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O
Pai, a Filha e o Pseudo-pretendente
Por: Luís Vasconcellos
Apelido: |
Sonhadora |
Idade: |
45 |
Estado Civil: |
Casada |
Sexo: |
Feminino |
Filhos: |
Um – com idade de 6
anos |
Profissão: |
Analista de sistemas |
Formação: |
superior completo |
. |
Descrição do sonho:
Eu estava chegando de carro (meu carro) em um pátio de
estacionamento grande, que me parecia ser de um supermercado, de
dia. Estava bem vazio, e eu iria estacionar meu carro lá para
esperar meu pai que viria me encontrar para juntos irmos à casa dele
em Angra dos Reis. Quando olhei para o lado onde estaria o suposto
supermercado, vi uma pessoa (Sydney) (com quem mantenho uma amizade
estreita e um relacionamento que já chegou a ser íntimo), sentado,
lendo um jornal ao lado de uma piscina. No sonho eu sabia que se
tratava do sítio dele em Goiás (o sítio ainda não existe, mas está
em construção e ele havia me dito isso um dia antes e me mostrado
umas fotos do local, que por sinal não tem piscina, mas sim um
lago).
{me senti feliz em vê-lo, e ao mesmo tempo achei melhor não falar
com ele por estar com meu pai (não se conhecem), e porque sentia que
ele não gostaria de falar comigo naquele momento}
comecei a olhar o lugar, ja fora do carro, mas sempre olhava para o
Sydney, procurando ver se estava ainda lá, e se havia me visto.
Neste momento comecei a olhar um canto onde havia coisas , objetos
(não me lembro quais, mas acho que eram sucatas), e por ali fiquei
durante um tempo, encontrei meu filho (ele tem 6 anos), mas não me
lembro de ter falado com ele, apenas disse que iríamos a Angra dos
Reis. Depois disso, resolvi chamar a atenção do meu pai para o tal
amigo. Falei pra ele "que aquela pessoa era um amigo meu, que eu ja
havia falado dele, que era o sujeito que um dia teria me perguntado
sobre casas pra alugar em Angra, que ja havia morado na Rússia (meu
pai fala russo e gosta muito da Rússia) e sentia que ele gostaria
que eu apresentasse meu amigo. Andamos até perto da piscina, onde
apresentei meu pai ao meu amigo, conversaram um pouco em russo (não
entendo o idioma), e meu pai comentou comigo que ele (Sydney) falava
muito bem o russo. Nesta hora reparei que meu pai usava um chapéu
tipicamente russo, e Sydney comentou comigo: nossa ele não parece
ser brasileiro, fala bem o idioma e tem cara de russo. Depois disso
fomos (os três) para frente de umas vitrines (não me lembro o que
havia lá), e de lá saímos, eu e Sydney, de mãos dadas , embora com
medo de sermos "descobertos"...
{me sentia feliz de estar com ele, mas tinha medo de ser vista num
momento de maior intimidade com essa pessoa.}
Enquanto meu pai continuava no lugar das vitrines, eu e Sydney
passeávamos a pé por lá, “escondendo", ou tentando esconder o fato
de estarmos de mãos dadas. Neste momento percebi que ele usava um
brinco (como uma pequena bolinha) na orelha esquerda, o que me
causou espanto, e perguntei porque havia colocado aquilo, e ele
respondeu que achava legal, diferente... Foi quando abriu uns botões
de sua própria camisa e me mostrou a região entre seu ombro e seu
peito: estava forrada de brincos iguais ao da orelha, assim como
cravejado (havia centenas deles) no peito, todos prateados. Achei
muito estranho, falei pra ele que era estranho, e que nunca tinha
visto alguém usar isso! Ele não comentou nada e seguimos caminhando.
{Nada especial, apenas a estranheza do fato e ainda o medo de ser
pega com ele ali, de mãos dadas caminhando...( ele tb é uma pessoa
casada) }
caminhamos até que eu perguntei para onde estávamos indo, e ele
disse que gostaria de estar mais intimamente comigo, em algum lugar
mais discreto, e eu sugeri que fossemos até a empresa em que eu
trabalho e que seria próxima dali. Ele sugeriu que fossemos até uma
igreja (!) próxima, mas eu nao via nenhuma. Acabamos tendo que
descer um barranco imenso, coberto por tábuas. A gente ia descendo e
eu sentia que aquilo era muito perigoso, pois estava com partes
estragadas, despregadas e poderíamos cair de uma altura enorme.
Conseguimos chegar no final dessa descida com ajuda de um homem
desconhecido, que cobrava (pouco) pelo acesso a esse local. Qdo
chegamos la embaixo, havia algo como uma parede, na verdade esse
lugar não chegava a nenhum outro lugar. Lá, deitamos e nos
abraçamos, e nos beijamos e senti que dali pra frente, devido o
clima, partiríamos para uma relação sexual, que na verdade não
chegou a acontecer de forma completa, apenas parcialmente.
{me sentia muito bem, ja sem medo, mas achava que aquele lugar era
demais público pra tanta intimidade. Senti que queria ficar ali,
estava bom, mas sabia que tinha que voltar, pois meu pai me
esperava. }
Depois disso só me lembro que ficamos por mais tempo ali, e eu
procurava olhar nas paredes dessa descida, se via alguém nas janelas
ou coisa assim. Estava extremamente feliz, mas sentindo que gostaria
de estar num lugar mais apropriado, e não queria voltar. O sonho
acabou assim. |
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Identifique os personagens que participaram do sonho:
meu pai e outras pessoas desconhecidas que passavam pelo local |
. |
Destes
persongens, quais são conhecidos? Como vai a relação pessoal:
pai: tenho uma relaçao distante, com pouca intimidade e nenhuma
afetividade, tivemos uma relacao de amizade muito estreita e com
intimidade. Hoje estamos um pouco afastados, por vontade dele (ele
se sente culpado) |
. |
Descreva o momento ou fase que está vivendo:
Estou numa fase de questionamento na vida, mas em geral muito calma,
passiva. Me realizo como mae, amo meu filho e sei que meu casamento
está numa fase "muito fria", embora tenhamos muito respeito um pelo
outro. Nos gostamos, mas ambos achamos que poderíamos nos abrir mais
e ter mais amizade dentro do casamento. Profissionalmente: nao
trabalho com o que gosto, o trabalho nao me realiza nem um pouco,
mas é uma excelente fonte de renda, porisso nao abro mao. |
. |
Com que
aspectos da sua vida atual este sonho pode estar relacionado?
Com estar triste pelo afastamento do pai, sem entender ao certo seus
sentimentos. |
Comunicação do
psicólogo para o sonhador: |
22/06/2001 |
Este é um
sonho bastante significativo da situação que vc. está vivendo. Na
sua vida vc. chegou a um ponto de se questionar se ela está fazendo
sentido ou não. Vc. sente um
vazio existencial, uma falta de sentido, carência sexual e afetiva,
sente que há algo que precisa ser preenchido mas não sabe bem o
quê: Seu casamento está morno, seu trabalho não lhe traz
realização, só dinheiro, e assim tudo vira uma espécie de rotina sem
um sentido maior. O que pode servir de contraponto é a relação
mãe/filho traduzindo um vínculo afetivo, porém, no sonho, vc. está
mais ocupada em “namorar” do que em relacionar-se com o filho.
Vamos entender o sentido da presença do seu pai colocando os
personagens deste sonho em uma cena arquetípica: ele faz o papel do
rei e vc. faz o papel da princesa, assim como o Sydney faz o papel
do príncipe em uma história. Então, vejamos: A princesa está
passeando pelo reino do seu pai, o rei, esperando por ele para ir
para outro lugar no reino. Ela depende da proteção dele, está sob o
seu poder e depende de sua autorização ou apoio para tudo, ou seja
esta princesa é bem submissa e dependente, parecendo até conformada
com o poder absoluto do rei.
Será que ela só pensa e só faz o que acha que seria adequado aos
olhos do rei? Não, a princesa faz coisas escondidas (condenáveis
aos olhos dele), portanto não é tão submissa assim, porém faz
“coisas erradas ou proibidas” desde que ninguém venha a descobrir o
que ela fez. Isto ocorre porque ela é imatura, não demonstra ter um
senso de valores próprio e se preocupa em excesso com o que aparece
ou aparenta aos “olhos dos outros.”
Ela não tem em Sydney um autêntico príncipe (que teria o poder e
a força suficientes para conduzi-la para uma vida longe do pai).
Não! pois Sydney inclusive é casado (e usa umas jóias que lhe causam
estranheza, pois não se encaixam na sua idealização de um modelo
masculino).
Então, neste sonho, vc. se defronta, por um lado, com a sua
imaturidade e dependência das “bases familiares” e, por outro lado,
com um envolvimento que não serve para muita coisa, com um príncipe
que não sabe nem pra onde está indo, que está em um sitio que vc. só
conhece de ouvir falar, que está em uma piscina que na verdade é só
um idéia (que não inclui vc. pois ele é casado, lá no reino dele) e
vc. quer, por assim dizer apresenta-lo ao seu pai, como se a relação
com ele tivesse algum “futuro” (relacionamento dentro da família,
amizade com o seu pai etc.). Aí, no sonho, vc. se esforça por forçar
um vínculo (irreal) entre este pseudo príncipe e o rei, seu pai,
(ele ia comprar casa em Angra, ele fala russo etc.) e depois fica
alheia e não entendendo nada quando eles falam russo e eles até
parecem russos em uma espécie de “cumplicidade entre homens”! Ora,
veja a sua situação, de completa estranheza e abandono em alguma
situação irreal na qual vc. mesma se colocou, tendo um
relacionamento íntimo, mas não muito, com este
amigo/amante/príncipe. As lendas, contos de fadas e mitos são
representações de situações reais vividas por todos nós, mas é
preciso saber tirar delas o sentido e o valor da sua mensagem: a
moral da história...
O que posso dizer é que nas lendas a princesa chega ao seu
amadurecimento e então o rei e a rainha criam uma situação para que
ela saia e vá formar seu próprio reino em algum outro lugar mediante
uma ligação “insuspeita” com um príncipe eleito (geralmente após ele
vencer em alguma prova ou desafio).e nada destes aspectos aparece em
seu sonho. Vc. já está casada mas o marido nem aparece no sonho,
sabemos que há um filho mas vc. nem se relaciona direito com ele,
porque seu foco de atenção/necessidade/carência se dá em outra área,
a do namoro, do noivado, do sexo por envolvimento. Isto traduz uma
situação de indefinições na qual vc., de fato, vive: Não saiu ainda
do reino do pai/rei. Vc. já mora em outra casa, com outro homem,
mas está psiquicamente presa à família de origem. Tanto é que se
importa demais com o que ele pensa ou com a maneira de obter sua
aprovação para deslizes seus (que vc. espera manter ocultos aos
olhos dele e de todos). Mas isto não soluciona o seu problema
moral, a sua necessidade de sentir-se bem em seu próprio reino (todo
o sonho ocorre em área pública e/ou indeterminada / obscura / que
está toda desmontando / demolindo / insegura). Não se encontra na
companhia de um homem que seja realmente um príncipe-companheiro,
que a ame e lhe dê proteção e sustento. Seu casamento não lhe dá
isso, seu trabalho está sem um sentido e falta um “motivo” que
norteie sua atividade. Vc. se sente perdida, em emio a uma crise de
valores e sem ter em que apoiar-se, ao mesmo tempo em que tenta
construir algo em cima de “palha e areia” (sem chances de sucesso e
sem solidez: com as madeiras caindo e ficando tudo aos destroços,
sucateado e aos pedaços, sem um caminho definido) pois assim foi o
seu “affair” com o Sydney.
Se vc. se sentisse segura na relação com o marido não se
aventuraria em procurar soluções para as suas carências fora do
casamento e, se isto aconteceu, vc. tem que se examinar e sair da
sua passividade e acomodação. Isto é um claro sinal de um ESTADO
DEPRESSIVO: não ter mais sonhos ou envolvimento com o seu mundo de
fantasia. Onde anda a sua esperança de ser feliz? Desistiu?
Acomodou-se a um casamento sem graça? Está se submetendo a um
casamento de conveniência? Este sonho está respondendo com um SIM a
todas estas perguntas.
Se o seu marido não foi um príncipe pra vc. muito menos o Sydney
está sendo e vc. se vê só e sem apoio no mundo, procurando isso no
pai/rei porém sabendo que não é mais possível, que isso já terminou
e não há mais como acreditar em atalhos ou caminhos obscuros pois
eles não oferecem bases seguras diante da necessidade de
amadurecimento e de individuação.
Na sua vida, nesta idade, vc. pode ter que tomar decisões, fazer
escolhas, sair da passividade e se propor como ser consciente, capaz
de responsabilidade e de amadurecimento. Um ser capaz de errar mas
também capaz de aprender com seus erros.
Não se esqueça que para que apareça um príncipe na vida real de
uma mulher ela precisa ter feito a parte dela, ela tem que sonha-lo,
imagina-lo, deseja-lo e confiar, confiar muito na possibilidade de
que a natureza (ou a vontade divina) faça o resto, colaborando para
que tudo fique bem. Vc. parece acomodada a uma situação que não lhe
serve e isso parece acompanha-la desde há muito tempo atrás, desde a
sua vida em família (no passado), da qual vc. não conseguiu ainda
desvencilhar-se completamente e à qual mostra-se ainda presa e sem
alternativas. Deste modo vc. só vai repetir o passado e poderá
acabar insatisfeita ou vivendo uma vida sem sentido ou rumo aos seus
olhos, o que constitui o único ponto de vista que verdadeiramente
conta. |
Comunicação do
sonhador para o psicólogo: |
22/06/2001 |
Te agradeço pela
análise, que me traz de "fora", a verdade que eu ja conhecia aqui
dentro, e que mais do que nunca está bem difícil de ser trabalhada,
mesmo em processo terapêutico, pois ainda nao fui "capaz" de expor
tal situaçao na terapia.
Te agradeço de novo a ajuda, e gostaria de saber se vc. clinica
(em consultório) e como poderia agendar uma consulta com vc.
Moro em SP, capital. Um abraço! |
23/06/2001 |
Oi, Obrigada mais uma
vez pelo carinho da sua atenção.
Obrigada por me mandar o numero de seu telefone.
Com certeza entrarei em contato com sua secretária para assim que
possível agendar uma consulta contigo. Um abraço! |
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