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Encontro com a Polaridade Complementar
Por: Luís Vasconcellos
Devido ao fato de elegermos algumas características
humanas como pertencentes à nossa noção de EU, tomamos estas formas de ser
uma espécie de ferramenta para todos os usos e necessidades. Nos
identificamos e nos apegamos a elas, passamos a gostar delas, a
admira-las, a defende-las e a estrutura-las fortemente:
Se alguém é decidido, ativo, de vontade forte e de uma autoconfiança
indiscutível, ele se aproxima do ideal defendido pela comunidade local,
que compara a atuação de um homem comum ao “Mito do Herói”; ou seja,
diante dos olhares dos outros, ele pode:
- ter dúvidas,
- vacilar,
- parecer fraco,
- demorar a tomar decisões,
- mudar de rumo de repente ou ainda,
- mostrar-se sentimental ou emotivo demais?
É claro que não!!! Estas facetas humanas são incompatíveis com a definição
popular de um herói.
Erroneamente acredita-se que estas são características que qualquer herói
que se preze deve evitar por todos os modos.
Elas encontram-se hoje disseminadas, historicamente, entre homens e, mais
modernamente, inclusive entre as mulheres que, por condicionamento
familiar e social, sempre foram forçadas a se identificar com a polaridade
oposta ao do “herói masculino”.
Continuando... Naturalmente, estas facetas são, por todos os modos,
afastadas da noção de EU e vão parar em algum outro lugar que não a
Personalidade consciente. São banidas do terreno pessoal. Reprime-se a
Polaridade Feminina e suas qualidades de doçura, pureza e sentimento...
Imagine-se em uma situação parecida, pense comigo e faça a seguinte
pergunta: Se foram banidas da Personalidade, mas pertencem ao todo das
possibilidades humanas e se, todavia não desaparecerão pelo esforço de
reprimi-las, para onde elas irão?
A resposta é a criação, no “herói” em questão, de uma espécie de pasta na
lixeira do seu Ser, que poderia se chamar “nunca usar”, ou “nada tem a ver
comigo”, ou ainda ”reprimir a qualquer custo”.
O nome técnico para esta “pasta”, em Psicologia, é “Sombra Pessoal”.
O herói ficará carente das características que reprimiu (para a sua Sombra
Pessoal) e poderá cometer muitos erros em função de nunca usar tais
FERRAMENTAS DE SER. Por exemplo, ele poderá querer agir impacientemente,
em hora e situação errada, quando a melhor opção seria a de ficar
“quietinho em seu canto”, esperando a hora certa de agir - nem antes nem
depois.
Neste exemplo tão corriqueiro, nosso assim denominado “herói” comete erros
por carregar um desequilíbrio interno (de Polaridades) e ele se MOSTRA
através de:
- não ter paciência,
- não saber se adaptar a uma situação de impotência diante dos fatos,
- não saber ouvir, ou ainda,
- achar que é o único responsável direto por tudo que acontece (não sabe o
que é perdão).
E isto tudo pelo simples fato de ter reprimido, em si mesmo, qualidades
humanas que são, em si mesmas, legítimas e eficazes na adaptação madura,
de homens e mulheres, ao vivido.
Lá no fundo de sua Alma ele reconhece o fato de que precisa
terminantemente e visceralmente destas mesmíssimas características, para
atingir um mínimo de equilíbrio em sua vida, para ser mais feliz, completo
e eficiente...
Então o herói passa a procurar isso de que se tornou carente e o faz (é
claro!) apenas no mundo exterior.
E o mais interessante é que o “herói” pode encontrar o que procura, já que
o Universo garantiu que OUTRAS pessoas possam, ou mesmo devam, se
identificar com as partes negadas na Personalidade do “Herói”.
Por obra e graça do destino, outra pessoa pode ter incorporado, em sua
noção de EU, justamente as características que ele negou e pode tê-lo
feito, igualmente, em função da sua experiência de vida.
Com sorte pode acontecer isso em alguém do sexo oposto ao do herói e que
se verá identificada com a passividade, com a obediência aos reclamos do
tempo e do destino.
Esta pessoa terá, reprimidas em sua Sombra Pessoal, exatamente as
qualidades que o “herói” exerce explicitamente e assim, este encontro
mágico, entre Polaridades Complementares, será seguido por uma revoada de
fogos celestiais celebrando o encontro cósmico do UM LADO com o OUTRO
LADO.
Concluindo: Se a vida e os desafios do herói o levam a um estilo de ser e
de viver, naturalmente se cria a necessidade e a carência de alguém que
incorpore tudo aquilo que, nele, foi relegado a um segundo plano. Nascem,
portanto, as díades de papéis complementares onde:
- Se alguém muito fala, alguém muito ouve.
- Se alguém sempre faz, alguém nunca age.
- Se alguém sempre decide, alguém apenas segue as decisões tomadas.
- Se alguém comanda, alguém se conforma.
- A Psicologia do Mestre (que escolhe, que decide) é sempre mais exigente
e cheia de responsabilidades do que a Psicologia do discípulo (que se
submete e que não tem poder pessoal).
- As mulheres, historicamente, conhecem bem este fardo do “destino” de ser
mulher.
Estas díades de papéis humanos complementares apresentam-se em quase todo
casal que se preze e costumam ser bastante estáveis devido à
interdependência de papéis complementares.
CONTUDO, A ESPECIALIZAÇÃO EM UM ÚNICO TIPO DE DESEMPENHO DE “PAPEL” OU
“PERSONAGEM SOCIAL”, REPRIME A EXPERIÊNCIA INDIVIDUAL DA COMPLETITUDE EM
SI MESMO.
Ninguém duvida que alguém decidido e voluntarioso necessite de alguém que
sempre espere dos outros uma decisão... Do mesmo modo, alguém cheio de
confiança é seguido de perto por um (ou muitos) inseguro(s).
Homens “ativos e decididos” buscam mulheres “submissas e conformadas”.
Mulheres “ativas e cheias de confiança” costumam atrair homens “femininos
e dependentes”.
Lá do alto, o Universo assiste à cena e verifica que o infalível MECANISMO
DAS POLARIDADES mais uma vez funcionou maravilhosamente bem. E isso nada
tem a ver com o sexo dos envolvidos, nada tem a ver com a definição por
uma hetero ou homo-sexualidade, pois mesmo nos casais homossexuais podemos
identificar claramente a presença marcante da díade de Polaridades
Complementares.
O fato é que:
Duas METADES COMPLEMENTARES, quando se ENCONTRAM, identificam, cada
qual, no OUTRO, a possibilidade de resgatar a ORIGINAL PLENITUDE PERDIDA.
O crescimento Individual só ocorre quando somos capazes de REINCORPORAR à
Personalidade as qualidades humanas que um dia possuímos, mas que se
encontram há muito tempo banidas de nossa identificação pessoal e,
portanto, excluídas de nossa noção de EU.
Quando esta reincorporação ocorre - por exemplo, de modo assistido na
terapia de casais - nota-se a existência real do respeito e da compreensão
de alguém para com os pontos de vista, valores; modos de ser, pensar ou
agir do “companheiro de jornada”.
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