Para exercer o papel de educador,
precisamos reavaliar o entendimento do "não", para esta importante palavra não
se transformar numa forma de tirania e sim uma forma de proteção, exercício do
amor e respeito a quem amamos.
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