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Você
tem Medo da Paixão
Por: Sirley Santos M. Bittú
A paixão é comparada ao fogo: intensa, forte, quente, envolvente
e extremamente sedutora. Não manda aviso que está chegando nem pede licença para
entrar em sua vida.
Algumas pessoas temem a paixão pelo movimento de entrega que ela implica. Paixão
é envolvimento, o apaixonado mistura-se ao outro e às próprias expectativas em
relação ao outro.
Usamos o termo “cegos de paixão”, porque realmente esta “dança” parece algo
cega, não “enxergamos” o outro como se houvesse entre nós uma cortina de fumaça
composta por nossas ilusões, fantasias e desejos. Na paixão enxergamos apenas o
que queremos ver, nossas necessidades, nossa completude.
E o que isso significa? É ruim a paixão? Saúde ou loucura?
Toda cegueira traz consigo a escuridão e a insegurança. O sentimento de
segurança não se desenvolve a partir de nossos olhos, mas dentro de nós. O que
nos protege contra o medo é nossa certeza de poder superá-lo. A paixão é uma
forma de envolvimento emocional; o que possibilita o permitir-se apaixonar é a
sensação de individualidade; quando sabemos quem somos e o que desejamos, a
paixão chega como um movimento que acrescenta e nos transforma, mas, quando
estamos perdidos dentro de nós, frágeis e imaturos, a paixão torna-se perigosa e
viciante, nascem as relações doentias onde o outro passa a ser a parte que
necessitamos insanamente.
A maturidade emocional traz segurança e parâmetro para nos lançarmos na paixão.
Isto não significa “medir” o quanto se entregar, ou envolver-se de forma
moderada tentando evitar um possível sofrimento, pelo contrário, significa ter
internamente a certeza que existe um “eu” que está se apaixonando, capaz de se
defender e que não “desintegrará” com uma frustração, sofrerá sim, caso se
decepcione ou não for correspondido, mas certamente sairá renovado e fortalecido
dessa experiência.
A paixão é um movimento intenso onde reina a emoção e onde a razão de nada ou
pouco interfere. Como todos os “movimentos” humanos, pode ser positiva, à medida
que possibilita crescimento e transformação, ou negativa à medida que torna o
indivíduo alienado e dependente emocionalmente.
O ser humano necessita amar e ser amado para se desenvolver. Existem várias
formas de amar, acredito que o amor é um sentimento que conquistamos, implica em
carinho, ternura, gratidão, companheirismo, desejo, amizade, aceitação, e muitas
outras coisas, mas, principalmente implica em conhecer o outro.
É comum as pessoas se apaixonarem por alguém que conhecem muito pouco,
simplesmente, porque a paixão vem de outra esfera, a esfera da ilusão, tão
necessária para nossa vida. Com o decorrer da relação, e ao passo que as pessoas
vão se conhecendo melhor, suas qualidades e desejos, suas particularidades, ela
vai naturalmente tomando novas formas podendo se transformar em amor, amizade,
ternura ou - nas piores hipóteses - em relações doentias, onde reinam outros
sentimentos como raiva, posse, inveja, mágoa e ressentimento.
Muitas vezes nos relacionamos buscando no outro o que não temos, ou o que
pensamos que não temos. Nas relações patológicas o outro passa a desempenhar o
papel ou a função na qual temos dificuldade. Por exemplo, se não sabemos nos
defender, colocamos o outro como nosso defensor ao assumirmos a posição de
vítimas, enquanto poderíamos usá-lo como modelo, aprendendo com ele a nos “autoproteger”,
a sermos mais seguros e assertivos em nossos desejos e responsáveis por nossas
atitudes.
O caminho que cada relação vai tomar, dependerá da saúde emocional de cada um
dos envolvidos. Devemos cuidar de nossa saúde emocional da mesma forma que
cuidamos de nossa saúde física, pois ela interfere em todas as relações que
fazemos, sejam pessoais ou profissionais e em nossa busca de viver de forma
prazerosa e feliz.
Em síntese: Paixão é vida, é arriscar, é ousar, é envolver-se, é sentir e não
apenas pensar. Aprendemos com a experiência a avaliar a relação custo/benefício
de nossos atos, mas também aprendemos que a vida não pode ser conduzida pelo
medo, pois é preciosa demais para ser desperdiçada.
Então... você ainda tem medo da paixão?
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