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CIDADANIA
COMO UM CONCEITO DE TOTALIDADE
Cidadania: expressão em
moda, e usada por todas as correntes de
pensamento, deve ser conceituada
lenvando-se em consideração o contexto
social do qual se está falando, e com
isto, a mesma adquire características
próprias, que diferenciam-se conforme o
tempo, o lugar, e sobretudo as condições
sócio-econômicas existentes.
Enquanto num contexto
desenvolvido, a cidadania é vista com
ênfase nos direitos políticos, num
contexto terceiro-mundista jamais pode ser
pensada fora de uma totalidade que envolve
as questões da autonomia, da democracia e
do desenvolvimento, as quais,
relacionando-se dialeticamente entre si,
definem a cidadania.
Assim, superar a
clássica posição de
"periferia", é imprescindível
para a conquista da autonomia; do
contrário sempre estaremos alinhados
estruturalmente ao "centro
hegemônico",o qual através da
indústria cultural impõe padrões de
consumo, de valores e de ideologia. Aqui,
temos a primeira relação: cidadania diz
respeito a autonomia de uma sociedade, no
sentido de a mesma ter condições de
traçar suas políticas.
A nível interno,
democracia sob o viés político é a
capacidade da sociedade em se organizar e
participar ativamente; sob o viés
sóciopolítico-econômico , é a
consagração dos direitos mínimos do
homem (educação, saúde, habitação
...); sob o viés sócio-cultural, é uma
educação que propicia ao povo definir
seus próprios valores.
Nesta segunda relação,
cidadania é sinônimo de democracia, e
como tal não existe jamais em uma
sociedade cuja participação nas
estruturas política-econômica-social e
cultural, é permitida apenas a uma
minoria, que para exercê-la tem como
condição a exclusão e consequentemente
a marginalização da maioria.
Quanto ao
desenvolvimento, nossas sociedades sofrem
a definição de modelos não apropriados
as mesmas, pois estes são traçados e
ditados de fora. E aqui, temos a terceira
relação: cidadania, por fim, não é
apenas crescimento, mas também
desenvolvimento na dimensão propriamente
social ( o que em nosso caso significa
mudança na organização da desigualdade
social).
Portanto, cidadania como
um conceito de totalidade , deve
significar para nós, no contexto
Latino-Americano ( e sobretudo brasileiro)
uma mudança radical nas relações
econômicas, institucionais, políticas,
culturais, tecnológicas, enfim, uma
mudança no modo de vida, tanto à nível
interno como externo.
Cidadania, é sociedade
autônoma; e, por ser autônoma consegue
escolher um conjundo de políticas
adequadas ao ambiente econômico,
político e social existente, e
estendê-la a todos, por isto é
democrática, e então pode-se dizer que
caminha rumo à modernidade, e está em
desenvolvimento.
Tomando por base C.Castoriadis,
posso afirmar que nossa cidadania só
acontecerá plenamente quando "se
modificarem as estruturas sociais, as
atitudes, a mentalidade, as
significações, os valores e a
organização psíquica (...), e para
isto, um processo educacional que comporte
necessariamente a aceitação do fato de
que as instituições não são, tal como
existem, nem necessárias, nem
contingentes, ou seja, a aceitação do
fato de que não há nem sentido recebido
como dádiva nem garantia do sentido, de
que não há sentido a não ser o que é
criado na e pela história".
Texto
escrito por Holgonsi
Soares Gonçalves Siqueira e publicado no
Jornal "A Razão" – 10.09.1993
e no web site "Pós-Modernidade":
http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/
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