Por: Carlos Antonio Fragoso Guimarães
Um dos principais sinais de retrocesso intelectual que
encontramos invariavelmente em épocas de crise econômico-social é a adesão
de pessoas a vertentes (religiosas ou políticas) que se caracterizam por um
radicalismo severo e uma inflação do sentimento de pertença a um grupo ou
instituição que "assuma" o papel de protetora e detentora da
"VERDADE", não importa que tipo de verdade (cada grupo se auto-intula
detentor esxclusivo da mesma e a percepção desta quase sempre se apoia sobre
um estrado de poder econômico e/ou político): se a dos Adventistas
Norte-Americanos que estavam certos da volta de Cristo em 1844, mas que nem por
ter se concretizaram deixaram de existir e se expandir pelo mundo, ou da racista
Ku-Klux Klan, ou, no Brasil, a da paramilitar católica TFP, que tanto apoio deu
ao golpe militar de 1964, não admitindo mais nenhuma religião além da
católico-romana (da linha da direita, bem entendido, notavelmente distante do
pensamento da Teologia da Libertação de Dom Hélder Câmara, Frei Betto, Dom
José Maria Pires, Leonardo Boff e tantos outros lumiares do pensamento
progressista na Igreja) e ultimamente vem novamente - e, diria, infelizmente -
dado o ar de sua graça, seja por sua direta ressurreição ou em sua
contrapartida atual nos chamados Arautos de Deus, ou em uma versão mais soft de
parte e da Renovação Carismática, de mesma origem norte-americana e
Pentecostal das seitas fundamentalistas evangélicas que alienam ultimamente o
Brasil. 50 anos de esforços por parte de católicos e protestantes - em
especial os luteranos e os anglicanos - no intuito de se conseguir uma
reaproximação das duas correntes religiosas quase foram por água abaixo
quando o Cardeal Joseph Ratzinger, coordenador da "Congreação para a
Defesa da Fé" (atual nome do que restou e se transformou da Inquisição)
publicou um documento chamado Dominus Jesus onde ele sustenta que a única
religião é a católica e as demais, incluindo as igrejas protestantes, seriam
meras usupadoras ou caminhos errôneos. Os exemplos poderiam ser multiplicados.
O fundamentalismo, porém, se entendido como a
radicalização de verdades - destacando as que trazem algum retorno em forma de
poder - não é apanágio exclusivo das religiões. Hoje em dia, diante da
expansão da globalização econômica, fundamentalista também é a visão do
neoliberalismo e da globalização sobre o deus "mercado" a devorar
pessoas, países e instituições, em nome da competitividade e do lucro no
menor tempo possível.
Um dos maiores investidores financeiros do mundo, Geoge
Soros ( que foi durante bom tempo o patrão do ex-presidente do Banco Central do
Brasil da horrível era FHC, Armínio Fraga ) é mesmo franco ao reconhecer em
seu livro "A Crise do Capitalismo" que a última coisa que alguém
pode esperar do mercado é compaixão e solidariedade. Se alguém procura isso
no mercado, vai simplesmente se afligir ao descobrir que errou de endereço. Ele
é mesmo enfático ao afirmar que no mercado o único objetivo é acumular o
máximo possível. Assim, o mercado é uma arena de todos contra todos,
acirrando a competição a graus obsesivos e anormais. No decorrer de seu livro,
ele confirma que a crise do capitalismo (atualmente numa tentativa de ser
encoberta por outros acontecimentos) decorre da visão de mundo econômica
dominante que tranforma tudo, até as coisas que subjetiva e historicamente
sempre foram consideradas "sagradas", em mercadorias ou pretextos para
a obtenção de poder e lucro, sem permitir qualquer possibilidade psicológica
para a gratuidade.
A ganância econômica possui um braço político cada
vez mais visível, ainda que cade vez mais cínico, com irrefutáveis toques
fundamentalistas à Ética Protestante. A direita norte-americana de Bush é bom
exemplo disto. Sua ideologia e planos de ação fica extremamente visível no
seguinte artigo do jornalista Argermiro Ferreira, correspondente internacional,
publicado no jornal Tribuna da Imprensa do Rio de Janeiro, em 25/03/2004:
Dick Cheney e a nova estratégia de
dominação mundial dos EUA
O último ataque do vice-presidente Dick Cheney ao
candidato John Kerry, da oposição democrata, é mais do que mero golpe
eleitoreiro de alguém que fugiu do serviço militar à época do Vietnã (o
próprio Cheney, alegando ter "outras prioridades") contra um herói
militar legítimo - voluntário que lutou na Ásia, voltou com o peito cheio de
medalhas e foi para a rua protestar contra a guerra que considerava um erro
(John Kerry).
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